Homem corta mulher, tenta incendiar o corpo e vesti-lo para ocultar feminicídio
Vizinhos pensaram que Gabriela Soares estava sendo socorrida, mas a realidade era outra e cruel. Suspeito do crime se matou na cadeia
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Atualizada às 20h40
O clima de apreensão tomou conta da Rua do Riacho, no bairro de Prazeres, em Jaboatão dos Guararapes, desde a última quarta-feira (18). Moradores percebiam movimentações estranhas, viam o entra e sai do companheiro da vítima, mas não sabiam exatamente o que havia acontecido dentro daquela casa.
A resposta veio de forma brutal nesta sexta-feira (20): Gabriela Soares da Silva, de 32 anos, foi encontrada morta, com sinais de violência extrema.
A perícia revelou um cenário aterrorizante: ela tinha um corte profundo provocado por arma branca. Começava na virilha e seguia até o flanco esquerdo do tórax, deixando as vísceras expostas.
O corpo estava em início de decomposição quando foi encontrado e, durante as investigações realizadas, a polícia apurou que o suspeito teria tentado atear fogo no corpo da vítima e buscou vesti-la para encobrir o cheiro forte.
O suspeito é Pedro Henrique dos Santos Bezerra, também de 32 anos, ex-presidiário, que passou 16 anos encarcerado por homicídio, roubo e tráfico.
Ele foi preso em flagrante na cena do crime, após resistir à chegada dos bombeiros e da polícia, jogando objetos do primeiro andar, onde morava com a companheira.
As contradições do suspeito na cena do crime
Do primeiro andar onde Pedro Henrique morava com Gabriela, voaram fraldas geriátricas da mãe dela, que havia falecido, cadeira de rodas, baldes, entre outras coisas de menor porte.
A investigação aponta que o corpo da companheira ficou dois dias dentro da residência, enquanto ele tentava decidir como se livrar dele.
Inicialmente, pensaram que estava abraçado com o corpo ao flagrá-lo na pequena varanda, em vídeo, mas não. Ele estava arrastando o corpo para fora do imóvel e estava curvado tentando vestir suas roupas.
Não teve sucesso na iniciativa porque a vítima já estava muito inchada, devido ao tempo exposição. Pedro Henrique terminou o falso socorro todo ensanguentado. Queria provar que ela tinha ateado fogo em si mesma e fingia tentar salvá-la do incêndio.
Quando as equipes dos bombeiros chegaram, contudo, ele tentou dificultar o acesso dos profissionais, que, ao encontrar o cenário desolador, chamaram a polícia militar, representada no local pelo 6º Batalhão.
Testemunhas relataram que o relacionamento era marcado por constantes brigas, ameaças e episódios de violência. Para as vizinhas, a motivação do crime foi financeira.
Na quarta-feira (18), quando os dois discutiram, Gabriela falou em voz alta que daria mais dinheiro para ele, que estava fazendo uso de drogas. No mesmo dia, ele levou uma televisão e um ventilador da casa.
Quem esteve na cena chocante do crime foi a repórter Simone Santos, da TV Tribuna PE/Band. Ele participou da entrevista coletiva, viu toda a movimentação do caso de perto e conversou com amigas de Gabriela.
A cena chocou os moradores e moradoras que já haviam presenciado discussões e ameaças. Segundo duas amigas da vítima, a mãe dela (Dona Vera), que já faleceu, sempre foi contra o relacionamento, por conta do passado do suspeito.
Mas a filha não seguiu seus conselhos. Gabriela trabalhava como cozinheira dentro do Centro de Observação Criminológica e Triagem Professor Everardo Luna (Cotel), quando o conheceu e acompanhou todo seu processo de liberdade, acreditando que ele mudaria. Não mudou.
O delegado Sérgio Ricardo, que comanda as investigações, foi indagado sobre imagens gravadas pelos moradores, que mostram o suspeito arrastando o corpo da Gabriela até a varanda e tentando vestir uma roupa nela.
Ao ser questionado se ele estava tentando montar um cenário para encobrir o crime, simulando que ela teria causado o incêndio, Sérgio Ricardo Respondeu.
