Vítima de ex-secretário corre risco de perder a visão após tentativa de feminicídio
Vítima continua internada, recebe bastante apoio dos filhos, mas também teme represálias
A mulher vítima de tentativa de feminicídio atribuída ao ex-secretário de Esportes de Calumbi, no Sertão do Pajeú, corre o risco de perder a visão devido às graves lesões sofridas no rosto e no crânio. A informação foi confirmada neste sábado (13) pela advogada criminalista Manuella Magalhães. Segundo a defesa, além das complicações físicas, a vítima teme que familiares do marido possam promover represálias contra seus próprios familiares, incluindo os filhos.
“Ela chora muito e tem muito medo do que ele e a família dele podem vim a fazer com ela e seus familiares”, diz a advogada.
Segundo relatos de Manuella Magalhães, a vítima, que prefere não ter o nome divulgado, sofreu lesões graves no rosto e no crânio após ser atacada dentro de um apartamento localizado na Rua da Aurora, área central do Recife. Eles estavam no Recife porque a mulher faz tratamento contra o câncer.
O suspeito é o marido dela, Numeriano Luiz de Sá, exonerado do cargo nesta última sexta-feira (12), dois dias após o crime e que teve a prisão em flagrante convertida em preventiva.
Lesões graves e investigação sobre possível perda de visão
A vítima permanece internada no Hospital Português e segue sob avaliação médica para identificar a extensão total das lesões provocadas pelas agressões.
“Ela está se recuperando, mas segue internada. Teve várias lesões na face e afundamento no crânio, quebrou 3 dentes, o nariz e está em investigação se uma das visões foi perdida ou será possível reverter alguma coisa”.
O quadro clínico é considerado estável, mas o acompanhamento continua diante do risco de sequelas permanentes.
Medo, choro frequente e ameaça percebida
Além das marcas físicas, o impacto emocional tem sido intenso. Segundo a advogada, a vítima apresenta crises de choro, dificuldade para compreender o que motivou a violência e medo constante.
“Chora muito e tem muito medo do que ele e a família dele podem vim a fazer com ela e seus familiares”.
Antes da exoneração e da prisão preventiva do agressor, a vítima chegou a expressar receio de que a denúncia e a responsabilização criminal pudessem “destruir a vida dele”.
Ainda de acordo com a advogada, mesmo após as agressões, a vítima manifesta sentimentos de culpa e receio em relação às consequências da denúncia, um comportamento recorrente em mulheres submetidas por anos à violência psicológica.
Processo seguirá sem possibilidade de recuo
Questionada sobre a continuidade do caso, a defesa afirmou que o processo seguirá normalmente.
“Com certeza vai ser seguido”.
“E também não é possível recuar”.
A investigação policial continua com a oitiva de novas testemunhas e a realização de perícias. Após a conclusão do inquérito, o relatório será encaminhado ao Ministério Público, que poderá apresentar denúncia por tentativa de feminicídio e dar prosseguimento à ação penal.
Apoio dos filhos e da família
Embora a violência doméstica envolva uma relação de afetos entre a família, a vítima e o agressor, a mulher do ex-secretário tem recebido apoio integral dos filhos e de familiares próximos.
“Estão dando total apoio, a mãe deles foi quase morta, não só eles, a família toda está junto com ela pra ela conseguir superar tudo isso”.
Os filhos da vítima e do suspeito também demonstraram choque com o episódio. Segundo a advogada, eles estão “estarrecidos" com essa situação. Ninguém esperava que ele seria capaz de tentar matar a vítima, foi cruel demais. Eles estavam juntos há 22 anos”.
Exoneração após pressão pública
Numeriano Luiz de Sá foi exonerado do cargo de secretário de Esportes de Calumbi na sexta-feira (12), um dia após a Prefeitura anunciar apenas o afastamento temporário. A decisão foi publicada no Diário Oficial dos Municípios após forte repercussão e pressão da opinião pública.
Ele segue preso de forma preventiva no CREED, unidade prisional da Polícia Militar. Em depoimento à Polícia Civil de Pernambuco, obtido pelo Diario de Pernambuco, o ex-secretário tentou atribuir a agressão a um suposto desequilíbrio emocional da vítima, associado ao tratamento de saúde que ela enfrenta.
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