Chefões do tráfico com vida de luxo na Grande Vitória
Com maior frequência, criminosos são presos em prédios de alto padrão, onde moram com a família, e sem guardar drogas e armas
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Já imaginou morar na cobertura de um prédio de alto padrão da Grande Vitória, mas ser vizinho de um dos chefões do tráfico de drogas ou pegar o elevador junto com um dos assassinos mais procurados do Estado?
Essa pode ser a realidade de muitos capixabas. Cada vez mais criminosos são presos em regiões nobres, ostentando vida de luxo.
O que chama a atenção da polícia é que, apesar de serem perigosos e lideranças criminosas, esses bandidos não costumam manter armas e drogas dentro de casa. São casados e moram com os filhos, o que dificulta as suspeitas e prisões em flagrante.
Em maio deste ano, o chefe do tráfico da região de Divino Espírito Santo, em Vila Velha, foi preso em um condomínio de luxo, no bairro Coqueiral de Itaparica.
A prisão aconteceu depois que a polícia recebeu denúncia anônima informando que o foragido, conhecido como “2F”, estaria morando no condomínio.
Já em julho deste ano, o traficante Wendel Almeida Oliveira, de 26 anos, líder de uma quadrilha que cometia homicídios na região da Grande Santa Rita, Vila Velha, foi preso na Praia de Itaparica, no mesmo município. Ele estava no apartamento de luxo onde morava com a mulher, que também foi presa, e os filhos. O prédio fica em uma região com vista para o mar.
Uma prisão que chamou a atenção da polícia foi a do gerente do tráfico de drogas da região de Jesus de Nazareth, em Vitória. Conhecido como Geleia, Pablo Bernardes foi preso em um apartamento de luxo, em Bento Ferreira, que tinha vista privilegiada.
Além de possuir mandado de prisão preventiva por associação e tráfico de drogas, ele é investigado por traficar armas. Durante as buscas no imóvel de luxo, foram apreendidos R$ 5.700, uma porção de maconha, um veículo Hyundai, celulares, relógios, entre outros materiais.
“No caso desse de Bento Ferreira, que foi o Pablo Bernardo, conseguimos chegar até ele por meio de denúncia anônima, depois que alguém viu o rosto dele no jornal. Mas há casos como o Wendel que só conseguimos chegar depois de um profundo trabalho de investigação”, explicou o delegado Romualdo Gianordoli, chefe do Departamento Especializado de Homicídios e Proteção à Pessoa (DEHPP).
Lanchas e carros importados
Na vida de alto padrão dos traficantes há também carros importados avaliados em mais de R$ 500 mil e lanchas para passeios na Baía de Vitória. É o que afirma o chefe do Departamento Especializado de Homicídios e Proteção à Pessoa (DEHPP), delegado Romualdo Gianordoli.
“Um exemplo que aconteceu neste mês é que a gente teve uma operação e apreendemos um BMW, uma Fusion, veículos de alto padrão em Tabuazeiro. O alvo da operação lavava dinheiro para o tráfico também. Ele fazia basicamente essa coisa de transferência de veículos”, explicou .
O alvo da operação em Tabuazeiro fugiu, mas, segundo o delegado, ele possui também várias empresas dos mais diferentes segmentos para fazer lavagem de dinheiro. Há também uma investigação em curso que apura o envolvimento de empresários e servidores públicos nesse crime organizado de alto padrão do tráfico.
Lojas e igrejas para lavar dinheiro
Para manter apartamentos de alto padrão, passeios de lancha e carros de luxo, os criminosos usam lojas de roupas, distribuidoras de bebidas e até igrejas para lavar o dinheiro sujo do tráfico de drogas.
Apontada pela polícia como uma das organizações criminosas mais perigosas do Estado, o Primeiro Comando da Capital (PCV), que tem sua base principal no Bairro da Penha, em Vitória, movimentou com o tráfico de drogas mais de R$ 22 milhões em nove anos.
Os números foram levantados pela Delegacia de Repressão às Ações Criminosas (Draco) e pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Espírito Santo (MP-ES).
Para esconder a origem do dinheiro ilícito, além da compra de apartamentos, carros e lotes em nome de terceiros, o grupo usou uma loja de roupas e produtos infantis e até uma igreja para lavar o dinheiro.
“Wendel Almeida Oliveira, que foi preso no bairro Itapuã (Vila Velha), por exemplo, tinha uma loja de roupas feminina e uma distribuidora de bebidas que usava de fachada para lavar o dinheiro do tráfico e manter uma vida de alto padrão”, contou o delegado Romualdo Gianordoli, do Departamento Especializado de Homicídios e Proteção à Pessoa (DEHPP).
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