O Agente Secreto: o filme, o diretor e a nova aposta do Brasil no Oscar
Indicação nacional garante vaga na corrida, mas ainda não assegura presença entre os finalistas

Nesta segunda-feira, 15 de setembro de 2025, a Academia Brasileira de Cinema anunciou que O Agente Secreto, longa de Kleber Mendonça Filho, será o representante do Brasil na disputa pelo Oscar 2026 na categoria de Melhor Filme Internacional.
Quem é o diretor
O pernambucano Kleber Mendonça Filho é um nome já consolidado no cinema brasileiro, autor de obras como Aquarius (2016) e Bacurau (2019), que lhe renderam reconhecimento tanto nacional quanto internacional. Com O Agente Secreto, ele soma mais uma produção com clima político forte, suspense, crítica social e estética cuidada.
A trama em linhas gerais
O filme é ambientado em 1977, durante o regime militar no Brasil, mais precisamente no Recife. O protagonista é Marcelo, interpretado por Wagner Moura. Marcelo é professor universitário, especialista em tecnologia. Ele deixa São Paulo para se mudar para o Recife buscando deixar para trás um passado misterioso marcado por perseguições políticas.
O cenário que ele encontra — embora inicialmente pareça um refúgio — logo revela tensões: ele passa a sentir que está sendo observado, espionado, e percebe que, embora tente se distanciar do passado, o contexto político e social da época torna impossível uma fuga completa da realidade.
Produção, lançamento e repercussão
A recepção de O Agente Secreto tem sido marcada por entusiasmo tanto do público quanto da crítica internacional.
A estreia em Cannes rendeu 13 minutos de aplausos, além dos prêmios de Melhor Direção para Kleber Mendonça Filho e Melhor Ator para Wagner Moura, reforçando a força estética e política do longa.
Produzido em coprodução com França, Alemanha e Holanda, o filme contou com recursos do Fundo Setorial do Audiovisual e foi rodado em locações do Recife, conferindo autenticidade ao retrato histórico da década de 1970.
Mais do que um suspense político, a obra se consolida como um comentário cultural sobre a memória da ditadura no Brasil, reafirmando o cinema nacional como espaço de resistência, reflexão e diálogo com o cenário internacional.
Importância e expectativas
A escolha de O Agente Secreto para representar o Brasil no Oscar se dá num momento de grande visibilidade para o filme — ele figurava como favorito já desde Cannes, tanto por seus prêmios quanto por sua estética e temática.
Além disso, sua ambientação histórica na ditadura militar, o componente de suspense político, e personagens que carregam dilemas morais e pessoais fortes, contribuem para dar densidade e apelo internacional — que são características muitas vezes valorizadas na corrida do Oscar internacional.
A escolha de o Agente Secreto, no entanto, não significa que outro filme brasileiro não possa participar de outras categorias da premiação. Para isso, é preciso que sejam escritos e acolhidos pelos votantes da Academia de Artes e Ciência Cinematográfica de Hollywood.
Outros atores participam do filme, como Maria Fernanda Cândido, Gabriel Leone, Udo Kier, Alice Carvalho, Isabel Zuaa, Laura Lufési (como Flávia), Thomás Aquino, Hermila Guedes, Carlos Francisco e Kaiony Venâncio.
O impacto cultural de um cinema que revisita a ditadura em tempos de polarização
O impacto cultural de O Agente Secreto ganha ainda mais força quando colocado em diálogo com o momento político atual do Brasil. Ao revisitar o período da ditadura militar, o longa de Kleber Mendonça Filho não apenas reabre feridas históricas, mas também sugere reflexões urgentes sobre vigilância, autoritarismo e as formas sutis de repressão que permanecem presentes em diferentes contextos.
Em um país que ainda enfrenta disputas de narrativa sobre seu passado recente, o filme funciona como um espelho incômodo: provoca debates sobre memória, democracia e direitos civis em uma sociedade que lida com polarização política e crises institucionais. Dessa forma, seu impacto transcende o campo artístico e alcança o cultural e o social, transformando o cinema em ferramenta de resistência e diálogo em tempos de tensão.
Seleção desafiadora
A escolha de O Agente Secreto pela Academia Brasileira de Cinema garante ao longa de Kleber Mendonça Filho a entrada oficial na corrida pelo Oscar 2026, mas não significa que ele já esteja entre os indicados.
O processo na Academia de Hollywood é competitivo: cada país pode inscrever apenas um representante, que será avaliado ao lado de produções de todo o mundo. Na prática, a indicação nacional coloca o filme brasileiro em evidência e abre caminho para a campanha internacional de divulgação.
A partir de agora, o longa será analisado pelos votantes da Academia norte-americana, que selecionarão uma lista com 15 produções (a chamada shortlist).
Deste grupo, apenas cinco títulos avançam para a disputa final na categoria de Melhor Filme Internacional, cuja premiação acontece em março de 2026, em Los Angeles. Ou seja, o anúncio feito nesta segunda-feira é o primeiro passo de uma trajetória que ainda exige visibilidade, críticas favoráveis e articulação de bastidores para garantir ao Brasil uma vaga entre os finalistas.
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