Maciel Melo, doutor do Sertão que a universidade aprendeu a escutar
Aline Moura
Carregando na bagagem experiências de sobra no Diario de Pernambuco e na Folha de Pernambuco, jornais em que atuou em todas as áreas, exceto esportes, Aline Moura integra o time do Tribuna Online PE. E com o seu olhar jornalístico, através da coluna “Pernambuco que encanta”, busca valorizar o que há de melhor nos municípios pernambucanos.
Há títulos que não cabem em molduras. O de Doutor Honoris Causa, concedido pela Universidade Federal de Pernambuco a Maciel Melo nesta quinta-feira (18), é um deles. Não se trata apenas de um gesto institucional, nem de um diploma simbólico. É a universidade, espaço historicamente marcado pelo saber formal, abrindo alas para um conhecimento que nasceu fora dos muros, nos becos da memória, no chão do nosso Sertão, no canto onde canta o sabiá.
Maciel não chega à UFPE como quem pede licença. Chega como quem sempre esteve ali — ainda que por outras vias. O que a academia faz agora é reconhecer que há saber no verso, ciência na cantoria, filosofia na persistência de quem nunca aceitou que mudassem seu canto. Hoje, o palco da coluna Pernambuco que encanta é somente dele.
O caboclo sonhador não negocia o verso
“Não queira mudar meu verso / Se é assim não tem conversa.”
O recado, eternizado em Caboclo Sonhador, vale também para a trajetória de Maciel Melo. Natural de Iguaraci, no Sertão do Pajeú, ele construiu uma carreira inteira sem abrir mão da matriz sertaneja. Nunca diluiu o Nordeste para caber no mercado, nem traduziu o Sertão para torná-lo palatável. Preferiu ser fiel — e isso cobra um preço. Mas também constrói legado.
São mais de 20 álbuns lançados, dezenas de composições gravadas por nomes como Elba Ramalho, Dominguinhos, Flávio José, Xangai, Geraldo Azevedo, Fagner e Zé Ramalho. Canções que atravessaram gerações sem perder o cheiro da terra.
Em 1991, Maciel Melo alcançou reconhecimento internacional ao ficar em segundo lugar no Grammy, na categoria Traditional Folk. O feito se soma a uma trajetória marcada menos pela enumeração de prêmios e mais pela força contínua da obra. Canções que brotam da experiência sertaneja, sustentadas pelo tempo, pelo trabalho constante e pela permanência no imaginário popular.
Um saber que não cabe só na música
Com mais de quinhentas canções já gravadas por ele e por outros intérpretes, Maciel Melo nunca tratou a criação como inspiração rara. Para ele, compor é ofício que não conhece pausa. Enquanto muita gente celebra o que já foi feito, Maciel segue produzindo — escrevendo, musicando, lançando — como quem sabe que o verso, para continuar vivo, precisa andar.
Seria impreciso citar Maciel apenas como compositor. Ele também escreve. Crônicas, memórias, poesia. Transita pela televisão, pelo cinema, por projetos culturais que insistem em afirmar o Nordeste como centro, não como margem. Seu trabalho é atravessado por personagens e referências que se repetem como um rosário íntimo: Padre Cícero, Lampião, a família, o passado que não passa.
É um tipo de conhecimento que não se aprende em bibliografia obrigatória, mas na escuta. Um saber acumulado no tempo, transmitido pela oralidade, pela experiência e pela observação atenta do mundo. Ao conceder o título de Doutor Honoris Causa, a UFPE reconhece que esse repertório também produz pensamento — e produz identidade.
Abram alas para o novo… doutor
“Deixem meu verso passar na avenida.”
O verso passou. E chegou à universidade. O título que Maciel Melo recebe não o transforma em algo que ele não era. Apenas nomeia, com solenidade acadêmica, o que o povo já sabia: há mestres que nunca precisaram de cátedra.
Num tempo em que a cultura popular ainda precisa se justificar, o gesto da UFPE tem peso simbólico. Afirma que o Sertão pensa. Que o forró formula. Que a poesia nordestina também é produção de conhecimento. E que Maciel Melo, esse caboclo sonhador, sempre foi doutor — agora, com diploma.
SUGERIMOS PARA VOCÊ:
Pernambuco que encanta, por Aline Moura
Carregando na bagagem experiências de sobra no Diario de Pernambuco e na Folha de Pernambuco, jornais em que atuou em todas as áreas, exceto esportes, Aline Moura integra o time do Tribuna Online PE. E com o seu olhar jornalístico, através da coluna “Pernambuco que encanta”, busca valorizar o que há de melhor nos municípios pernambucanos.
ACESSAR
Pernambuco que encanta,por Aline Moura
Carregando na bagagem experiências de sobra no Diario de Pernambuco e na Folha de Pernambuco, jornais em que atuou em todas as áreas, exceto esportes, Aline Moura integra o time do Tribuna Online PE. E com o seu olhar jornalístico, através da coluna “Pernambuco que encanta”, busca valorizar o que há de melhor nos municípios pernambucanos.
Aline Moura
Carregando na bagagem experiências de sobra no Diario de Pernambuco e na Folha de Pernambuco, jornais em que atuou em todas as áreas, exceto esportes, Aline Moura integra o time do Tribuna Online PE. E com o seu olhar jornalístico, através da coluna “Pernambuco que encanta”, busca valorizar o que há de melhor nos municípios pernambucanos.
PÁGINA DO AUTORPernambuco que encanta
A coluna Pernambuco que encanta, do Tribuna Online PE, revela histórias inspiradoras dos municípios pernambucanos e seus moradores. Com olhar sensível, informativo e analítico, valoriza as riquezas humanas, econômicas e culturais do estado, mostrando quem transforma comunidades com criatividade, coragem e afeto.