Caso Wallace Lovato: polícia conclui investigação e busca último envolvido no crime
Cinco suspeitos se tornaram réus de uma ação penal. Veja o que se sabe sobre a motivação e o plano de execução do CEO
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A Polícia Civil divulgou, nesta segunda-feira (11), a conclusão das investigações do assassinato do empresário e CEO da Globalsys, Wallace Lovato — morto no dia 9 de junho na Praia da Costa, em Vila Velha, ao deixar a sede de sua empresa. Participaram das investigações a Subsecretaria de Estado de Inteligência, a Polícia Rodoviária Federal, a Polícia Científica, a Polícia Penal e as Guardas Municipais de Vitória e Vila Velha.
A vítima, que tinha 42 anos, foi atingida com um tiro na nuca disparado de dentro de um carro. As investigações apontam que a execução foi realizada a mando de Bruno Valadares de Almeida, diretor financeiro da empresa de Wallace, que teria realizado um desvio milionário de contas da Globalsys.
ENTENDA
Pouco mais de dois meses após o crime, cinco suspeitos de envolvimento no homicídio se tornaram réus de uma ação penal, sendo que quatro já foram presos.
Um quinto suspeito, identificado como Bruno Nunes da Silva, está foragido e é procurado pela polícia. Segundo as investigações, ele atuou como intermediário e principal organizador da logística do crime.
Arthur Luppi, apontado como motorista do carro usado na execução, confessou sua própria participação no crime e também confirmou o envolvimento de Bruno Nunes, Eferson Ferreira e Arthur Neves. Segundo ele, Bruno era a única pessoa que fazia contato com o mandante do assassinato.
Veja a participação de cada suspeito de envolvimento no crime:
Bruno Valadares de Almeida: apontado como mandante, está preso desde 12 de julho
Bruno Nunes da Silva: apontado como intermediário e principal organizador da logística do crime, está foragido
Arthur Laudevino Candeias Luppi: apontado como motorista, está preso desde 24 de junho
Arthur Neves De Barros: apontado como atirador, está preso desde 26 de junho
Eferson Ferreira Alves: apontado como intermediador, está preso desde 23 de junho

Mandante realizou desvio milionário
Apontado como mandante, Bruno Valadares de Almeida está preso desde 12 de julho. Ele, que atuava como diretor financeiro da empresa Globalsys, de Wallace Lovato, foi preso na própria casa, também na cidade de Vila Velha. De acordo com os investigadores, no dia da prisão, foram encontrados diversos itens de ouro e dois carros de luxo no local.
Questionado pela primeira vez sobre sua participação no crime, ele negou qualquer envolvimento e disse, ainda, que Wallace Lovato era quem mandava que ele enviasse dinheiro para Bruno Nunes. No segundo interrogatório, porém, ele confessou que desviava dinheiro da empresa da vítima, usando uma conta jurídica que apenas ele tinha acesso.
Segundo ele, o valor desviado foi de cerca de R$ 4 milhões. O valor, no entanto, pode ser ainda maior. "Ele (Bruno Valadares) desviava dinheiro e colocava documentos fiscais como se ele tivesse prestado serviços à empresa. A empresa estava fazendo auditoria interna e o valor estimado já está chegando a R$ 9 milhões", explicou Romualdo Gianordoli Neto Subsecretário de Inteligência da Sesp.
A prática, ainda segundo o diretor financeiro, foi motivada pelo fato de ele querer ter uma vida melhor e comer em restaurantes melhores, apesar de receber um salário mensal de aproximadamente R$ 21 mil.
"Ele se aproveitou da confiança do Wallace para poder fazer esses desvios", pontuou o delegado responsável pela investigação, Daniel Fortes.
No celular do empresário, foram descobertos indícios de que Wallace começou a desconfiar dos desvios em julho do ano passado, quando passou a cobrar explicações do diretor financeiro. Em seguida, ele realizou a contratação de uma empresa externa para uma auditoria financeira da empresa. Com medo de ser descoberto, Bruno Valadares de Almeida arquitetou um plano para executar o CEO.

Detalhes da execução
De acordo com a polícia, a mando de Bruno Valadares de Almeida, foi desenvolvido um plano para executar Wallace Lovato. Bruno Nunes, apontado como intermediário e principal organizador da logística do crime, pediu e pagou para que Arthur Luppi fosse até Minas Gerais buscar o veículo clonado usado no crime. O automóvel chegou em Vitória no dia 30 de maio.
Bruno Nunes e Eferson Ferreira foram à Paraíba buscar Arthur Neves, apontado como atirador. Eferson e Arthur Neves chegam a Vitória em um carro alugado no dia 29 de maio.
Entenda
A ideia inicial era que o mandante não estivesse no Espírito Santo quando ocorresse o homicídio e, por isso, o Bruno Valadares comprou uma passagem, com cinco dias de antecedência, para que ele, a esposa e o filho fossem para Orlando.