“Não descartamos nenhuma hipótese. Todas as versões estão sendo analisadas, tanto a dele quanto de outras testemunhas. Existem informações que não batem, que não têm verossimilhança.”
Veja abaixo, trechos de entrevistas do delegado Sérgio Ricardo, que comanda as investigações.

O CENÁRIO DO CRIME
“Assim que tomamos conhecimento do fato, nós nos deslocamos imediatamente para cá. É um cenário que apresenta sinais de incêndio, onde tem uma vítima do sexo feminino com uma grande lesão de arma branca na região da virilha, se estendendo para a região do flanco esquerdo do tórax ( um corte só), com exposição de vísceras.”
CASA REVIRADA E SINAIS DE VIOLÊNCIA
“A casa está totalmente em desalinhos, móveis revirados em alguns ambientes. São cinco cômodos, além de um banheiro. Existe um quarto onde a vítima guardava objetos da mãe, como fotos e uma cadeira de rodas. O quarto onde ela dormia possuía uma grade de ferro.”
INVESTIGAÇÃO MINUCIOSA E CONTRADIÇÕES
“Nós coletamos várias informações, cruzamos dados e estamos com uma equipe especializada no DHPP ouvindo testemunhas e o imputado. As versões apresentadas por ele não se encaixam. Estamos conduzindo tudo com bastante paciência e cautela para que se faça justiça.”
NEGATIVA E COMPORTAMENTO AGRESSIVO
“No DHPP, ele nega as acusações. Estava bastante eufórico e nervoso. É ex-presidiário e me confessou espontaneamente ter cometido um homicídio contra um homem. Estamos checando todas essas informações nos sistemas da polícia.”
TENTATIVA DE ENGANAR A POLÍCIA E OS VIZINHOS
“Fizemos a oitiva do oficial dos bombeiros que foi hostilizado e que, a princípio, teve a entrada negada. O suspeito, meio que agressivamente, disse que entendeu que era o bombeiro e que estava tentando ressuscitar a vítima. Mas os sinais que o corpo apresenta indicam que ela já estava morta há algum tempo. Isso será confirmado pela perícia no IML.”
O VÍDEO QUE CHOCOU A VIZINHANÇA
“Não descartamos nenhuma hipótese. Todas as versões estão sendo analisadas, tanto a dele quanto de outras testemunhas. Existem informações que não batem, que não têm verossimilhança.”
HISTÓRICO DE VIOLÊNCIA PREGRESSA
“Recebemos informes de que ele teria matado uma ex-companheira em Marcos Freire. Precisamos checar se isso procede e se pode ser incluído na análise desse procedimento.”
RELACIONAMENTO MARCADO POR AGRESSÕES
“É cedo para afirmar tudo, mas sabemos que o casal tinha um histórico complicado. As investigações continuam. Há muitos elementos estranhos. O corpo da vítima apresenta sinais de morte ocorrida há alguns dias.”
DESAPARECIMENTO DO CELULAR E TENTATIVA DE ENGANAR A FAMÍLIA
“Procuramos o celular da vítima, mas não foi encontrado. Temos informações de que ele teria ligado para um familiar dizendo que estava socorrendo ela, o que não procedeu. Isso também será analisado.”
MAU CHEIRO E CENÁRIO DESOLADOR
“O mau cheiro era tão forte que a viatura da polícia ficou inutilizada. Ele estava 'abraçado' ao corpo durante esse tempo. Havia mistura de material genético, água, ração de animais e vísceras expostas, o que gerou um odor insuportável.”
CÂMERAS DE SEGURANÇA APREENDIDAS
“Na frente da casa havia uma câmera de monitoramento. Apreendemos esse equipamento e o material será periciado pelo grupo especializado em homicídios, o GEP.”
ARMA BRANCA APREENDIDA
“Foram apreendidas cinco facas grandes no local. Estamos trabalhando com todas as informações e, repito, não descartamos nenhuma hipótese.”
Atualização: No início da noite desta sexta-feira (20), a produção de jornalismo da TV Tribuna recebeu a informação de que Pedro Henrique dos Santos Bezerra cometeu suicídio dentro do DHHP, utilizando para isso uma peça de roupa.
Veja a matéria da TV Tribuna PE/Band abaixo a partir de 4min10. É só clicar que vai direto
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