PM investiga ação de policiais que forçaram jovens a ouvir escapamento em Ipubi
Policiais, que deveria proteger a lei, optaram por usar humilhação e abuso de autoridade em vez de de seguir as normas jurídicas brasileiras
A Polícia Militar abriu investigação para apurar a conduta de policiais que obrigaram quatro jovens a encostar o ouvido no escapamento de motos durante uma abordagem em Ipubi, no Sertão de Pernambuco. Os vídeos, enviados à TV Tribuna,/Band mostram ainda um PM desferindo chutes contra a cabeça de pelo menos um dos rapazes. O caso ocorreu no dia 23, mas a corporação só se pronunciou nesta quarta-feira (26), após ser procurada pela reportagem.
Vídeos mostram agressões e humilhação
As imagens que circulam nas redes sociais mostram os jovens sendo forçados a ouvir o barulho dos escapamentos enquanto os policiais aceleram as motos. Em um dos trechos, um militar diz: “Pronto, boa! Vai pra cá! Aí, é bom? Coloca o ovinho aí, para eles não aguentem”. Um dos PMs também aparece atingindo a cabeça de um jovem com chutes.
Abordagem teria começado após denúncia
A abordagem aconteceu durante um festival de motos no centro de Ipubi. Moradores reclamavam do barulho e da desordem e acionaram a PM após uma denúncia anônima de que jovens estariam fazendo manobras perigosas. Apesar disso, o panfleto do evento alertava que era “proibido fazer manobras ou tumultuar”. A situação ocorreu a cerca de cinco quilômetros do pátio principal, quando o grupo seguia para o Graufest.
PM e SDS abrem apurações
A Polícia Militar informou que tomou conhecimento dos fatos por meio da 9ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM) e instaurou uma Investigação Preliminar para apurar a conduta dos agentes. A Corregedoria Geral da Secretaria de Defesa Social (SDS) também abriu procedimento preliminar e disse que verificará eventual repercussão administrativa. O órgão acrescentou que ainda não foi procurado para registro formal da situação.
O que os policiais deveriam ter feito pela lei
De acordo com a legislação e os protocolos de atuação da PM, os policiais deveriam ter adotado uma abordagem padrão, com revista, identificação dos jovens, verificação dos veículos e registro da ocorrência, caso fosse confirmado algum ato de direção perigosa. Nenhum agente pode impor castigos, humilhações ou agressões, pois isso configura abuso de autoridade, previsto na Lei nº 13.869/2019.
Atuação deve ser proporcional e legal
A Constituição e os manuais de procedimento policial determinam que o uso da força deve ser sempre proporcional e estritamente necessário para garantir segurança. Se houvesse flagrante de manobras perigosas, os PMs poderiam apreender motocicletas, autuar os condutores, conduzir os envolvidos à delegacia ou notificar o órgão de trânsito — tudo por meios legais. A função do policial é proteger e aplicar a lei, não violá-la.
O que diferencia policiais de bandidos e infratores?
A diferença central é a lei. Policiais existem para proteger, prevenir crimes e aplicar a lei. Eles só podem agir dentro das regras. Toda força usada deve ser proporcional, necessária e justificada. O poder deles vem do Estado — e esse poder é limitado.
Já bandidos e infratores atuam contra o que a lei determina. Usam força sem autorização, praticam violência sem controle, causam danos e ameaçam a vida das pessoas.
Por isso, quando um policial age fora da lei — humilha, bate, tortura, usa força sem necessidade — ele se aproxima do comportamento criminoso que deveria combater. O policial se diferencia do infrator justamente porque obedece regras que limitam sua ação, protege direitos e responde por abusos.
A autoridade não é um escudo: é uma responsabilidade.
Enquanto policiais desse naipe agem fora da lei, acabam influenciando novatos e intimidando quem tenta cumprir as regras. O profissional correto passa a se sentir um peixe fora d’água dentro da própria corporação — e esse ambiente contaminado
tende a se espalhar, comprometendo toda a instituição.
A pergunta é: o fim da investigação vai ser divulgado de forma transparente? Ainda que os envolvidos não façam B0, por medo, existem vídeos feitos pelos próprios PMs.
Matéria de Rafaella Pimentel pode ser vista no JT1, excepcionalmente apresentado por Moab Augusto nesta quarta-feira
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