Traumas digitais: consequências psicológicas do cyberbullying entre adolescentes
Psicóloga traça perfil de quem pratica os atos infracionais e dos traumas das vítimas
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Uma divulgação de falsos nudes por alunos de um tradicional colégio de formação religiosa do Recife, localizado no bairro das Graças, despertou interesse, ao longo de duas semanas, sobre o perfil de adolescentes e jovens que cometem este tipo de ato infracional que machuca amigos ou desconhecidos.
Uma psicóloga entrevistada pelo Portal da Tribuna PE falou sobre algumas características de quem comete este tipo de ação. Ela ainda falou sobre traumas que podem ser causados a pessoas menores de 18 anos após passarem por estas exposições na internet.
Indagada sobre o que leva um jovem a praticar cyberbullying, a psicóloga Rosele Bernades respondeu que o perfil pode variar, mas geralmente inclui características como busca de poder e controle, anonimato, falta de empatia, necessidade de atenção e popularidade, problemas de autoestima e falta de consciência das consequências.
Rosele Bernardes é especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e professora de habilidades sociemocionais.
De acordo com ela, os adolescentes que se envolvem em cyberbullying muitas vezes buscam uma sensação de poder e controle sobre os outros, usando a internet como meio para exercer essa autoridade.
A sensação de anonimato na internet pode encorajá-los a se envolverem em comportamentos prejudiciais, pois se sentem protegidos pela falta de identificação pessoal.
“Em alguns casos, o cyberbullying pode ser influenciado pela pressão de amigos ou colegas, onde um grupo de adolescentes se junta para praticar atos prejudiciais contra um ou mais alvos”, disse ela.
A psicóloga acrescentou: “a empatia é uma habilidade que se desenvolve com a maturidade emocional, e alguns adolescentes podem carecer dessa capacidade de entender e se importar com os sentimentos dos outros”.
Outro aspecto é a necessidade de atenção e popularidade: “alguns adolescentes podem se envolver em cyberbullying para ganhar atenção ou popularidade entre seus pares, mesmo que seja negativamente. Adolescentes com problemas de autoestima podem recorrer à prática como uma maneira de se sentirem melhores consigo mesmos, diminuindo os outros”, pontuou.
Rosele Bernades lembrou que a falta de consciência das consequências também é um estímulo.
“É importante ressaltar que o perfil dos adolescentes que pratica cyberbullying pode ser complexo e multifacetado, e cada caso pode ser único. A prevenção e a educação são fundamentais, ensinando aos adolescentes sobre empatia, respeito online e as graves consequências de suas ações prejudiciais.
Os traumas
Os traumas vivenciados pelas vítimas de cyberbullying têm consequências. De acordo com a especialista, uma pessoa que sofre abuso com a divulgação de fotos de nudes pode experimentar várias consequências psicológicas e comportamentais, incluindo:
Ansiedade e depressão: sentimentos intensos de ansiedade e tristeza podem se desenvolver devido à vergonha, humilhação e exposição pública resultantes do incidente.
Baixa autoestima e autoimagem negativa: a exposição não consensual de fotos íntimas pode abalar a autoestima da vítima, levando-a a desenvolver uma visão negativa de si mesma.
Isolamento social: a vergonha e o medo de enfrentar os colegas podem levar à retirada social, tornando a vítima mais isolada e solitária.]
Trauma emocional: o cyberbullying desse tipo pode causar traumas emocionais duradouros, resultando em flashbacks, pesadelos e estresse pós-traumático (aqui, dependendo de como a rede de apoio for lidar com a situação, pode evoluir para o Transtorno de Estresse Pós-Traumático, também conhecido como TEPT).
Comportamento de risco: alguns adolescentes podem reagir ao trauma de maneiras negativas, envolvendo-se em comportamentos de risco, como abuso de substâncias ou autolesões.
Desempenho acadêmico prejudicado: a angústia emocional resultante do cyberbullying pode afetar o desempenho escolar da vítima, levando a uma queda nas notas e no interesse pelos estudos.
Relações interpessoais prejudicadas: a confiança nas relações interpessoais pode ser afetada, tornando mais difícil para a vítima construir relacionamentos saudáveis e confiar em outras pessoas.
Pensamentos suicidas: em casos extremos, o cyberbullying pode levar a pensamentos suicidas ou comportamentos autolesivos.
Rosele Bernades explicou ser fundamental que os adolescentes que enfrentam situações recebam apoio emocional, incluindo o acompanhamento de um profissional de saúde mental, para lidar com essas consequências e superar o trauma.
“Os pais, cuidadores e educadores também desempenham um papel crucial na identificação precoce do problema e na intervenção adequada para proteger o bem-estar das vítimas”.
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