Apreendido adolescente que liderava rede de crimes, racismo e pornografia infantil
Menino de 17 anos já tinha ameaçado delegada em São Paulo e debochou dos policiais que o apreenderam
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Poucos anos de vida, currículo criminal de gente grande. Pode-se dizer até: assustador. Este é um dos traços do adolescente de 17 anos - apontado pela polícia pernambucana nesta quarta-feira (4) como chefe de uma organização criminosa que espalhava terror na internet e fora dela. Ele foi apreendido em Camaragibe, na Região Metropolitana do Recife.
O adolescente é suspeito de comandar um grupo responsável por atos infracionais análogos a racismo, divulgação de material com pornografia infantil, coação no curso do processo e tentativa de homicídio.
A crueldade do grupo que ele liderava impressiona, segundo a polícia. Uma das ações coordenadas por ele foi o ataque a um morador de rua no Rio de Janeiro, incendiado com um coquetel molotov enquanto o crime era transmitido ao vivo em uma plataforma online administrada pelo adolescente.
PERFIL FRIO E DEBOCHADO
De perfil frio e debochado, o jovem ironizou os policiais durante a apreensão. Ele já havia ameaçado uma delegada da Polícia Civil de São Paulo, chegando a enviar e-mails com informações pessoais e endereços de familiares da autoridade, numa tentativa clara de intimidação após a prisão de outros membros do grupo naquele estado.
De acordo com a Polícia Civil de Pernambuco, o grupo também atraía, manipulava e coagiam meninas — muitas delas também crianças e adolescentes — a enviar fotos e vídeos íntimos.
O material era usado para chantagem, levando vítimas a participarem de transmissões ao vivo nas quais se automutilavam, sob ameaças constantes de exposição.
DELEGADO DESCREVE GRAVIDADE DOS CRIMES

A operação que resultou na apreensão do adolescente, batizada de Game End, foi coordenada pela 9ª Delegacia Seccional (Desec) de São Lourenço da Mata, com apoio do CyberLab do Ministério da Justiça, da Diretoria de Inteligência da Polícia Civil de Pernambuco (Dintel) e do Núcleo de Observação e Análise Digital da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo.
"Ele não demonstrou arrependimento. Foi irônico, debochado, extremamente frio. É alguém que liderava uma organização criminosa violenta, estruturada e que atuava em todo o território nacional", afirmou o delegado Joel Venâncio, que está à frente das investigações.
O adolescente foi encaminhado para o Centro de Internação Provisória (Cenip), por decisão da Vara da Infância e Juventude de Camaragibe, e ficará à disposição da Justiça. A Polícia Civil segue as investigações para identificar outros envolvidos no esquema criminoso.
VEJA O PERFIL COMPORTAMENTAL DO ADOLESCENTE
- Tendência à manipulação
Evidenciada pelo controle sobre vítimas (chantagem com material íntimo) e membros do grupo (definia "castigos" em lives).
- Baixa empatia
Ironia durante a prisão, ausência de arrependimento e participação em ataques violentos (como o caso do morador de rua).
- Busca de poder/domínio
Liderança de uma organização criminosa com ramificações interestaduais e ameaças a uma delegada (detalhando rotina e familiares).
- Comportamento antissocial
Falta de remorço e padrão de violação sistemática de normas (crimes digitais, incitação à automutilação, racismo).
- Exibicionismo
Transmissão de crimes em lives e necessidade de demonstrar controle público (debochar da polícia).
- Calculismo
Ameaças premeditadas (e-mail à delegada) e estrutura hierárquica do grupo.
COMBINAÇÃO ENTRE ANONIMATO E FALTA DE LIMITES
A conduta de adolescentes envolvidos em crimes violentos – como chantagem, exposição de vulneráveis e ataques sádicos transmitidos online têm sido abordados em séries que retratam como a tecnologia pode potencializar comportamentos cruéis.
No Brasil, casos reais, como o deste adolescente de Pernambuco, refletem essa ficção distópica, revelando uma preocupante realidade: a combinação entre anonimato digital, falta de limites e busca por notoriedade virtual tem transformado conflitos juvenis em crimes brutais.
Especialistas no mundo inteiro alertam que, sem políticas públicas que abordem educação digital e monitoramento parental, o problema pode se agravar – e as medidas judiciais, por mais duras que sejam, chegarão sempre tarde, quando o trauma às vítimas já for irreparável.
VEJA TAMBÉM A ENTREVISTA DE LUCIANA QUEIROZ FEITA COM JOEL VENÂNCIO NO JT1, APRESENTADO POR ARTUR TIGRE - A partir de 33 minutos e 47 segundos.
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