Recife se transforma em palco vivo com o 28º Festival Internacional de Dança
Durante 10 dias, a cidade vibra em movimento com mais de 20 espetáculos gratuitos de artistas do Brasil, da Europa e da América Latina

Quando o Recife dança, é como se o tempo se curvasse. Até 26 de outubro, a capital dos ritmos abre os braços — e os palcos — para receber a 28ª edição do Festival Internacional de Dança do Recife. São mais de 20 espetáculos gratuitos, espalhados por teatros e espaços públicos, celebrando a pluralidade dos gestos e das memórias que atravessam gerações e geografias. As apresentações começaram nesta sexta-feira (17) no Teatro Santa Isabel.
Memória em movimento
Com o tema “Memória em movimento”, o festival homenageia o Acervo RecorDança, coletivo dedicado a preservar a história da dança em Pernambuco. A cada cena, o público é convidado a pensar o corpo como arquivo vivo: um repositório de afetos, lutas e resistências.
A iniciativa, promovida pela Prefeitura do Recife, por meio da Secretaria de Cultura e da Fundação de Cultura Cidade do Recife, também tem um viés solidário — haverá arrecadação de alimentos durante as apresentações.
Um mundo de corpos em diálogo
Da França, Argentina e Espanha chegam companhias que trazem novos sotaques para o corpo. Do Brasil, nomes de São Paulo, Minas Gerais e Bahia ampliam o mapa do festival. Mas o protagonismo é da dança pernambucana, que ocupa mais de 70% da programação, reafirmando a potência local.
Além das apresentações, o evento promove aulão de frevo, exposição de artes visuais, Cine Dança, oficinas e mais uma edição do Primeira Cena, projeto que abre espaço para artistas e grupos iniciantes.
Início em alta voltagem
O festival começou em festa — e com história. O Grupo Corpo, de Minas Gerais, abriu a programação comemorando seus 50 anos de trajetória com o espetáculo “Piracema”, apresentado no Teatro de Santa Isabel.
A montagem, feita com 82 mil tampas de lata de sardinha na cenografia de Paulo Pederneiras, une dois criadores em um só corpo coreográfico: Rodrigo Pederneiras e Cassi Abranches. A trilha inédita de Clarice Assad embala a metáfora da piracema — os peixes que sobem a correnteza —, símbolo perfeito da resistência e da recriação constantes da arte brasileira.
Na mesma noite, o público assistiu à reencenação de “Parabelo” (1997), peça inspirada no sertão e embalada por músicas de Tom Zé e Zé Miguel Wisnik.
Açúcar, ancestralidade e memória

O sábado (18) traz uma viagem entre o doce e o amargo. No Teatro do Parque, a companhia francesa Cie Trilogie-Léna Blou apresenta “Le Sacre du Sucre” — um mergulho coreográfico nas memórias amargas deixadas pelos engenhos de cana.
No Museu Murillo La Greca, a exposição “RecorDança: Acervo em Movimento” abre com a Tardezinha no La Greca, ao som do DJ Phino. No Hermilo Borba Filho, estreia “Corpo Ancestral: Dança Nagô em Movimento”, em reverência à herança afro-brasileira.
A pernambucana Flaira Ferro também brilha no fim de semana: apresenta show no Teatro Apolo e comanda um aulão de frevo na manhã de domingo (19).
Corpos que contam histórias
A segunda-feira (20) traz o espetáculo “Nações Africanas”, do grupo Bacnaré, patrimônio vivo do Recife.
Na terça (21), o sol do meio-dia será plateia para o espetáculo “Memória do Mundo”, da Cia ETC, na Praça do Derby — um convite à pausa em meio à pressa. À noite, o festival se espalha pelos teatros Hermilo Borba Filho e Parque, com exibição de curtas no Cine Dança e apresentações de artistas emergentes no Primeira Cena.
Travessias poéticas

A quarta-feira (22) será de contrastes e experiências sensoriais. O paulista Ângelo Madureira apresenta o solo “Delírio”, dedicado às danças populares, enquanto o grupo argentino BiNeural-MonoKultur transforma o jardim do Teatro do Parque em pista de dança com “Dancemos… que o mundo se acaba”.
Na quinta (23), o público se encontra com a Espanha em “Ellas en Lorca”, da Companhia Rosa Flamenca, e com a França em “Corpos”, da Cia La Mangroove, que investiga o lugar do corpo negro entre memória e identidade.
O ritmo do Recife
Os recifenses Gabi Holanda, Guilherme Allain e Isabela Severi assinam dois trabalhos marcantes: “Bolor” e “Onde a Vida Insiste”, apresentados, respectivamente, no Hermilo e na Praça da Várzea.
O segundo fim de semana do festival traz uma mistura explosiva de hip hop, brega, cavalo marinho e baile charme. Na sexta (24), o destaque é a cena local, com “Orunmilá”, de Orun Santana, e “Para expectativa somente desvios”, de Marcos Teófilo.
O sábado (25) será tomado pela “Batalha da Escadaria”, no Compaz Eduardo Campos, com batalhas de all style, baile charme e apresentações do Circo Experimental Negro e da Lúden Cia de Dança.
O encerramento: uma travessia final
O domingo (26) encerra o festival em alto voo. No Teatro de Santa Isabel, a lendária Germaine Acogny, pioneira da dança contemporânea na África, sobe ao palco com o espetáculo “À un endroit du début”, acompanhada do francês Mikaël Serre — uma fusão entre tradições senegalesas e técnicas modernas.
Enquanto isso, no Teatro Hermilo, o Estrela Brilhante celebra o cavalo marinho pernambucano, reafirmando a força das danças populares que sustentam o corpo cultural da cidade.
Corpos que ensinam
A etapa formativa do festival oferece a oficina “Vivência Danças de Blocos Afros”, ministrada por Vânia Oliveira (BA), nos dias 17 e 18. A proposta é fazer o corpo reaprender a lembrar — dançando.

