Vereadores denunciam desigualdade no tratamento da Compesa com o Recife
De acordo com lideranças da oposição, os investimentos anunciados pelo governo estadual também não têm resultado em melhorias concretas
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Lidar com canos estourados, falta de água e esgoto a céu aberto tem sido uma rotina constante para os moradores do Recife. Na Avenida 30 de Outubro, em Jardim São Paulo, Zona Oeste da capital, uma tubulação rompida jorra sem parar há cerca de um mês. A dura realidade das torneiras secas em determinados bairros versus alagamentos é um tema que vem sendo discutido pelos vereadores da cidade.
A atuação da Compesa virou alvo de críticas contundentes por parte de vereadores, que acusaram o Governo de Pernambuco, liderado por Raquel Lyra (PSDB), de falhar na garantia desse serviço essencial para as comunidades mais vulneráveis da capital. Segundo vereadores, a crise hídrica no Recife está recebendo trantamento desigual do Governo do Estado em relação ao interior.
Críticas à ineficiência e ao descaso
De acordo com vereadores da oposição, os investimentos anunciados pelo governo estadual não têm resultado em melhorias concretas para as áreas mais carentes.
O vereador Marco Aurélio Filho (PV) não poupou palavras ao abordar o tema: "Não dá para ficarmos omissos diante da injustiça e da forma criminosa como o Governo do Estado, através da Compesa, vem tratando a população do Recife."
Ele destacou a desigualdade na distribuição de água, denunciando que comunidades carentes convivem com torneiras secas, enquanto o governo prioriza investimentos em municípios do interior.
"Quero saber como fica o Recife? Não somos melhor do que ninguém, mas o tratamento que a Compesa vem dando aos recifenses não está sendo equânime", questionou Marco Aurélio. Ele também ressaltou que a ONU, desde 2010, reconhece o acesso à água limpa e segura como um direito humano, um direito que, em sua avaliação, está sendo ignorado em Pernambuco.
Vozes da comunidade e promessas não cumpridas
A vereadora Cida Pedrosa (PCdoB) reforçou o discurso crítico, relatando que "há várias comunidades do Recife onde sequer chega água nas torneiras", mencionando a Vila Cardeal, no bairro de Areias, como um exemplo de abandono. "Os moradores me ligam constantemente para reclamar da falta de água em suas casas."
Almir Fernando (PSB) também manifestou indignação, citando a precariedade no Alto José Bonifácio, Morro da Conceição e Alto José do Pinho, todas na Zona Norte. "Falta água e a Compesa fornece através de carros-pipa. O governo anuncia obras, mas até aqui são apenas promessas, pois continua faltando água."
Um fato interessante a perceber é que, para a população, não está claro sobre quem é o "pai" da Compesa.
Enquanto a população espera por soluções, cresce a sensação de abandono. Uma moradora de Jardim São Paulo, sem revelar o nome, expressou frustração com as promessas não cumpridas por políticos.
Enquanto se debate a falta de água, na Avenida 30 de outubro, a água jorra sem parar há um mês. No local, segundo reportagem exibida nesta terça-feira (29) pelo Jornal da Tribuna 1ª Edição, há casas sem água na torneira, enquanto a rua está alagada.
"Antes da eleição, um candidato esteve aqui, prometeu resolver o problema, mas desapareceu." Ela ainda questionou: "A própria imprensa diz para votar e que a saída é pelo voto. Mas eu pergunto: votar em quem? Confiar em quem?"
A defesa do governo e as promessas de investimento
O vereador Amaro Cipriano Maguari (PP) tentou minimizar as críticas, defendendo a atuação do governo. Segundo ele, "houve uma solenidade em que a governadora assinou várias ordens de serviço para o programa Águas de Pernambuco." O parlamentar afirmou que a governadora tem "R$ 6 bilhões para gastar em obras de abastecimento no Estado."
A Compesa se pronunciou a respeito da Avenida 30 de Outubro. "No dia 25 deste mês, a Companhia atuou no local após ser informada sobre um vazamento provocado por uma obra da prefeitura nessa via. Desde então, só houve uma nova solicitação para conserto de vazamento nesta via, registrada hoje (29). Uma equipe já esteve no local para a realização do diagnóstico e adoção das providências para os serviços de reparo nesta noite".
Uma crise que pede urgência
Para a oposição a Raquel Lyra, a situação é um exemplo claro da disparidade entre discurso e realidade. Enquanto solenidades e anúncios de investimentos são celebrados, moradores das periferias da capital enfrentam uma rotina de falta de água, doenças e abandono.
Para os vereadores, a inércia diante de tubulações rompidas, como a da Avenida 30 de Outubro, em Jardim São Paulo, escancara a negligência de uma gestão que parece não alcançar as áreas mais necessitadas.
Olhos atentos ao cenário
O discurso dos adversários de Raquel, além de ser firme na Assembleia Legislativa, também fará parte da pauta da Câmara do Recife.
Embora João Campos (PSB) tenha garantido que, ao final das eleições, desarmou os palanques, na prática, isso não aconteceu. Raquel Lyra também parabenizou o prefeito pela vitória no 1º turno, em ligação telefônica, mas tudo indica que os gestos de distensionamento de ambos não serão vistos na prática nos próximos dois anos.
Em debate no Roda Viva, na noite desta segunda-feira, João Campos contestou a narrativa do PSDB, que teria eleito 32 prefeitos e se saído melhor nas eleições municipais de 2024. Para ele, a comemoração da vitória é apenas um ponto da narrativa. Segundo prefeito, ser governo e eleger apenas este número de gestores é uma derrota. O PSB, que é oposição no estado, fez 31.
"Um fato muito concreto que pode ser visto é o desempenho dos governos estaduais vizinhos, como Alagoas e Paraíba (...). O desempenho dos governos estaduais tende a ser muito maior do que foi em Pernambuco. Ter uma diferença de um prefeito a mais entre um partido do governo e outro da oposição é uma vitória para a oposição”, declarou.
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