“Ela vai passar o Natal com o filho. O meu está morto”, diz mãe de trabalhador
Família critica soltura de Gabriel Graciliano, que dirigia embriagado, e pede júri popular pela morte de Alex Nunes, atropelado em Boa Viagem
Com informações de Carlos Simões/JT1
“Ela vai passar o Natal, o Ano Novo com o filho dela, e eu sem meu filho.” A frase, dita entre lágrimas por Cláudia Nunes, mãe de Alex Nunes Viana, resume a dor que tomou conta da família após a Justiça conceder habeas corpus ao jovem que atropelou e matou o trabalhador na Avenida Boa Viagem, Zona Sul do Recife.
Alex tinha 25 anos. Era montador de estruturas. Trabalhava de madrugada, fazia hora extra para comprar uma geladeira para a mãe. Morreu após ser atingido por um carro dirigido por Gabriel Graciliano Guerra Barreto de Queiroz, de 19 anos, que conduzia o veículo sob efeito de álcool e em alta velocidade, segundo a investigação.
Com a decisão do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), Gabriel deixou a prisão e passou a responder ao processo em liberdade, sem consequências concretas.
“Soltar um rapaz desse, depois de tudo o que aconteceu… como é que pôde?”, questionou Cláudia.
A dor se mistura à exaustão emocional. Cláudia relata uso constante de medicamentos e dias em que perde a noção do tempo.
“Eu não sei mais o que é dia, não sei o que é noite”, disse. Em um dos trechos mais sensíveis do relato, revelou que chegou a pensar em tirar a própria vida, mas afirma que desistiu por causa da fé e do neto pequeno, que pergunta pelo tio que não volta mais.
A revolta é compartilhada pela irmã Esteffany Nunes, que cobra medidas cautelares mais duras contra o acusado. “Nem isso o Gabriel saiu, para monitorar se realmente ele irá cumprir com o que foi descrito”, afirmou.
Para ela, a ausência de tornozeleira eletrônica e de apreensão do passaporte aprofunda a sensação de injustiça e desigualdade social.
Segundo Esteffany, o tratamento dado ao caso não reflete a realidade de quem vive na periferia.
“Se isso fosse na minha comunidade, no mínimo a pessoa sairia monitorada”, disse.
Do ponto de vista jurídico, a assistente de acusação Emily Amaral afirmou que, apesar da soltura, o processo avançou de forma decisiva.
Segundo ela, a defesa da família conseguiu a mudança da tipificação do crime, que deixou de ser tratado como culposo e passou a ser enquadrado como crime doloso, na modalidade de dolo eventual, quando o agente assume o risco de matar.
“Nós conseguimos alterar a tipificação de crime culposo pra crime doloso”, explicou. Ainda de acordo com a advogada, o processo foi distribuído para uma das varas do Tribunal do Júri da capital, o que garante que Gabriel Graciliano será julgado pelo júri popular.
“O objetivo é que ele seja julgado pelo povo”, disse, destacando que a acusação ainda aguarda laudos periciais e novas provas, o que pode embasar um novo pedido de prisão. “A gente acredita que ele ainda pode voltar pra ser preso.”
A advogada também reforçou a mensagem que o Tribunal de Justiça de Pernambuco passou uma mensagem errada à sociedade neste momento de confraternizações, no qual muitas pessoas bebem e dirigem.
Ao conceder habeas corpus sem medidas cautelares, a Justiça transmite um sinal preocupante à sociedade, segundo a advogada. O de que dirigir embriagado, matar um trabalhador e ser flagrado por câmeras pode não impedir que o acusado volte para casa. Em tempos de confraternizações e consumo de álcool, a decisão não protege, não educa e não conforta quem fico
“Beber e dirigir não é legal”, afirmou. “A partir do momento que você pega um veículo, você assume o risco de matar um inocente.”
Presente no momento do atropelamento, o amigo João Paulo afirma que a tragédia poderia ter deixado ainda mais vítimas. “Minha mãe podia estar chorando hoje”, disse, ao lembrar que quase foi atingido segundos antes do impacto que matou Alex.
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