A viagem internacional durou até o da 8 de junho. No entanto, a vítima também viajou para São Paulo e para Gramado na semana do assassinato.
No domingo anterior a execução, Wallace esteve na cidade gaúcha com um avião particular que não teve condições de retornar para o Estado, o que fez com que ele não fosse trabalhar pela manhã na Globalsys. Como não possuíam essa informação, porém, os suspeitos foram até a sede da empresa no início do dia para executar o plano.
Antes de ir até à Praia da Costa, os executores estiveram na Barra do Jucu para trocar a placa do veículo usado no crime. Em seguida, foram até um shopping de Vila Velha buscar um segundo automóvel, deixado na alça da Terceira Ponte para auxiliar na fuga do grupo.
Ao chegarem na sede da Globalsys, os executores aguardaram por horas e não encontraram Wallace Lovato, que não havia ido trabalhar pela manhã. Por volta do meio-dia, eles entraram em contato com Bruno Nunes alegando estar com fome e se encontraram com o intermediário em um local afastado para lanchar. Neste momento, durante a refeição, eles receberam a informação de que o empresário havia chegado na empresa.
A vítima estacionou a sua BMW e os executores encontraram uma vaga a um carro de distância. Eles possuíam uma foto de Wallace e aguadaram a saída do empresário. De acordo com a investigação, os suspeitos acreditaram que o CEO deixaria a sede por outra saída do imóvel — o que explica a demora de alguns segundos entre a chegada de Wallace até a BMW e a execução realizada pelos suspeitos.
Após os disparos, eles fugiram em direção à Terceira Ponte. No entanto, no trajeto, eles se depararam com uma viatura da Polícia Civil que atendia outra ocorrência na região — o que pode ter atrapalhado um plano de descarte do automóvel utilizado no crime.
O trio, composto por Arthur Luppi, Arthur Neves e Eferson, fugiu por Cariacica. Em seguida, encontaram Bruno Nunes em Ibiraçu. No local, Arthur Neves desceu do carro e seguiu em um veículo conduzido pelo intermediário; e ambos seguem para Teixeira de Freitas, na Bahia.
Todo o trajeto foi captado pelo Cerco Inteligente. Da cidade baiana, Bruno Nunes e Arthur Luppi retornaram para Vitória. Já Arthur Neves pega uma motocicleta e vai para a Paraíba, enquanto Eferson fica em Teixeira de Freitas e devolve o carro usado na fuga.
A motocicleta utilizada por Arthur Neves também era clonada e, após a sua prisão, foi encontrada queimada juntamente com o celular do suspeito. Segundo o delegado, os suspeitos possuíam tanta convicção no plano que cometeram deslizes com transferências via Pix e chegaram a voltar ao Espírito Santo.
RELEMBRE O CASO
O empresário Wallace Borges Lovato, de 42 anos, foi morto com um tiro na nuca, na Praia da Costa, Vila Velha, no dia 9 de junho. Imagens de câmeras registraram que os criminosos chegaram ao local cerca de 2 horas antes do crime. Eles estacionaram o carro, um Fiat Pulse cinza, atrás do BMW verde da vítima.
Quando o empresário abriu a porta de seu BMW, o motorista do Fiat Pulse, apontado pela Polícia Civil como Arthur Laudevino Candeas Luppi, de 22 anos, preso no dia 24 de junho, saiu com o veículo da vaga e passou por Wallace.
Foi neste momento que Arthur Neves de Barros, 35 anos, que estaria no banco de trás do carona, baixa o vidro e atira, segundo a polícia. Wallace foi levado por amigos a um hospital da região, mas não resistiu aos ferimentos e morreu.
Fuga
Os criminosos fugiram em direção à alça da Terceira Ponte. O veículo foi encontrado, no dia 10 de junho, próximo à alça da Terceira Ponte por moradores que estranharam o fato de o carro estar no mesmo local desde a noite anterior, e acionaram a PM e a Polícia Civil. O Fiat Pulse foi periciado.
Prisões
Arthur Laudevino Candeas Luppi, 22, preso no dia 24 de junho, em Minas Gerais, é apontado pela Polícia Civil como o condutor do Fiat Pulse.
Arthur Neves de Barros, 35 anos, preso na Paraíba, no dia 26 de junho, é apontado pela Polícia Civil como o executor do empresário.
Eferson Ferreira Alves, de 36 anos, foi preso após se apresentar no dia 23 de junho, na DHPP de Vila Velha, acompanhado de um advogado. Ele teria tido conhecimento de que contra ele já havia um mandado de prisão expedido pela Justiça. O mandado foi cumprido no mesmo momento.
Bruno Valadares de Almeida, de 39 anos, diretor financeiro da empresa Globalsys, de Wallace Lovato, foi preso no último dia 12 de julho, apontado como mandante do crime.
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