Do papel preso à gravata de Raymundo da Fonte nasceram fábricas e um legado inteiro
A memória de Raymundo Luiz Cavalcanti da Fonte segue presente no grupo que ele criou — e que agora amplia sua história em Paulista
Há indústrias que passam pela vida das pessoas sem deixar marca. E há outras que, de tão presentes, acabam participando da memória afetiva do país e dos pernambucanos — como a água sanitária Brilux, companheira de todas as faxinas possíveis, o vinagre Minhoto, que tempera as refeições simples e complexas, ou o espiral Sentinela que espantou muita muriçoca nas noites do interior e da capital com sua fumaça circular.
Este é o principal tema da coluna Pernambuco que encanta da semana.
O Grupo Raymundo da Fonte pertence à família das empresas que vivem nos bastidores do cotidiano, no canto da despensa, nos cheiros familiares que sobrevivem ao tempo.
Por isso, quando anuncia a inauguração de uma nova fábrica de sabão em pó em Paulista, o gesto vai além da economia. É uma expansão que reafirma um caminho construído com constância e convicção.
Erguida com mais de R$ 130 milhões de investimento, a unidade está na Vila Torre Galvão, às margens da PE-015. São 4.400 m², capacidade para produzir 8 toneladas por hora e mais de 100 empregos diretos e indiretos movimentando a cidade. Será inaugurada nesta sexta-feira (27).
Num Brasil em que tantas portas se fecham, abrir uma fábrica é quase um ato de resistência.
O grupo, prestes a completar 80 anos, vibra com a mesma energia de quem começou ontem. E vibra porque não está só: quem sustenta esse legado hoje são os acionistas Hisbello de Andrade Lima, Mariza da Fonte Lima, Romero Longman e Célia da Fonte Longman — guardiões de um patrimônio industrial e afetivo que atravessa gerações.
A unidade nasce trazendo 48 novos SKU das marcas Brilux, Sonho e Candura.
E aqui há algo bonito: enquanto o “Sonho” sugere leveza, a “Candura” devolve a ideia de cuidado — lembrando que limpeza não é só tarefa, é desejo de bem-estar. Em Pernambuco, arrumar a casa sempre foi uma forma de organizar a própria esperança.
A Sentinela, o Minhoto e o homem que anotava na gravata
Qualquer anúncio industrial do grupo carrega, inevitavelmente, a presença afetiva de Raymundo Luiz Cavalcanti da Fonte, fundador falecido em 2020. Mesmo ausente, ele permanece como um ponto de referência — um farol discreto que ilumina os navegantes.
Raymundo começou em 1946, depois de passar pelo seminário e pelo curso de Direito. Criou o espiral Sentinela, o primeiro inseticida do Nordeste. Depois veio o Alerta, depois o Brilux, depois o Minhoto. Cada produto parecia responder a uma necessidade real das famílias, como se Raymundo enxergasse o país pelos olhos de quem cuidava das casas.
Ele cultivava um ritual curioso e revelador: todos os dias, reunia a equipe em sua sala e ouvia, um por um, o que seria feito.
Tomava nota de tudo em um pequeno papel preso à gravata por um clipe.
Era uma cena que misturava disciplina e simplicidade — a elegância do executivo e a praticidade de quem prefere não confiar apenas na memória. Ali estava um líder que valorizava processos, mas antes deles, valorizava pessoas.
O grupo cresceu assim: com atenção ao detalhe e ao trabalhador. É por isso que seus funcionários sempre disseram que Raymundo “sabia de tudo”, mas não por controle — por interesse genuíno.
E talvez por isso sua presença não se esvaiu: ela segue como fundamento, não como sombra.
A indústria que não esquece de onde veio
As unidades do grupo se espalham por Bahia, Ceará, Pará, Minas e São Paulo. Um mapa que revela ambição, tecnologia, logística. Mas há um elemento que pesa mais: responsabilidade.
Produzir 400 milhões de litros de água sanitária por ano, 300 milhões de sabonetes, milhões de litros de vinagre, amaciante e inseticida é lidar com aquilo que faz a rotina das casas funcionar. Não é apenas mercado — é saúde, é hábito, é cultura doméstica.
O grupo sabe disso.
Por isso investe em reciclagem, adere ao programa Eu Reciclo com compensação mínima de 22% das embalagens, usa PET 100% reciclável para água sanitária e mantém Estações de Tratamento de Efluentes em suas unidades.
Não é sobre perfeição ambiental — mas sobre um compromisso que se renova, como quem entende que crescer exige devolutiva.
Raymundo e a fábrica: o passado que sopra o pó do presente
A nova fábrica de sabão em pó não é só uma obra física. É um desenrolar de história.
O pó que hoje sai das máquinas, em toneladas, nasce da mesma intenção que movia Raymundo em 1946: entregar às famílias aquilo que realmente importa.
Há um equívoco comum em dizer que produtos de limpeza não carregam poesia.
Carregam sim: carregam o cheiro do quintal lavado, o vinagre que acompanha as festas, o brilho que anuncia a visita chegando, o cuidado silencioso que sustenta vidas inteiras.
Numa época em que tudo parece efêmero — empregos, vínculos, projetos —, uma empresa que atravessa oito décadas sem desalojar sua essência merece ser olhada com atenção. E ser elogiada.
Ela permanece porque respeita a própria origem.
E permanece porque quem a conduz hoje entende que o legado não é um monumento, é uma prática diária.
A inauguração de Paulista, então, não é um marco apenas empresarial.
É um gesto de continuidade — um fio que tece presente e passado sem hierarquizar nenhum dos dois.
Se Raymundo estivesse vivo, não se surpreenderia. Sorriria, talvez, com aquele jeito de quem aprova sem barulho. Ele acreditava no valor das coisas construídas passo a passo.
No fim, a fábrica nova é isso: mais um passo.
Um passo que honra o homem que começou com um espiral chamado Sentinela e que, décadas depois, inspira uma indústria inteira a seguir firme — discreta, consistente, profundamente pernambucana.
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