"Precisamos abrir a caixa preta dos transportes do Recife”, diz Dani Portela (Psol)
Segundo a candidata à Prefeitura do Recife, a capital não pode ficar de fora do debate do transporte público
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A candidata à Prefeitura do Recife, deputada estadual Dani Portela (Psol), criticou, em entrevista à TV Tribuna PE, a ausência de uma participação ativa do governo municipal no debate sobre o transporte público no Grande Recife, que diariamente transporta quase dois milhões de pessoas.
Por sorteio, Dani foi a segunda prefeiturável a participar da sabatina conduzida pelo apresentador Moab Augusto e pelo diretor de jornalismo da TV Tribuna, Fernando Rêgo Barros. A entrevista teve 15 minutos de duração.
Dani Portela foi enfática ao afirmar que o Recife possui o segundo pior índice de espera de ônibus e deslocamento do Brasil, propondo a abertura da "caixa preta" do consórcio de transportes do Grande Recife, bem como a reformulação da lógica tarifária, com ênfase na quantidade de viagens em vez do número de passageiros.
Para Dani, um transporte público de qualidade e acessível é essencial para melhorar a mobilidade e a qualidade de vida dos recifenses.
Entre as propostas apresentadas pela candidata, a ampliação de vagas em creches e a reestruturação do transporte público são temas centrais de sua plataforma.
Segundo ela, a cobertura de creches no Recife não atende nem a 24% da demanda, afetando diretamente as mulheres, especialmente as mães de periferia que dependem desse serviço para retomar os estudos ou ingressar no mercado de trabalho. Veja os principais trechos abaixo. A entrevista completa está pode ser vista aqui
Rodízio de creches é criticado por candidata
Dani Portela defendeu uma educação que valorize os profissionais e que vá além da simples construção de prédios. Para ela, a expansão das vagas em creches é fundamental, mas deve vir acompanhada de uma valorização dos educadores e de condições de trabalho adequadas.
A candidata criticou a precarização dos contratos e a defasagem salarial dos profissionais da educação, que têm impactado a qualidade do atendimento às crianças. Ela destacou a prática de rodízio nas creches, onde as crianças, muitas vezes, são enviadas para casa antes do horário previsto, devido à falta de pessoal, especialmente para crianças com deficiência.
“A gente precisa ampliar, sim, o número de vagas de creche e garantir a universalização de fato. Então, o prédio sozinho, a construção de novas creches, o prédio não cuida de ninguém. A maioria (dos profissionais da educação) está com contratos temporários, precarizados. Aí, o que acontece? A mãe tem que escolher o dia que manda o filho para a creche. O que está acontecendo hoje na prática é uma ampliação com rodízio”, disse a candidata.
Segundo a deputada, há várias denúncias sobre rodízio, onde “as crianças são mandadas para casa antes do final do horário, crianças com deficiência, neuro diversidade, crianças autistas têm que fazer o rodízio de dias”.
Habitação e revitalização do centro
No tema da habitação, Dani Portela destacou o déficit habitacional de mais de 70 mil moradias no Recife e propôs a requalificação de imóveis abandonados no centro da cidade para moradia popular.
“A curto e médio prazo, por que não olhar para esses imóveis desocupados e pensar em soluções de moradia popular no centro? Revitalizar não é só pintar ou colocar só o comércio. A gente vai ter de volta o comércio quando a vida pulsar no centro da cidade”, observou.
Para ela, a revitalização do centro não deve se limitar a obras estéticas, mas deve envolver a reocupação desses prédios por famílias que necessitam de moradia, cumprindo assim a função social da propriedade e revitalizando a área com vida e segurança.
“Você anda pelo centro da cidade e você vê o centro, que é o coração da cidade, completamente abandonado e com muitos prédios desocupados. Então, a gente sempre fala, há muito prédio sem gente e há muita gente sem casa e muita casa sem gente”.
Mobilidade urbana
Em relação à mobilidade urbana, Dani Portela destacou a urgência de fortalecer o transporte público, que considera caro e de péssima qualidade.
Ela criticou o atual modelo de cálculo tarifário, que beneficia as empresas de transporte ao calcular a tarifa com base no número de passageiros, e não no número de viagens.
A candidata defendeu a implementação de tarifa zero para setores específicos, como desempregados e estudantes, e a expansão das ciclovias para as áreas periféricas, atendendo às necessidades daqueles que utilizam a bicicleta como meio de transporte diário.
“Tem uma coisa que pouca gente quer tocar e nós precisamos trazer para o debate. Precisamos abrir a caixa preta dos transportes do Recife, do consórcio do Grande Recife. Não dá mais para dizer que isso é competência do Estado. O Recife tem assento neste conselho e a maioria desses transportes trafega na cidade do Recife e no entorno da cidade”.
De acordo com a prefeiturável, o cálculo atualmente é feito de maneira equivocada. “O cálculo é feito com base no número de passageiros. A gente precisa inverter essa lógica. A gente vê um verdadeiro oligopólio dos transportes públicos. Com isso, o serviço é um dos mais caros do país. A gente tem uma passagem caríssima, com serviço de péssima qualidade e os profissionais rodoviários precarizados, com dupla função, cobrando, dirigindo um transporte que é inseguro para quem trabalha e para quem usa.”, declarou.
Geração de empregos e inclusão racial
Sobre a geração de empregos, Dani apontou a necessidade de políticas afirmativas, como as cotas raciais, não apenas para concursos públicos, mas também para vagas no mercado de trabalho.
Segundo a candidata, o desemprego afeta desproporcionalmente a população negra e jovem das periferias de Recife.
Para enfrentar esse problema, Portela propõe investir em educação pública de qualidade e continuada, desde as primeiras séries até o ensino superior, garantindo que a juventude esteja preparada para o mercado de trabalho.
Para a juventude, Dani enfatizou a necessidade de políticas públicas que incluam educação, cultura, esporte, lazer e geração de emprego. Ela criticou a falta de investimento no orçamento municipal destinado a esse segmento e reforçou a importância de ações que não apenas promovam um futuro melhor, mas que proporcionem oportunidades imediatas para os jovens.
“As pessoas desocupadas, na sua maioria, são jovens de periferia e jovens negros. Então, a gente precisa trazer a juventude para esse debate e pensar, sim, em geração de emprego vinda a partir do fortalecimento de algumas políticas. Em toda a minha trajetória, eu sempre fiz uma defesa muito árdua da política afirmativa de cotas”, pontuou.
Segundo ela, a lei de cota federal completa 10 anos e ainda hoje você não tem regulamentado em todas as esferas. “A gente precisa, sim, de cota, não só para os concursos públicos e seleção simplificada, mas a gente precisa das cotas raciais também para as vagas de emprego oferecidas. A gente precisa, sobretudo, entender que investir em emprego é investir em formação, em educação”.
Recado final
No encerramento da entrevista, Dani Portela se colocou no campo da esquerda e convidou os recifenses a se unirem em torno de um projeto que resgate o orçamento participativo, que escute as demandas de cada território, fortalecendo a democracia e a esperança em um Recife real e inclusivo.
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