Mulher denuncia policial militar por estupro dentro de posto do BPRv no Cabo
Vítima de 48 anos contou que foi levada para uma sala escura após o agente dizer que ela iria “beber água”

Um policial militar é acusado de estuprar uma mulher dentro de um posto da própria corporação. O crime aconteceu na noite da última sexta-feira (10), no posto do Batalhão de Policiamento Rodoviário (BPRv), próximo ao Shopping Costa Dourada, no Cabo de Santo Agostinho, na PE-60. A mulher, de 48 anos, voltava para casa com duas filhas — de 9 e 16 anos — e uma amiga. Foi parada em uma fiscalização de rotina.
O policial pediu os documentos do carro. O veículo havia sido comprado há pouco tempo, e ela acreditava estar tudo em dia. Para se certificar, ligou, na frente dele, para o antigo dono, mas ele informou que só resolveria na segunda-feira (13). "No dia que ele me passou o carro, o carro estava em dia. Só que depois venceram as demais", afirmou.
Dessa forma, o PM afirmou que a situação era irregular. E então disse, com naturalidade, que ela o acompanhasse para “beber água” dentro do posto.
Ela não tinha pedido água. Mas obedeceu. Outros dois colegas PMs ouviram. Para ela, aquilo soou como uma senha. Não havia Policial Rodoviário no local, na avaliação da mulher (eles usam roupas diferenciadas de um PM).
A vítima foi conduzida até uma sala. Ele apagou a luz. E ali, no escuro, a autoridade virou algoz. A mulher resistiu. Cruzou as pernas. Chorou. Lembrou das filhas esperando no carro. Ele não parou. Forçou a cabeça dela para baixo para que ela fizesse sexo oral. Ao terminar, ordenou: “Pegue água para tirar da boca.”
O abuso sexual, que também se mistura com abuso de poder - durou cerca de vinte minutos. Saiu da sala sem olhar para os outros dois policiais. Eles continuavam sentados, conversando, como se nada tivesse acontecido.
“Quem vai beber água não passa vinte minutos sumido”, diria depois, em depoimento.
De cabeça baixa, voltou para o carro. Não contou nada. Nem às filhas, nem à amiga. Só no dia seguinte, depois de um dia inteiro tentando trabalhar, criou coragem para denunciar.
Na Delegacia da Mulher do Cabo, reconheceu o agressor por fotografia.
O silêncio e o medo
A roupa usada na noite do estupro foi recolhida — ela havia tentado se limpar com ela. O corpo, porém, não foi encaminhado para exame pericial.
A mulher acredita que o policial já tenha feito outras vítimas. “Ele estava muito tranquilo. Parecia acostumado”, disse.
O caso foi encaminhado à Corregedoria da Polícia Militar. O suspeito foi identificado, mas segue no quadro da corporação.
Os outros dois policiais — que estavam no posto durante a violência — também são investigados.
Ela teme represálias. Durante a abordagem, o policial teve acesso aos seus dados pessoais.
“Nos meus piores pesadelos eu nunca imaginei viver isso. Ainda mais de alguém que devia me proteger”, relatou.
Reação e cobrança institucional
A denúncia chegou à Comissão de Direitos Humanos da OAB-PE e ao Gajop (Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares).
Segundo a advogada Maria Julia Leonel, o episódio “viola direitos humanos institucionais” e provocou a formação de uma frente para garantir apoio jurídico e social à vítima.
Ela afirmou que a Secretaria da Mulher de Pernambuco também foi acionada para acompanhar o caso e cobrar respostas da Secretaria de Defesa Social. Um pedido foi enviado ao Ministério Público para identificar os quatro policiais de plantão e as providências adotadas.
Em comunicado, a OAB-PE afirmou que acompanhará o caso “de perto”, em defesa da dignidade da mulher e da transparência das investigações.
A Ordem classificou o crime como “intolerável”, sobretudo por ter sido praticado por quem jurou proteger.
O caso reacende o debate sobre a responsabilidade das instituições diante de crimes cometidos por agentes do Estado. A violência partiu de alguém que deveria garantir segurança, e a apuração transparente é vista como essencial para preservar a confiança da sociedade na corporação.
Em nota, a Polícia Militar de Pernambuco informou que determinou a abertura imediata de um Inquérito Policial Militar para apurar o caso. O Comando-Geral classificou a denúncia como grave e afirmou que os policiais envolvidos serão afastados das funções operacionais.
A corporação declarou “não compactuar com comportamentos que contrariem os valores éticos e disciplinares da instituição” e disse lamentar o ocorrido, reforçando o compromisso com “a legalidade, a transparência e a justiça”.
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