A voz do fogo e do silêncio: mais um incêndio de ônibus no Recife
Qual significado pode estar por trás de um protesto assustador, mas sem barulho
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Um novo incêndio a ônibus foi confirmado pela Polícia Militar na Rua Alto da Serrinha, no bairro Alto José Bonifácio, Zona Norte do Recife, nesta quarta-feira (13/12). O 11º BPM, responsável pela segurança na região, recebeu informações sobre o incidente na comunidade e adotou medidas preventivas para evitar a ocorrência de novos crimes.
O incêndio ocorreu perto do terminal de ônibus da comunidade, um prejuízo para quem usa o transporte coletivo. A população local, de certa forma, foi punida.
Esse tipo de protesto, com incêndios, e fumaça escura sufocante, tem sido comum no Recife, como recentemente ocorreu no Cordeiro, Zona Oeste, com fechamento de vias públicas. Naquela ocasião, se viu chamas altas, mas vozes em silêncio.
Neste episódio, as investigações sobre o incidente estão sob responsabilidade da Polícia Civil e podem estar relacionadas à prisão de um traficante. O policiamento foi intensificado na área e nos arredores, com a presença reforçada do Grupo de Ações Táticas Itinerantes (GATI) e das viaturas de contrarresposta. Operações específicas também foram planejadas para combater a criminalidade.
O GATI é uma unidade especializada da Polícia Militar, e seu papel principal é atuar em situações de maior complexidade e risco, contribuindo para a manutenção da ordem pública e o combate ao crime.
O Corpo de Bombeiros foi chamado para deliberar sobre as chamas. Não houve vítimas, mas já é o terceiro incêndio na comunidade desde a segunda-feira (11). Na ocorrência desta quarta-feira, o veículo teve perda total e as chamas ainda atingiram a fachada de uma residência e um material que estava armazenado no terraço.
Segundo a Polícia Civil, por outro lado, os fatos ocorridos no Alto José Bonifácio estão sendo investigados pela Delegacia do Alto do Pascoal.
Existe uma apuração em andamento para saber se há vinculação do protesto com a prisão em flagrante de um homem, de 31 anos, ocorrida no último sábado (09), por tráfico de entorpecentes e posse ilegal de arma. A prisão foi efetuada pela 5ª Delegacia de Polícia de Homicídios/DHPP.
A violência
De acordo com a socióloga e jornalista Thatiana Pimentel, formada pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a reação das comunidades tem raízes complexas e dá sinais.
Ela explica que, para alguns residentes, "a prisão de líderes de tráfico pode ser interpretada como um sintoma de problemas mais profundos, como a falta de oportunidades e a presença persistente da violência nas comunidades”.
“O que pode ocorrer também é que as populações aproveitam a presença da mídia nos momentos das prisões para chamar atenção para a violência excessiva da polícia em ações na comunidade anteriores ou mesmo a falta da polícia na comunidade.” Nesse caso, há barulho, avalia.
A voz do silêncio
No entanto, a socióloga faz uma ponderação. Para ela, quando o protesto é realmente um desejo da comunidade, há faixas e presença de pessoas para falar, reivindicar e protestar.
De acordo com a estudiosa, se não houver faixas e vozes, é possível que a manifestação tenha sido orientada pelos envolvidos na ação policial, ou seja, os prejudicados.
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