Operação Alvitre: entenda o papel de cada envolvido no esquema de Ipojuca
Delegado detalha como vereador, vice, laranjas, associação e empresa fantasma atuavam no desvio de R$ 12 milhões
Com informações de Carlos Simões
A segunda fase da Operação Alvitre expôs, nesta quarta-feira (19), a engrenagem de um esquema que teria drenado recursos públicos de Ipojuca por meio de emendas parlamentares. Quatro prisões foram efetuadas desde ontem: dois vereadores, o presidente da Associação Filhos de Ipojuca e um empresário de Bezerros.
Segundo o delegado Ney Rodrigues, entre os casos mais graves está o do presidente da Câmara, Flávio do Cartório (PSD), que direcionava suas próprias emendas para a Associação Filhos de Ipojuca — entidade que, na prática, pertencia a ele, embora estivesse registrada em nome de terceiros.
No carro do parlamentar e do vice, Professor Eduardo (PSD), a Polícia Civil apreendeu cerca de R$ 17 mil e um caderno com valores que, segundo a investigação, indicam um possível esquema de rachadinha, com anotações que somavam R$ 350 mil apenas no mês de outubro.
Um empresário de Bezerros, com identidade ainda não divulgada oficialmente, e o presidente da Associação Filhos de Ipojuca também foram presos. A entidade recebeu R$ 12 milhões para serviços de saúde que não tinha capacidade de prestar.
Valor que daria para construir pelo menos duas UPAs
O valor desviado impressiona quando colocado na vida real: R$ 12 milhões dariam para construir duas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) de porte I no Nordeste, segundo parâmetros do Ministério da Saúde, que estima em cerca de R$ 5,8 milhões o custo de cada unidade.
Dependendo do modelo construtivo — modular, pré-moldado ou metálico — seria possível erguer até três unidades menores, capazes de atender milhares de pessoas por mês.
Em vez disso, o dinheiro público irrigou uma associação sem capacidade técnica, empresas fantasmas e uma rede de laranjas. É um valor que poderia ter virado porta aberta, leito, sala de medicação e vida salva — e virou desvio.
Salários de até R$ 30 mil divididos em rachadinha
A apuração indica que servidores recebiam salários que chegavam a R$ 30 mil para sacar parte do montante e repassar ao vice. As investigações ainda miram outras associações e parlamentares que enviaram recursos a entidades suspeitas.
O Ministério Público e a Polícia Civil querem entender por que ao menos nove vereadores destinaram emendas para instituições sem condições de executar serviços públicos.
Além dos desvios, uma mulher ligada a uma dessas associações foi assassinada no curso da investigação. A Polícia Civil informa que ainda não há provas de relação entre o homicídio e o esquema, que envolve indícios de organização criminosa, peculato e corrupção passiva.
Veja também: Ministério Público e polícias cumprem mandados contra corrupção em Ipojuca
PAPEL DE CADA PERSONAGEM
1. Presidente da Câmara de Ipojuca — Flávio do Cartório (PSD)
- Apontado como líder do núcleo político.
- Encaminhava emendas para a associação que, segundo a polícia, pertenceria a ele por meio de laranjas.
- A Filhos de Ipojuca não tinha estrutura para prestar serviços de saúde.
- É suspeito de comandar um esquema de rachadinha com servidores do gabinete.
- Foi preso com R$ 14 mil em espécie.
2. Vice-presidente da Câmara — Professor Eduardo (PSD)
- Estava com o presidente no momento da abordagem policial.
- A polícia viu indícios de flagrante devido à movimentação de valores e documentos suspeitos.
- Com ele, foram apreendidos cerca de R$ 3 mil.
- No veículo, havia anotações com nomes de servidores do gabinete e valores atribuídos a cada um.
- O total chegava a R$ 350 mil em outubro.
- Segundo o delegado, alguns servidores recebiam até R$ 30 mil, sacavam e devolviam parte ao vice — prática típica de rachadinha.
3. Presidente da Associação Filhos de Ipojuca — Severino Joaquim da Silva
- A associação recebeu R$ 12 milhões entre 2022 e 2025.
- Segundo a polícia, é um laranja do presidente da Câmara.
- Já trabalhou no gabinete do vereador e seria pessoa de confiança.
- Foi preso com cerca de R$ 14 mil.
- Conforme o delegado, demonstrou baixo nível de instrução e não sabia explicar o que era uma emenda parlamentar.
4. Empresário preso em Bezerros
- Identidade ainda não divulgada oficialmente.
- Dono de uma empresa que prestaria serviços à Filhos de Ipojuca.
- A empresa seria fantasma, segundo a investigação.
- Parte do núcleo empresarial que fornecia notas ou serviços fictícios para justificar o desvio de recursos.
5. Outras associações investigadas
- Algumas contratavam outras em cadeia — todas sem capacidade técnica.
- Não conseguiam executar os serviços de saúde para os quais recebiam verba.
- Integravam o que a polícia chama de rede de esvaziamento de recursos.
6. Caso Simone Marques — a funcionária assassinada
- Simone Marques era funcionária administrativa de uma faculdade ligada ao esquema, não professora, segundo o delegado.
- Presidiu uma das associações investigadas.
- Tinha relação com o responsável pela instituição de ensino, preso na primeira fase.
- Foi assassinada antes de depor.
- O caso é investigado pela Delegacia de Homicídios; não há prova de relação com os desvios.
7. Papel da Faculdade Novo Horizonte
- A instituição, gerida por Gilberto Claudino da Silva Júnior, também recebeu emendas.
- O gestor foi preso na primeira fase.
- A ligação entre Simone e o responsável era um dos pontos que seria esclarecido na investigação.
- Até o fechamento desta matéria no JT1, os advogados dos suspeitos presos não haviam se posicionado.Veja entrevista do delegado Ney Rodrigues ao repórter Carlos Simões. É só clicar no link que vai direto
https://tribunaonline.com.br/pernambuco/policia/ministerio-publico-e-policias-cumprem-mandados-contra-corrupcao-em-ipojuca-282229?home=pernambuco
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