Subtenente preso por suspeita de estupro nega relação com mulher em posto do Cabo
Secretário Alessandro de Carvalho fala que prisão preventiva é importante para o caso de ele ter feito outras vítimas

O subtenente Luciano Valério de Moura, preso sob suspeita de estuprar uma mulher de 48 anos dentro de um posto do Batalhão da Polícia Rodoviária (BPRv), no Cabo de Santo Agostinho, Região Metropolitana do Recife, negou, em depoimento prestado na quarta-feira (15), ter “feito sexo” com a denunciante.
Segundo o Diario de Pernambuco, que teve acesso a oitiva, o militar afirmou acreditar que a acusação tenha sido feita por vingança. “Acredito que ela fez a denúncia por causa de uma possível vingança”, disse Valério aos oficiais responsáveis pelo inquérito militar.
“Não é verdade que havia feito sexo com ela”
Durante o depoimento, o subtenente reforçou que “não é verdade que havia feito sexo com ela” e acrescentou que “é casado, tem uma filha, um filho e uma esposa e não é necessário estar procurando outra mulher fora”.
Valério relatou que a suposta vítima teria ficado “aborrecida” após ser informada de que a multa de trânsito seria aplicada. “Ela poderia ter ficado aborrecida e saído do posto com a resposta de que a multa seria aplicada”, disse.
O militar também afirmou que outros motoristas abordados na blitz poderão servir como testemunhas: “Os demais veículos que estavam sendo abordados no local no mesmo horário poderão oportunamente serem levantados para servir como testemunha”.
Prisão após o depoimento
De acordo com o Diario, o depoimento foi colhido às 19h da quarta-feira (15). Logo depois, a Secretaria de Defesa Social (SDS) confirmou a prisão do subtenente.
Na oitiva, Valério disse que cumpria uma ordem de serviço da governadora, expedida pela unidade dele, em apoio à Companhia Independente de Policiamento do Meio Ambiente (CIPOMA), no município de Itambé, na Mata Norte. Após a operação, seguiu para o Cabo de Santo Agostinho, onde participou da “Operação Venari”, no Posto 06 do BPRv.
Durante as abordagens, o carro da mulher que o acusa de estupro foi parado. O militar afirmou que ela apresentou o licenciamento de 2024 vencido, o que motivou a checagem dos documentos no sistema.
Problema no documento e ligação em viva-voz

No depoimento, o subtenente relatou que não conseguiu realizar a consulta no sistema “por ter trocado de celular”. Segundo ele, a mulher ligou, em viva-voz, para o antigo proprietário do veículo, questionando se os débitos já haviam sido pagos.
“O proprietário anterior foi bastante ignorante e grosso com a denunciante, humilhando ela, dizendo: ‘tu não paga tuas coisas e vem botar a culpa em mim’”, contou Valério. Em seguida, o homem teria encerrado a ligação dizendo: “Te vira, o problema é teu”.
O policial disse ainda que, por ser tarde da noite e diante da dificuldade para acessar o sistema de notificação, decidiu não apreender o veículo. A mulher, segundo ele, “agradeceu e disse nunca ter sofrido tamanha humilhação por parte do proprietário anterior do veículo”.
“Ela estava nervosa e pediu um copo com água”
O militar relatou que, após o episódio, a mulher demonstrava estar nervosa e pediu um copo d’água. “Acompanhei a denunciante até a recepção no interior do Posto Policial, onde encontrava-se um bebedouro, por ser uma Unidade Militar com armamentos, pertences e equipamentos, e ninguém pode entrar sem autorização”, declarou Valério.
Ele acrescentou que, antes de deixar o local, a mulher teria agradecido o atendimento, deixado o contato telefônico e informado “que tinha uma residência na praia de Gaibu (no Cabo) e se o depoente tivesse interesse de passar um final de semana com a família era só entrar em contato para alugar”.
Secretário de Defesa Social pede que, se houver outras vítimas, elas façam denúncias
O secretário estadual de Defesa Social, Alessandro de Carvalho, declarou que o caso está sendo investigado pela Polícia Judiciária Militar, já que o subtenente estava em serviço no momento da denúncia. Ele ressaltou que a prisão preventiva é essencial para garantir o andamento das investigações e a segurança das possíveis vítimas.
“Esse foi um caso isolado, pode ser que sim, (mas) pode ser que ele tenha feito outras vítimas”, afirmou Alessandro de Carvalho.
“Um crime de barbaridade sem tamanho”
O secretário classificou o caso como “de uma barbaridade sem tamanho” e reforçou que a denúncia partiu da própria vítima, que relatou ter sido violentada dentro de um posto policial, durante uma blitz no último fim de semana.
“Um crime como esse, que nós sabemos até o momento que foi um, já é de uma barbaridade sem tamanho e merece ser punido”, disse.
Apelo público
Durante a coletiva, Alessandro de Carvalho aproveitou para fazer um apelo público a outras mulheres que possam ter sido vítimas de abusos cometidos por policiais.
“Se por acaso alguma mulher foi abordada por um policial rodoviário estadual e passou por algum tipo de constrangimento ou por um crime, que procure o quartel do comando-geral do DERBY, onde o inquérito policial militar está sendo instruído, ou qualquer uma das delegacias da mulher, da capital ou da Região Metropolitana”, orientou.
O secretário destacou que eventuais denúncias são fundamentais para “instruir o procedimento e garantir que o agressor responda pelos atos na Justiça”.
Relatos de outros policiais
O JT1, da TV Tribuna PE/Band, também trouxe, com exclusividade, trechos dos depoimentos de dois outros policiais militares que estavam de serviço no momento da ocorrência. Segundo os relatos reforçam que o subtenente e a vítima entraram juntos no posto policial.
Um dos PMs relatou que viu a mulher saindo do local com um copo d’água na mão, seguida pouco depois pelo subtenente. O outro afirmou que não sabe se civis podem entrar no posto, já que há uma determinação do comando proibindo pessoas não autorizadas de acessar a área interna. Nenhum dos dois endossou a versão da vítima.
O suporte à vítima
Importante lembrar, no entanto, que há material genético do subtenente no vestido da mulher a ser investigado. A Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Pernambuco, acompanha o caso, bem como o Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares. Destaca-se também que o policial não compareceu no dia em que ela precisava fazer o reconhecimento, alegando ter sofrido um acidente de moto. Há, portanto, várias formas de checar se o PM se acidentou, se trocou mesmo de telefone, se ele se comunicou com os colegas depois da denúncia, entre outros pontos do depoimento dele.
Investigação continua
A mulher, de 48 anos, prestou depoimento na Delegacia do Cabo de Santo Agostinho e reconheceu o suspeito ao ver fotos do policial apresentadas pelos investigadores. Segundo a advogada da vítima, Maju Leonel, a prioridade agora é “reorganizar a linha temporal dos fatos e reunir provas” para garantir a responsabilização do acusado.
“O que a gente precisa agora é reorganizar os fatos, reorganizar a linha temporal desses fatos, para que ele possa responder pelos atos dele na Justiça”, afirmou a advogada.
Veja mais informações nesta tarde, a partir das 17h30, no Brasil Urgente, apresentado por Moab Augusto
Veja o que falou a governadora Raquel Lyra sobre o caso aqui
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