Saiba quem era o advogado que morreu após troca de tiros com a polícia no Recife
Além de atentar contra a vida de policiais, Fernando Ribeiro da Costa também efetuou disparos na rua, podendo causar morte ou ferimentos em moradores
O desfecho trágico de um cerco policial no Recife, nesta terça-feira (16), colocou um ponto final na trajetória do advogado Fernando Ribeiro da Costa. Ele morreu após uma nova troca de tiros com a polícia, confirmando o que autoridades e órgãos de classe já vinham alertando: uma grave e rápida escalada de violência que misturava problemas disciplinares na Ordem dos Advogados do Brasil e um histórico criminal recente em Pernambuco.
Segundo o relato oficial do BOPE, a equipe tentou uma abordagem que resultou em confronto.
"Ele não se rendeu e optou pelo enfrentamento direto, disparando contra o efetivo", afirmou o subtenente responsável pela operação. A delegada que conduziu o caso, Tainá Barbosa Fiorezi, confirmou que a morte ocorreu durante o revide policial, em uma cena que reforça o padrão de agressividade já registrado em processos anteriores.
Segundo o relato oficial, a polícia civil tentava cumprir um mandado de busca e apreensão de uma arma, após denúncia no âmbito de violência doméstica na residência do advogado.
Violência contra as mulheres
O histórico de Fernando era marcado por agressões contra ex-companheiras, segundo relatos de testemunhas. O mandado que a polícia tentava cumprir ontem era reflexo de uma investigação de violência doméstica. Testemunhas afirmam ter presenciado agressões físicas e verbais contra mulheres que se relacionaram com ele.
"No final do ano passado ele estava espancando ela, a gente teve que denunciar para poder fazer algo. Era desesperador", revelou uma testemunha.
Para os moradores da rua Tamoios, o comportamento explosivo de Fernando também era uma ameaça constante. Relatos de vizinhos indicam que o advogado costumava circular armado pela comunidade e utilizava a arma para intimidar pessoas por motivos banais.
"Todos os vizinhos viviam assustados. Se ele achasse uma pessoa feia, já era um perigo", relatou um morador que preferiu não se identificar. Imagens registradas pela vizinhança chegaram a mostrar o advogado manuseando uma arma enquanto ajeitava a decoração de natal da casa.
O histórico de descontrole e a suspensão pela OAB
Antes do incidente fatal de ontem, o comportamento do profissional já era objeto de monitoramento rigoroso. Em 10 de novembro de 2025, o Diário Eletrônico da OAB publicou a suspensão preventiva de sua inscrição. A medida foi baseada em uma "sucessão de condutas de descontrole e violência" demonstradas em processo administrativo.
A OAB identificou que Fernando apresentava uma "repetitividade e reiteração de comportamentos agressivos". A decisão destacou que tais atos davam testemunho “de maneira contundente contra o padrão comportamental de equilíbrio que a sociedade espera do profissional da advocacia".
A Ordem enfatizou que, embora o cotidiano jurídico seja estressante, não é aceitável que o advogado "perca o controle emocional e adote postura explosiva, logo perigosa a si mesmo e aos outros".
A suspensão visava preservar a credibilidade da classe. Na ocasião, Fernando foi intimado a entregar sua carteira profissional até o julgamento do mérito, o que não houve tempo de ocorrer diante do desfecho de ontem.
Confrontos anteriores com a polícia
A situação de Fernando já havia se tornado um caso de polícia antes de dezembro. Conforme consta em acórdão do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJ-PE), o advogado já havia sido preso em flagrante anteriormente por desobediência, porte ilegal de arma e disparo em via pública.
Os relatos judiciais daquele processo anterior detalhavam "disparo de arma de fogo contra os policiais" e "múltiplas tentativas de fuga". Na época, a justiça criminal corroborou a visão da OAB ao citar a "periculosidade do paciente" e uma nítida "escalada de violência na conduta".
Naquele episódio, o tribunal entendeu que as circunstâncias justificavam a atuação policial. Ele foi solto, no entanto, por falhas processuais.
O peso da responsabilidade profissional
A decisão da OAB de Pernambuco deixou claro que a fiscalização ética é soberana, inclusive para atos fora do exercício direto da profissão. Para a Presidência do Tribunal de Ética, manter a inscrição de Fernando ativa representava um "perigo de demora", pois novos episódios de violência poderiam ocorrer.
A versão de familiares
Para os familiares, Fernando tinha a saúde mental comprometida. Ele precisava fazer uso de remédios por conta de depressão e distúrbio bipolar, mas não os tomava. "Estava em surto, fora da realidade", disse um parente, pedindo anonimato.
Veja também a matéria completa de Rubens Marinho, no JT1
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