Brigas de família resultam até em mortes e viram casos de polícia no ES
Disputa por herança e discussões por conta de namoro estão entre as razões para atos criminosos que vão parar em delegacias
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Causadas ou não por ideologias políticas diferentes, disputa por herança ou até mesmo por pequenas situações que acontecem dentro de casa, as brigas entre pessoas da mesma família têm virado casos constantes nas delegacias do Espírito Santo. Em episódios mais graves, essas confusões terminam até em mortes.
Conhecidos também como “crimes de proximidade”, esse tipo de delito surge em consequência de “conflitos intrafamiliares”.
Na grande maioria dos casos, as agressões que terminam em morte, por exemplo, acontecem em um momento onde o autor está em total domínio da emoção. Uma outra característica importante desse tipo de delito é que o autor raramente possui histórico criminal.
Por acontecerem dentro de casa e em momentos inesperados, a maioria dos crimes não conseguem ser impedidos pela polícia. Um exemplo disso foi o caso de uma adolescente, de 15 anos, que matou a própria mãe, em Pancas, Noroeste do Estado, em julho deste ano.
Após o crime, ela enrolou o corpo da vítima em um pano, colocou embaixo da cama e ligou para o 190. À polícia, a adolescente contou que as duas se desentenderam porque a mãe acreditava que a filha usava roupas curtas e provocava o padrasto que morava com as duas.
Outro exemplo de crime que aconteceu dentro de casa e que infelizmente não pôde ser impedido pela polícia foi o do assassinato de uma mulher, de 38 anos, no bairro Jaburuna, em Vila Velha.
Relacionamento
Os principais suspeitos do homicídio são a própria filha da vítima, uma criança de 11 anos, e o namorado dela, de 14 anos. À polícia, o menor confessou o delito e disse que o casal cometeu o crime porque a mãe da menina não aceitava o relacionamento dos dois.
“São crimes que nem sempre conseguimos impedi-lo, justamente por atenderem dentro de ambiente familiar. São crimes banais, discussões por motivos pequenos e que às vezes terminam neste tipo de situação”, disse o superintendente de Polícia Regional Norte (SPRN), delegado Fabrício Dutra.
Para Emir Pinho, especialista em Segurança Pública e Privada, é essencial que essas famílias tenham toda uma rede de apoio, com maior presença de assistentes sociais de família e de conselheiros tutelares.
Morta a tiros após briga por herança
A jovem Fernanda da Silva Pereira (foto, destaque) foi morta a tiros em Jacarandá, zona rural de Guarapari, após uma discussão. Segundo familiares a mulher, na época com 24 anos, foi assassinada após briga com parentes por questões que envolviam herança deixada pelo pai, que morreu em 2020.
O crime aconteceu em novembro de 2022 e o suspeito é o próprio irmão da vítima. Na época, o suspeito fugiu do local do assassinato. Fernanda foi baleada com sete tiros e chegou a ser levada para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Viana, mas não resistiu aos ferimentos.
Na época do assassinato, a namorada da vítima, uma autônoma, contou que Fernanda levou a família para avaliar a situação de um sítio, do qual ela é inventariante em um processo judicial.
No entanto, durante as conversas, houve uma briga entre parentes no local, situação que resultou no assassinato em Guarapari.
Cerca de 15% de assassinatos cometidos por motivos banais
Os crimes de proximidade são aqueles em que o assassino tem algum tipo de relação direta com a vítima, seja ele familiar ou não. Na maioria dos casos, o autor e a vítima se conhecem e os delitos ocorrem sob o domínio de violenta emoção. A motivação sempre estará ligada a motivos banais.
No Estado, dos 633 homicídios registrados até este mês, 15% foram cometidos por motivos banais, ou seja, foram considerados crimes de proximidade.
Superintendente da Polícia Regional Norte (SPRN), o delegado Fabrício Dutra disse que esse tipo de crime é comum no interior do Estado. Na cidade de Jaguaré, por exemplo, segundo ele, os crimes de proximidade já representam 30% de todos os homicídios registrados na região.
“Já tivemos quatro homicídios e todos eles foram crimes de proximidade. Aqui, eles geralmente acontecem durante brigas por motivos banais”, disse o delegado.
Segundo Dutra, no interior do Estado, a maioria desses crimes são cometidos após ingestão de álcool e drogas. “Isso potencializa a emoção das pessoas, que acabam por cometer esses delitos”.
Admitiu o crime!
Matou a mãe por se sentir um fracassado
Um homem, de 64 anos, confessou ter matado a própria mãe, de 84 anos. À polícia, ele disse que cometeu o crime por se sentir “fracasso” e culpou a mãe por isso.
Ele foi preso dentro de uma pousada, no bairro Manoel Plaza, na Serra, horas depois de ter assassinado a vítima, identificada como Ana Geralda Boninsenha. A vítima foi morta no apartamento que morava com o filho, em Jardim Camburi, Vitória, no mês passado.
Briga por galinha deixa um morto
Uma briga por causa de galinhas terminou com uma pessoa morta, no bairro Bela Vista, Cariacica (foto). Oseias Honorato Campos, de 66 anos, foi espancado e morreu no hospital, seis dias depois do fato.
O crime, de acordo com investigação da polícia, foi cometido pelo próprio filho da vítima, Luiz Carlos Campos, de 45 anos, no último dia 22 de novembro.
OPINIÃO
“Com maior participação de conciliadores, psicólogos e dos órgãos de segurança pública, o poder de reação deve ser mais rápido e assertivo. Isso representa inúmeras vidas Emir Pinho, especialista em Segurança
Rosana Carlesso, psicóloga
“Uma discussão em geral pode se transformar em uma tragédia. O parricídio é muito comum e diversos fatores podem contribuir para encorajar os comportamentos violentos entre familiares. Geralmente há presença de um quadro psicopatológico no assassino.
As doenças mentais mais comuns nesses casos são as do espectro psicótico, onde a percepção da realidade é distorcida, além do uso abusivo de álcool e drogas. Pode ser explicado também como um ato de libertação de pessoas vítimas de tortura, abuso sexual, físico ou psicológico.
Uma criança por exemplo que não teve amor suficiente por parte dos cuidadores tem maior probabilidade de acabar com o sofrimento cometendo um crime na fase adulta.
Em relação ao cônjuge, o crime pode ter como motivação o desejo de vingança ou briga por herança. Quanto mais tempo de convivência no mesmo ambiente aumenta a probabilidade de acontecer uma violência.
O homicídio entre família é um problema de saúde pública e que deve ser combatido com a participação de toda a sociedade”.
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