Polícia Civil prende três suspeitas e apura desvio de R$ 39 milhões em Ipojuca
Além das prisões, a Justiça determinou o bloqueio de bens e ativos dos investigados e a suspensão da execução de emendas parlamentares de 2025

Um esquema de desvio de emenda parlamentar no município de Ipojuca está sendo investigado pela Polícia Civil de Pernambuco na chamada Operação Alvitre. A investigação apura desvio de recursos públicos por meio de emendas impositivas pagas a vereadores pela Prefeitura de Ipojuca, no Litoral Sul. Segundo as investigações, o esquema criminoso teria movimentado quase R$ 39 milhões e envolvia entidades fantasmas e associações sem capacidade técnica para executar os serviços contratados.
Mandados de prisão e buscas
A ação cumpriu 21 mandados de busca e apreensão e sete mandados de prisão preventiva. Três mulheres, incluindo duas advogadas, foram detidas — os nomes não foram divulgados. Outras quatro pessoas alvos dos mandados não foram localizadas e são consideradas foragidas.
“As ordens judiciais foram cumpridas não só em Ipojuca, mas também em municípios como São José da Coroa Grande, Barreiros e Caruaru, porque alguns alvos residiam nesses locais”, explicou a promotora de Justiça do Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), Katarina Gouveia. Os nomes dos vereadores envolvidos também não foram divulgados.
Bloqueio de bens e suspensão de repasses
Além das prisões, a Justiça determinou o bloqueio de bens e ativos dos investigados e a suspensão da execução de emendas parlamentares impositivas de 2025 destinadas a Ipojuca. Segundo Katarina, a medida era essencial para “estancar a sangria de recursos públicos que estavam sendo desviados para associações sem capacidade operacional”.
O próximo passo da investigação será a análise de celulares, computadores e documentos apreendidos, que podem apontar novos desdobramentos do esquema.
Como funcionava o esquema
O delegado Ney Luiz Rodrigues, titular da Delegacia de Porto de Galinhas, detalhou que as apurações começaram em outubro de 2024, após denúncias de que emendas parlamentares estariam sendo destinadas a uma associação inexistente.
“O Tribunal de Contas confirmou a irregularidade e constatou que, depois disso, os recursos passaram a ser direcionados para o IGPN, uma entidade de fachada que não tinha condições técnicas de executar os serviços”, afirmou o delegado.
Segundo ele, o IGPN recebeu cerca de R$ 7 milhões em 2024. Parte do dinheiro era repassada a outras associações e até a uma faculdade que não funcionava em Ipojuca. “Verificamos que os cursos pagos pela prefeitura sequer eram realizados”, acrescentou Ney Luiz.
Estrutura criminosa
De acordo com o relatório da Polícia Civil, o grupo atuava com uma divisão de tarefas bem definida. Um núcleo de liderança selecionava CNPJs, orquestrava alterações estatutárias e articulava parcerias fraudulentas. Já o núcleo operacional executava as diretrizes e, por fim, o núcleo de facilitação ocultava os reais beneficiários do esquema.
As investigações também apontaram reincidência criminosa entre os alvos e uso de pessoas interpostas para dificultar o rastreamento dos valores desviados.
O que diz a prefeitura
Segunda a Prefeitura de Ipojuca, comandada por Carlos Santana (Republicanos), embora as emendas parlamentares tenham sido suspensas em 2025, os valores supostamente desviados se referem à gestão anterior.
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