Consórcio do crime troca armas e drogas por proteção para fugitivos no ES
Acordo entre chefões do tráfico local e de outros estados prevê proteção a fugitivos em troca da aquisição de armas e entorpecentes
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Bandidos do Espírito Santo têm feito consórcios com criminosos de outros estados, principalmente com o Comando Vermelho e com o Primeiro Comando da Capital (PCC), nos quais a troca de benefícios significa ter esconderijo e, necessariamente, comprar armas e drogas da facção que os acolheram.
O secretário de Estado da Segurança Pública, coronel Alexandre Ramalho, destaca que essas organizações criminosas de outros locais atuam em todos os estados e em países que fazem fronteira com o Brasil e que o meio de se manterem é com o dinheiro oriundo do tráfico de drogas.
“Não interessa para essas facções estar no Espírito Santo, pois o 'retorno financeiro' é pequeno. Por isso, estão presentes em estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, entre outros”.
Em contrapartida, segundo o secretário, os integrantes dessas facções querem “vender drogas e ter pontos de distribuição de entorpecentes e de armas no Estado”.
Para Alexandre Ramalho, a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que limitou as operações policiais em comunidades do Rio de Janeiro facilitou esses consórcios do crime.
“Os criminosos se sentiram fortalecidos. Funciona assim: 'Te escondo aqui e você vai comprar armas e drogas desta facção'. Esconder um criminoso, para eles, ficou muito mais fácil com as operações limitadas”, afirmou Ramalho.
Ele destaca que a Polícia Militar, Polícia Civil, Corpo de Bombeiros, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Guardas Municipais e a Agência Brasileira de Inteligência trocam informações para combater a ação dos criminosos.
“Mensalmente, há a reunião do Estado Presente, coordenada pelo governador Renato Casagrande. E as inteligências desses órgãos trocam informações entre si”, conta.
Mais de 7 mil presos este ano
O tráfico de drogas ainda é o responsável pela maioria das mortes no Espírito Santo. Em relação aos assassinatos, 58,9% das vítimas de homicídios registrados este ano tinham algum tipo de relacionamento com o tráfico de drogas (uso, comércio, dívida, entre outros), segundo a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp).
De acordo com dados da Sesp, neste ano, foram detidas 7.083 pessoas por “crimes de drogas”, sendo que 146 possuíam mandados de prisão e 6.937 foram detidos em situação de flagrante delito.
As denúncias anônimas como a que ajudou a Polícia Militar (PM) a localizar e prender Gabriel Veras, da facção TCP, mostram a importância da participação da população para tirar criminosos das ruas e solucionar crimes, como destaca o secretário de Estado da Segurança Pública, Alexandre Ramalho.
Um dos canais é o Disque-Denúncia 181, onde o anonimato é garantido. “As lideranças do tráfico estão cada vez mais violentas e trazem prejuízos para as suas comunidades. São lideranças que nasceram e cresceram ali naquele local e que hoje afrontam as suas comunidades”, frisa o secretário.
Secretários vão pedir mudança na legislação
Os secretários de estado da Segurança de todo o País devem entregar ao presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco, um pedido formal para mudança na legislação no início de 2024.
“Há uma percepção em comum de que a legislação não avança. Criminosos portam fuzis e atacam policiais, jogam granadas, muitos acabam sendo beneficiados com a saída temporária e falta uma legislação mais contundente”, afirma o secretário de Estado da Segurança Pública, Alexandre Ramalho.
Ele participou semana passada, em São Paulo, do Cop Internacional, evento de segurança pública, e do Consórcio de Integração Sul e Sudeste (Cosud), há 15 dias.
“Teremos mais uma reunião em janeiro e levaremos juntos ao Congresso o pedido de modernização na lei”.
Espírito Santo está na rota do tráfico internacional
Por sua localização geográfica e porto estruturado, o Espírito Santo é alvo de traficantes que querem enviar droga para outros países, além do consórcio de facções locais com grupos de outros estados.
A Polícia Federal revelou que o Estado está na rota do tráfico internacional de drogas, que são escondidas por traficantes em contêineres, inclusive com mármore e granito, em cascos de navios e até veleiros.
À frente das investigações, o titular da Delegacia de Repressão a Drogas, Victor dos Santos Baptista, explicou, na ocasião, que a cocaína é produzida na Bolívia, Colômbia e Peru e tem como destino principal o continente europeu e os Estados Unidos.
Procurada pela reportagem de A Tribuna, a assessoria de imprensa da Polícia Federal informou que não seria possível atender à demanda no tempo estipulado.
Escondido no Rio de Janeiro
Integrante do TCP preso após tiroteio
Gabriel Veras, um dos líderes do Terceiro Comando Puro (TCP), foi preso no alto Itararé, Vitória, após trocar tiros com a polícia, no dia 24.
“Ele estava lá no Rio e veio para cá organizar essa guerra. Foi preso graças a uma denúncia anônima. Tinha um carregador em caracol para caber mais munições”, diz o secretário de Estado da Segurança Pública, Alexandre Ramalho.
SAIBA MAIS
Facções no Estado
• Na Grande Vitória, duas organizações retomaram um conflito antigo: Primeiro Comando de Vitória (PCV) e Terceiro Comando Puro (TCP).
• O PCV comanda todo o tráfico de drogas do Complexo da Penha. O responsável pela facção é Fernando Moraes Pimenta, o “Marujo”, 30, que está foragido.
• Já o TCP domina Andorinhas e é uma facção antiga do Estado, comandada pelos “Irmãos Vera”, cuja gerência é feita pelos irmãos Bruno, Gabriel, que foi preso dia 24, e Luã Vera. Bruno e Luã continuam foragidos.
Fonte: Arquivo/AT.
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