Líder dos carroceiros diz que cavalos estão sendo revendidos ou mortos em abate
Denúncia foi feita em audiência na Câmara do Recife, presidida por Rodrigo Coutinho, após protestos da categoria pela manhã
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A Câmara Municipal do Recife está sendo realizada, na tarde desta segunda-feira (16), uma audiência pública para discutir como será feita a reinserção dos trabalhadores de tração animal no mercado de trabalho.
O encontro, presidido pelo vereador Rodrigo Coutinho (Republicanos) acontece após uma onda de protestos realizados no Recife e em Olinda pelos carroceiros nesta manhã.
Eles se sentem desprotegidos depois da sanção da Lei 19.030/2023, que proibiu, de forma gradual, a circulação de carroças puxadas por animais no município do Recife.
Bloqueios e pneus queimados
O debate é marcado pela tensão. Pela manhã, carroceiros bloquearam ruas e avenidas no Recife e em Olinda, queimaram pneus e montaram barricadas, em protesto contra a retirada das carroças. Eles estão do lado de fora da câmara, onde aguardam o final da reunião.
Rodrigo Coutinho reagiu às críticas do deputado estadual Romero Albuquerque (União Brasil), que classificou os protestos como "vandalismo" e criticou o vereador pela realização de uma audiência para discutir um tema que já virou lei.
"Será que os carroceiros estavam fazendo a manifestão por causa de Rodrigo Coutinho ou estavam protestando contra os políticos travestidos da causa animal que ficam espalhando fake news?", indagou.
De acordo com Coutinho, há lideranças políticas que o acusam de ser a favor de cavalos mortos.
"Eu quero dizer que desde os 12 anos eu crio cavalos, sou apaixonado pelos cavalos, como a maioria dos senhores carroceiros, de modo geral. A gente não pode generalizar. Esses episódios (protestos) são por conta de um terrorismo provocado nas redes sociais por Romero Albuquerque e por diversos representantes da causa animal que ficam atrás de celulares para falar isso ou aquilo", afirmou.
O vereador ainda afirmou, durante a audiência, que a Câmara do Recife precisa voltar a legislar sobre os carroceiros, uma vez que a lei atual tem lacunas.
Medo do futuro e denúncia
A manifestação causou transtornos no trânsito e só foi encerrada após a intervenção do Corpo de Bombeiros.
Durante a audiência, representantes dos trabalhadores pediram alternativas concretas de geração de renda, além do simples cadastramento proposto pela Prefeitura do Recife.
“A maioria de nós cuida bem dos animais e só quer trabalhar. Não podemos ser penalizados pelos erros de poucos”, disse Anderson Rodrigues, carroceiro presente na reunião.
O líder da categoria, Marcos Batista, conhecido como Neno Ferrador, criticou a condução do processo e afirmou que os trabalhadores estão dispostos ao diálogo, mas exigem garantias reais para não ficarem sem sustento.
"Essa luta já vem de bastante tempo. Por que eu sou contra essa lei? Ela vem se arrastando por muito tempo e eu pergunto se as pessoas sabem o que vai acontecer com esses cavalos? Hoje no Brasil, existem 5 frigoríficos imersos para a matança legal desses cavalos", atacou Neno. De acordo com ele, na Bahia, em Minas Gerais e Mato Grosso do Sul há cinco matadouros legalizados.
Neno Ferrador ainda argumentou que vários profissionais sofrerão com a lei, como o que colhe capim, o que faz a charrete, o que faz a carroça, o domador, o artesão, entre outros. Ele ainda afirmou que nunca se viu carroceiro pedindo pix nas redes sociais para alimentar e cuidar de seus animais, como alguns ativistas têm feito.
Neno Ferrador denúncia morte de cavalos em matadouros

"A gente não concorda com os maus tratos. Eu tenhon 50 anos trabalhando com a ferradura. Mas vamos tirar o cavalo da carroça para o abate? Eu tenho provas de cavalos presos aqui no Recife foram vendidos na feira de Caruaru. Outros 19 cavalos foram doados para uma pessoa só e eles estão passando por coisas terríveis. Tem animal morrendo de fome", desabafou.
De acordo com Neno, hoje, se acabar com a utilidade dos animais, será pior para os animais e para os carroceiros, muitos deles semi-analfabetos. Ainda para ele, o deputado Romero Albuquerque está criando ódio em cima de uma categoria.
"Esses animais devem estar na vista da gente para fiscalizar porque trabalho não mata ninguém. A gente tem que punir aqueles que maltraram. Eu sou filho de um policial militar, sempre trabalhei para sustentar minha família durante 50 anos", afirmou, dizendo ser necessário mais rigidez na criação dos animais, mas não a extinção de toda uma categoria.
Lei não tem retorno, diz veterinário
De outro lado, defensores da causa animal defendem que o fim da tração animal nas ruas é uma medida necessária para proteger os animais e modernizar a cidade.
“Nós lutamos para a aprovação da lei de tração animal, mas pedimos ações humanitárias, tanto para os trabalhadores, como para os cavalos”, afirmou o médico veterinário João Marcelo Figueiredo, da Federação Brasileira do Meio Ambiente (Febema). Ele acrescentou que já existe um município, sem citar o nome, onde os “cavalos possam ter uma aposentadoria digna”.
João ainda pediu a criação de uma comissão do bem-estar, um sinal de que o tema ainda precisa ser aprofundado. "A gente não vai abrir mão da lei da tração dos cavalos".
Os carroceiros passarão por qualificação para reinserção no mercado de trabalho, segundo a prefeitura, mas é o meio do caminho que preocupa, bem como as contas de cada profissional.
Vários representantes de ONGs disseram ser inadimissível que os animais continuem sendo abandonados por carroceiros quando estão doentes. Ou que levem cargas acima de limites.
A expectativa é que o debate aponte caminhos para construção de uma nova lei que garanta a saúde dos cavalos, bem como o trabalho e renda às famílias afetadas, como substituir os animais no centro da cidade por motos.
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