Como agir em relação ao caso de bebidas adulteradas com metanol
Casos recentes de intoxicação que levaram a mortes e sequelas graves deixam consumidores e comerciantes em alerta

Os recentes casos envolvendo mortes e sequelas por ingestão de bebida alcóolica contaminada por metanol deixam em alerta consumidores e comerciantes. Mas, o que todo mundo quer saber é se há como descobrir, antecipadamente, se uma bebida está contaminada ou não. Não é fácil, mas, seguindo alguns caminhos, é possível reduzir os riscos e agir responsavelmente em caso de contaminação.
Pesquisamos informações junto a autoridades sanitárias e na Secretaria Nacional do Consumidor. A primeira coisa a saber é que qualquer bebida alcóolica pode ser adulterada mas, a contaminação por metanol é mais comum em bebidas destiladas como vodka, whisky, gim, conhaque, cachaça, etc.
Em todo o Brasil, o Ministério da Justiça e o Ministério da Saúde, além da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, estão colocando em ação protocolos de segurança e fiscalização para identificar e isolar os atuais casos de bebida adulterada. Até agora, apenas os estados de São Paulo e Pernambuco têm casos em investigação e registro de mortes causados pela intoxicação. Em Pernambuco, as mortes ainda estão sendo investigadas.
O que é o metanol
O metanol é um tipo de álcool industrial, utilizado, entre outras coisas, para fabricação de tintas, solventes e plásticos. Ele é incolor e tem cheiro bem parecido com o etanol comum, por isso é difícil identificar uma mistura com metanol a olho nu. O metanol é utilizado por falsificadores de bebidas por ser barato, mas é altamente tóxico. As autoridades trabalham com a possíbilidade de que o crime organizado tenha desviado uma carga de metanol usada para adulteração de combustíveis para a falsifação de bebidas, depois que a Polícia Federal descobriu o esquema do combustível adulterado.
Vamos dividir as dicas de prevenção e atenção em dois tópicos. Para comerciantes e consumidores.
Para comerciantes:
A nota de orientação da Secretaria Nacional do Consumidor lista um conjunto de ações que devem ser adotadas por fornecedores, distribuidores, bares, restaurantes, organizadores de eventos e plataformas de comércio eletrônico para aumentar a segurança dos consumidores. Entre as principais recomendações estão:
1. Aquisição
- Comprar exclusivamente de fornecedores idôneos, com CNPJ ativo
- Exigir e arquivar a Nota Fiscal eletrônica (NF-e) e conferir a chave de 44 dígitos no portal oficial
- Evitar ofertas com preço anormalmente baixo ou sem documentação fiscal
- Manter cadastro atualizado de fornecedores, incluindo CNPJ, endereço e contatos, para garantir rastreabilidade
2. Recebimento
- Adotar dupla checagem no recebimento: abertura das caixas na presença de duas pessoas, conferência de rótulos, lotes e notas fiscais
- Registrar data, quantidade, fornecedor, número e chave da NF-e
- Guardar recibos, comprovantes, imagens de Circuito Fechado de Televisão e planilhas para pronta cooperação com as autoridades, se necessário
3. Armazenamento
- Identificar todos os colaboradores com acesso ao estoque
- Garantir condições adequadas de armazenamento e controle de acesso, para prevenir manipulações indevidas
4. Sinais de adulteração
- Observar indícios visuais como lacres tortos, rótulos com erros de ortografia, embalagens com defeitos, odor de solvente ou divergências de lote
- Em caso de suspeita, interromper imediatamente a venda, isolar o lote, preservar as evidências e notificar a Vigilância Sanitária, a Polícia Civil, os Procons e o Ministério da Agricultura e Pecuária
Para os consumidores:
- Faça as compras de bebidas em locais de confiança, estabelecidos há algum tempo e legalizados. Peça a nota fiscal
- Desconfie de preços muito abaixo do mercado ou promoções de venda de lotes de bebidas
- Se possível, faça uma inspeção visual. Rejeite o produto se o líqudo estiver turvo ou com partículas de sujeira
- Verifique o lacre da garrafa. Se estiver violado, a bebida pode ter sido adulterada
- Rótulos mal colados, com impressão gráfica de baixa qualidade ou informações borradas também podem ser sinais de falsificação
- Procure na embalagem o registro do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)
No caso dos destilados, procure perto da tampa o selo do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Se não estiver na embalagem, significa que a bebida não foi fiscalizada.
- Os sintomas da intoxicação por metanol são bastante semelhantes a de uma ressaca. E não aparecem logo após a ingestão da bebida, geralmente leva algumas horas. Dores de cabeça, náuseas e vômito são sintomas principais. Por isso, mesmo que tenha bebido pouco, procure uma unidade de saúde se sentir mal.
- Não existem limites seguros para a ingestão de metanol. Ou seja, mesmo quem bebeu pouco da bebida adulterada pode ter sequelas graves como perda da visão (temporária ou definitiva) e danos às celulas, o que leva a morte por colapso de órgãos vitais. Mas é possível se submeter a tratamentos médicos como a aplicação de substâncias que agem como antídoto, reduzindo os efeitos do metanol no organismo, por isso o socorro imediato é fundamental.
- Por fim, mantenha-se informado por fontes oficiais de notícias e veículos de comunicação profissionais. Informações recebidas via redes sociais ou grupos de família e de amigos devem ser checadas em outras fontes oficiais. A desinformação pode ser perigosa quando se espalha fake news que não levam a um conhecimento verdadeiro e útil sobre o assunto.
A quem recorrer
Em pernambuco, o Estado disponibiliza o Centro de Informação e Assistência Toxicológica (CIATox-PE), que funciona 24 horas para orientar consumidores e profissionais de saúde, pelo telefone 0800 722 6001.
Denúncias sobre possíveis irregularidades podem ser feitas pelos seguintes canais:
Ouvidoria da Secretaria Estadual de Saúde: fone 136 ou pelo e-mail: [email protected]
Procon-PE: 0800 282 1512 / (81) 3181-7000 / [email protected]
Delegacia de Crimes contra o Consumidor (Decon): (81) 3184-3835 / [email protected]
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