28º FESTIVAL INTERNACIONAL DE DANÇA DO RECIFE
De 17 a 26 de outubro
DIA 17 (SEXTA-FEIRA)
Parabelo e Piracema, Grupo Corpo (MG)
Horário: 19h
Local: Teatro de Santa Isabel
(Libras + Audiodescrição)
DIA 18 (SÁBADO)
Tardezinha no La Greca e abertura da exposição RecorDança: Acervo em Movimento
Horário: A partir das 14h
Local: Murillo La Greca
Exposição Corpo Ancestral: Dança Nagô em Movimento
Horário: 18h
Local: Teatro Hermilo Borba Filho
Show de Flaira Ferro (PE)
Horário:19h
Local: Teatro Apolo
(Libras)
Le Sacre du Sucre, com Léna Blou (França)
Horário: 20h
Local: Teatro do Parque
Parabelo e Piracema, Grupo Corpo (MG)
Horário: 20h
Local: Teatro de Santa Isabel
(Libras + Audiodescrição)
DIA 19 (DOMINGO)
Aulão de Frevo, com Flaira Ferro (PE)
Horário: 10h às 11h30
Local: Teatro Hermilo Borba Filho
Cavalas, com Alana Falcão e Ana Brandão (BA)
Horário: 18h
Local: Teatro Hermilo Borba Filho
(Libras + Audiodescrição)
DIA 20 (SEGUNDA-FEIRA)
Nações Africanas, Bacnaré (PE)
Horário: 14h
Local: Teatro do Parque
(Libras)
DIA 21 (TERÇA-FEIRA)
Memória do Mundo, Cia Etc. (PE)
Horário: 12h
Local: Praça do derby
Projeto Primeira Cena
Horário: 19h
Local: Teatro Hermilo Borba Filho
Meu Frevo é assim, Cia de dança Recifervo / Corpo Fé: Trânsitos de presenças, ausências e águas, de Irys Oliveira / Fissura, de Samuel José / Corpos que dançam entre gerações e memórias, da Escola Viradança
Cine Dança
Horário: 19h
Local: Teatro do Parque
Rastros e Rotas, de Yuriê Perazzini (ES) / Saramuná, de Gabriela Moura (PE) / Longa Repentino, de Drica Ayub (PE) / Cartas de Despedida, de Samuel Dompierry (BA) / Andanças, da Cia NuA - Núcleo Artístico de dança-teatro (PR)

Os Guerreiros: A Luta pela Sobrevivência, Balé Afro Raízes (PE)
Horário: 20h
Local: Teatro do Parque
DIA 22 (QUARTA-FEIRA)
Dancemos... que o mundo se acaba!, BiNeural-MonoKultur (Argentina)
Horário:10h e 14h
Local: Teatro do Parque
Bolor, Gabi Holanda, Guilherme Allain e Isabela Severi (PE)
Horário: 19h
Local: Hermilo Borba Filho
(Libras)
Delírio, Ângelo Madureira (SP)
Horário: 20h
Local: Teatro Apolo
(Libras)
DIA 23 (QUINTA-FEIRA)
Ellas En Lorca, Companhia Rosa Flamenca (Espanha)
Horário: 19h
Local: Teatro Apolo
Onde a Vida Insiste, Guilherme Allain e Isabela Severi (PE)
Horário:19h
Local: Praça da Várzea
(Libras)
Corpos, Cia La Mangroove (França)
Horário: 20h
Local: Teatro do Parque
DIA 24 (SEXTA-FEIRA)
Orunmmilá, Orun Santana (PE)
Horário:14h e 19h
Local: Teatro Hermilo Borba Filho
(Libras)
Para Expectativa Somente Desvios, Marcos Teófilo (PE)
Horário: 20h30
Local: Teatro Apolo
(Libras)
DIA 25 (SÁBADO)
Batalha da Escadaria (PE) + From Afrobeats to hip Hop Heat!, Serafin’s Company (PE) + Batalha de All Style (PE) + Baile Charme (PE)
Horário: 15h às 21h
Local: Compaz Eduardo Campos
O Encontro da Tempestade e a Guerra, Circo Experimental Negro (PE)
Horário: 17h
Local: Teatro Apolo
Ciclobrega, Lúden Cia de Dança (PE)
Horário:18h
Local: Teatro Hermilo Borba Filho
DIA 26 (DOMINGO)
Cavalo Marinho Estrela Brilhante - Corpo, Brincadeira e Tradição Viva (PE)
Horário: 16h
Local: Teatro Hermilo Borba Filho
À un endroit du début, Germaine Acogny e Mikaël Serre (Senegal e França)
Horário:19h
Local: Teatro de Santa Isabel
(Libras)
EXPOSIÇÕES:
RecorDança: Acervo em Movimento
Data: 18 a 26 de outubro
Local: Museu Murilo La Grecca
Corpo Ancestral - Dança Nagô em Movimento
Data: 18 a 26 de outubro
Local: Teatro Hermilo Borba Filho
ETAPA FORMATIVA:
Vivência Danças de Blocos Afros, com Vânia Oliveira (BA)
Dias 17 e 18, das 14h às 18h e das 9h às 13h
No Hermilo Borba Filho
Comentários