"Eram as economias de uma vida", desabafa vítima que perdeu R$ 424 mil em golpe
Portuário de 42 anos registrou boletim de ocorrência após sofrer prejuízo
Um conferente portuário relatou que foi vítima de um golpe aplicado por um colega de profissão que conhece há 19 anos. “Perdi R$ 424 mil, que eram as economias de uma vida de trabalho”, contou.
O golpista foi identificado como um portuário de 40 anos, e está sendo investigado por aplicar golpes de falsos investimentos na compra de aparelhos eletrônicos que já somam R$ 5 milhões.
Entre as vítimas estavam amigos de longa data do trabalho e dos bairros onde ele morou, em Jardim Camburi, Vitória, e Praia da Costa, Vila Velha. Eles revelam uma rede de mentiras e promessas do suspeito, que usava a confiança das vítimas para pedir as transferências.
Segundo uma vítima, o suspeito revelou que trazia aparelhos de São Paulo e fazia a venda para lojistas de shoppings de toda a Grande Vitória. “Era um negócio grande. Ele mostrou mensagens, tabelas de preços, margem de lucro. Abriu a movimentação bancária dele, que era de R$ 1 milhão em 30 dias”.
A vítima relatou que o suspeito atuava da mesma forma, dizia que recebia encomendas de lojistas, mas que às vezes precisava de capital de giro. Então, para “amigos” que queriam investir, dividia o lucro.
O caso é investigado pela Delegacia Especializada de Crimes de Defraudações e Falsificações.
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Relato
A Tribuna Desde quando o conhece?
Conferente: Ele passou no concurso para trabalhar na área portuária, em 2006. Fizemos todas as provas juntos. Trabalhamos esse tempo todo. Não era uma pessoa desconhecida. Pelo contrário, ainda ocupamos o mesmo cargo.
Ele também sempre teve muitos amigos, presente em festas, eventos sociais, praia.
E esses aparelhos que ele dizia vender, existiam ou era tudo uma mentira?
O que ficamos sabendo é que em 2023 ele vendia mesmo. Teve gente que comprou aparelhos com ele. Mas, depois ele alega ter passado a vender para lojistas, seriam compras maiores.
Ele não enganou tanta gente sem saber o que estava fazendo. Ele conhecia o mercado, valores, margem de lucro. Ele mostrava mensagens de supostos lojistas, tabela de preços. Ele convencia, sempre com a conversa de que precisava de valores para ter capital de giro maior e que dividiria os lucros.
E como chegou até você?
Outro colega de profissão o indicou alegando que estava tratando a saúde da família com o retorno dos recursos aplicados no investimento com os eletrônicos. E então, ao conversar comigo, me ofereceu retorno baseado na revenda legal de produtos Xiaomi e de celulares da marca Apple e até MacBooks.
Ele afirmou que estava em São Paulo para fazer compras e ofereceu para que eu investisse em troca de receber parte dos lucros.
Como estava trazendo dois aparelhos de uso doméstico para mim, me senti na obrigação de ajudá-lo. Mas ele foi me enganando de uma tal forma que, entre o dia 26 de setembro e o dia 2 de outubro, realizei 24 transferências para ele. Ele limpou minhas economias.
Quando percebeu o golpe?
Quatro dias depois. Já comecei a pedir a ele de volta. Falei que não queria o lucro, que eu deixava tudo para ele, mas ele me dizia fazer questão de me entregar.
Eu implorei, mas ele nunca me restituiu nada. Eu não consigo me perdoar por ter confiado dessa maneira. Não foi por ganância, mas por confiar mesmo.
Eu confiava tanto, que fiquei esperando ele em duas ocasiões para me entregar os aparelhos que eu tinha encomendado até tarde da noite. Ele nunca apareceu.
Ele não respondia?
Ele sumiu agora. Andou respondendo, limitou-se apenas a apresentar desculpas. Comecei a documentar todas as conversas, fiz o boletim de ocorrência e representação criminal, então fui descobrindo outras vítimas.
Até hoje me parece inacreditável que isso esteja acontecendo. Já enfrentei crises, tive noites de insônia e cheguei a chorar por várias vezes diante da sensação de impotência.
O que espera agora?
Que ele responda isoladamente por cada crime que cometeu, que suponho serem vários, contra vítimas diferentes e em diferentes períodos.
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