Em Solidão, sementes brotam entre fé, memória e o arroz da terra

Quando o padre Carlos Cortatt, na década de 1940 , chegou a uma pequena comunidade no Sertão do Pajeú, em Pernambuco, surpreendeu-se com o silêncio do lugar. Exclamou: “Nossa, que solidão!”.
Na época, ninguém conhecia bem a palavra, mas acharam bonita e o lugar passou a ter um nome, sendo fundado como município somente em 1963. Mas o que era apenas uma exclamação virou identidade: Solidão, o município mais discreto de Pernambuco, com apenas 5,4 mil pessoas e a 411 quilômetros do Recife, tem histórias para contar.
Hoje, essa mesma terra que nasceu de um nome inusitado guarda outro capítulo — o da volta do arroz da terra, dentro do programa nacional de sementes lançado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar.
O governo federal, por meio Conab, abriu uma nova rodada do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) para 2025. O objetivo é comprar e distribuir sementes, mudas e outros materiais de plantio para os participantes do Programa Arroz da Gente.
A iniciativa, com R$ 10 milhões destinados a todo o país, vai beneficiar comunidades indígenas, quilombolas e agricultores familiares. Solidão foi escolhida para semear mais que grãos: esperança. (Veja os prazos para recebimento das novas propostas)
Vulnerabilidade hídrica

O município sofre com vulnerabilidade hídrica, por isso o meu espanto do programa ser anunciado para lá. A cidade é cortada pelo Riacho da Barra – cobre cerca de 73% do município -, Riacho Tabira (cerca de 12 %) e pelo Riacho Bandeira (cerca de 11 %). Todos ligados à bacia do Pajeú. Mas a vegetação predominante é a caatinga, com temperaturas que podem chegar a 36 graus.

Se o programa prosperar, o que ainda desperta dúvidas nas autoridades locais entrevistadas pelo Tribuna Online PE, será como um milagre. O Arroz da Gente vai para outros municípios de Pernambuco: Triunfo, Carnaíba, Quixaba (outras três cidades do Pajeú) e Goiana, na Mata Norte. A prosperidade do programa, portanto, depende da Conab e da prefeitura, comandada por Mayco da Farmácia (PSB).
O arroz que nasce da água

Na minha cabeça, sempre imaginei plantações de arroz em áreas alagadas. E como isso poderia, então, acontecer em pleno Sertão do Pajeú, no meio da caatinga?
Mas é justamente assim que o cultivo acontecerá em Solidão. Segundo o secretário de Agricultura, Damião Alves Feitosa, graças às características geográficas do município, pequenas áreas de acúmulo de água já permitem que 11 famílias se dediquem à plantação de arroz da terra. Quatro delas já estão em plena produção; outras sete preparam o terreno para colher no próximo ciclo.
O incentivo financeiro é modesto, mas pode aumentar. Cada produtor recebe entre R$ 4 mil e R$ 4,8 mil, o que soma pouco mais de R$ 58 mil injetados na economia local. A proposta, segundo Damião Alves Feitosa, é simples: reviver uma tradição interrompida e valorizar um alimento 100% natural, com forte importância cultural e de mercado.
“O objetivo é incentivar aqueles que já produziam e pararam, além de fortalecer os que permanecem na atividade”, explicou o secretário. Mais do que economia, portanto, o programa pode devolver reconhecimento a uma tradição que, por anos, resistiu apenas na memória.
Economia e fé

Em Solidão, a agricultura divide espaço com o turismo religioso. O município, conhecido pela gruta de Nossa Senhora de Lourdes e pelo Cristo Ressuscitado que observa a cidade do alto da serra, recebe romeiros que movimentam entre R$ 20 mil e R$ 25 mil por mês. A roça, por sua vez, garante de R$ 30 mil a R$ 40 mil mensais com a criação de animais e produção de alimentos.
A chegada do programa de sementes dialoga com essas duas forças. De um lado, o turismo que atrai fiéis e mantém viva a fé coletiva. Do outro, a agricultura, que resiste como sustento e identidade cultural. Entre rezas e plantações, Solidão reafirma sua vocação de sobreviver no limite da seca.

Sementes de resistência
Segundo a Conab, as cooperativas e associações que quiserem participar do programa Arroz da Gente têm até o dia 30 de setembro para enviar seus projetos. Cada organização pode receber até R$ 500 mil, e cada família pode ser contemplada com até R$ 10 mil em sementes.
No edital, os números são frios e exigentes: prazos até 30 de setembro, prioridade para mulheres e jovens. Mas, na prática, cada grão entregue, especialmente em Solidão, carrega séculos de saberes e a esperança de permanecer na terra. O município possui um IDHM de cerca de 0,585, considerado baixo segundo os parâmetros do IBGE. Precisa ser visto!
Se um dia o nome da cidade remeteu ao silêncio, hoje é outro som que ecoa: em Solidão, a esperança germina e anuncia, no arroz da terra, uma promessa de abundância.

Equipamentos que fazem o mar chegar à mesa
Associações comunitárias de cidades do litoral de Pernambuco estão recebendo equipamentos da 15ª Superintendência Regional da Codevasf, como freezers, balanças e caixas térmicas, que ajudam a conservar os frutos do mar comercializados pelos pescadores. Com as doações, a produção local consegue chegar a outras regiões, ampliando a comercialização.
Ao todo, mais de 100 unidades foram entregues. O superintendente Gustavo Melo tem visitado as cidades beneficiadas, conversando com os associados sobre novas oportunidades de atuação da estatal em favor das comunidades litorâneas.
Publicidade em pauta
O Fórum da Propaganda de Pernambuco, promovido pelo Sinapro-PE e Abap-PE, será realizado no dia 10 de setembro, no Hotel Transamérica Prestige Recife. O encontro reúne sócios das agências associadas para debater estratégias e fortalecer o mercado publicitário estadual.
Com mais de 20 anos de existência, o Fórum se consolidou como espaço de troca de experiências e construção coletiva de soluções para o setor. A edição de 2025 abordará temas do Ecossistema Sinapro/Fenapro e levantará novas demandas e ações para atuação integrada das agências.
IMIP oferece cursos gratuitos em oncologia
O Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira (IMIP), em parceria com o Ministério da Saúde e com recursos do Programa Nacional de Apoio à Atenção Oncológica (Pronon), está oferecendo cursos gratuitos na área de oncologia pela plataforma Oncoline.
A iniciativa é voltada a profissionais que atuam ou desejam atuar na assistência, ensino ou pesquisa em oncologia, e inclui aulas on-line, síncronas e assíncronas, adaptáveis à rotina de cada aluno. Entre os cursos disponíveis estão Metodologias Ativas de Aprendizagem, Telessaúde, Educação Permanente para técnicos de enfermagem e pesquisa em oncologia.
O Pronon visa fortalecer a formação de profissionais, ampliar o acesso ao conhecimento especializado e apoiar a prevenção e o combate ao câncer no Brasil. As inscrições podem ser feitas diretamente na plataforma Oncoline: https://oncoline.com.br
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