50 vítimas de assaltos todos os dias no ES
Dados do Anuário Estadual de Segurança Pública apontam que, no ano passado, 17.905 foram assaltadas: média de dois casos por hora
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Seja para manter o vício em drogas ou simplesmente levantar um “dinheiro rápido”, cada vez mais ladrões têm atacado nas ruas do Estado. Dados do Anuário Estadual de Segurança Pública apontam que, somente no ano passado, 17.905 pessoas foram vítimas de roubo em vias públicas de todo o Espírito Santo.
Os dados do documento, feitos por meio de um levantamento de boletins de ocorrência, revelam que todos os dias pelo menos 50 pessoas são vítimas de assaltos em todo o Estado. O número é mais assustador quando calcula-se a quantidade de roubos por hora: uma média de dois casos.
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Embora haja redução significativa de assaltos em vias públicas em comparação aos anos de 2018 e 2019, quando os registros totalizavam mais de 30 mil casos, este tipo de crime continua perturbando quem levanta cedo para trabalhar e já sai de casa com medo de ter um bem subtraído por algum ladrão.
É o caso da assistente administrativa Ana Paula Gusmão, de 41 anos, que teve uma arma apontada para o peito enquanto seguia para a escola do filho, em Laranjeiras, na Serra, há quatro meses.
“Ele falou que era um assalto e que não era para eu reagir. Colocou a arma no meu peito e exigiu meu celular, que era até simples”, conta a assistente administrativa.
Segundo Ana Paula, o criminoso foi agressivo durante o roubo e aparentava estar nervoso. Para ela, além de rondas constantes, feitas pela Polícia Militar, uma legislação mais rigorosa poderia ajudar a reduzir os índices deste crime.
“É importante que a polícia passe sempre nesses locais onde já tiveram registro de assaltos, mas sei que não depende só deles, porque eles prendem e o juiz solta no dia seguinte. A lei precisa mudar”, lamentou Ana Paula, que contou sobre o trauma que ficou em sua vida:
“Hoje eu uso um celular bem velho mesmo, das minhas crianças. Ando assustada pelas ruas, quando alguém se aproxima, eu já acho que é para me roubar”.
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Documentos e celulares são os mais visados pelos ladrões
A análise dos objetos roubados nas ocorrências de roubo a pessoa em via pública, disponibilizada no o Anuário Estadual de Segurança Pública, revela que os documentos pessoais são os mais levados por ladrões durante os assaltos.
Segundo o levantamento, 15.330 foram roubados no ano passado. Em segundo lugar no ranking de objetos levados em assaltos estão os aparelhos de celular (10.839) e em terceiro lugar, os cartões bancários (4.357).
Destaque para o montante em dinheiro que foi registrado como roubado, o somatório de todos os valores ultrapassou a quantia de 1,4 milhão de reais.
As joias também aparecem na listagem, com 576 levadas pelos bandidos. Na sequência aparecem eletrônicos (459) e bicicletas (338).
Em uma análise que avaliou não só os casos de roubo em vias públicas, mas também os furtos em todos os ambientes, o aparelho celular aparece como o objeto mais visado em casos de furtos e roubos.
No ano passado, 25.406 celulares foram furtados ou roubados no Estado. Em média, 2.117 aparelhos são subtraídos a cada mês.
Em 56% dos casos, eles ocorrem em situações de furto ou roubo a pessoas em vias públicas, momento em que a vítima está distraída.
Mulher que se desloca para o trabalho é o alvo principal
Consideradas por muitos criminosos alvos “fáceis”, as mulheres ocupam o primeiro lugar de um ranking que avalia o perfil das vítimas de roubos em via pública.
Segundo o Anuário Estadual de Segurança Pública, em 50% dos casos registrados em 2022, as vítimas eram do sexo feminino.
Já os homens ocupam o segundo lugar com 46,8% dos casos, e em 3,2% das situações não havia o registro do sexo da vítima.
Um outro dado apresentado pelo painel foi a faixa horária em que esses crimes acontecem. Segundo o Anuário, boa parte deles ocorrem no início da manhã, entre 5 e 7 horas, e também no período noturno, entre 18 e 22 horas.
Faixa horária que coincide com o deslocamento das pessoas para ida e retorno do trabalho.
Muitos casos de roubos a pessoas em via pública são registrados em pontos de parada de ônibus, como aconteceu com a analista de importação Simone Biche, de 38 anos. Há alguns meses, ela conta que estava em um ponto de ônibus do bairro Campinho da Serra, na Serra, onde foi rendida por um motoqueiro armado.
“Ele levou meu celular e foi bem rápido. Foi frustrante porque você trabalha o mês todo e leva o que você tem”, disse Simone.
Ela, que já foi roubada dentro de um ônibus, diz que ficou traumatizada após ser vítima de crime: “Saio de casa com medo, olhando para todos os lados e achando que vai acontecer novamente”.
Roubado na porta de banco
O metalúrgico Wesley Oliver Alves (foto), de 37 anos, precisou tomar alguns cuidados depois que viveu uma experiência ruim ao sair de um banco que fica na Avenida Central, no bairro Laranjeiras, na Serra, há alguns meses.
Ele foi rendido por um bandido e teve uma arma apontada para a cabeça. Segundo Wesley, o ladrão exigiu a todo momento seus pertences que incluíam celular e carteira.
“Pediu também a chave do meu carro, mas levou só o meu dinheiro. Além do prejuízo financeiro, deixou um trauma. Tento ter todo o cuidado possível para evitar que aconteça novamente”, disse
Ele acredita que o policiamento precisa ser reforçado em todo o bairro Laranjeiras, na Serra.
O outro lado
Em nota, a A Polícia Militar disse que realiza policiamento ostensivo em todo bairro Laranjeiras, na Serra, inclusive em toda a extensão da avenida citada, com patrulhamento preventivo 24h por dia, além de desenvolver ações estratégicas.
Já a Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa Social (Sesp) disse que não tem medido esforços para trabalhar na redução dos crimes patrimoniais no Espírito Santo, dentro das diretrizes do programa Estado Presente.
“Cabe destacar que os dados apontam, de 2018 a 2022, redução em quase todos os tipos de ocorrências contra o patrimônio“, disse o órgão.
Análise | Thiago Andrade, mestre em Segurança Pública e delegado de Polícia
“Os crimes contra o patrimônio representam grande parte da criminalidade das grandes cidades. Estado e vítimas podem adotar medidas para inibir/reduzir esse tipo de infração.
A criminologia explica o fenômeno do crime com a teoria das atividades rotineiras, explico: para teoria, a prática do delito possui um cenário perfeito: infrator motivado; vítima preferencial; ausência de um guardião.
O Estado aumentando o aparelho estatal, com a Polícia Militar e, atualmente, com as guardas municipais, realizando o patrulhamento preventivo de modo a inibir a atuação dos criminosos.
A Polícia Civil, realizando investigações para identificar e responsabilizar esses criminosos, representado pela prisão, pois, geralmente, são os mesmos indivíduos.
O cidadão pode aumentar sua atenção, analisando o perímetro à sua volta para verificar se há alguém com atitude suspeita; deixando de passar por locais sem muita movimentação. São medidas que podem te tirar das vítimas preferenciais”.
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