“Tratada como fantasma”: idosa morre após sumir em transferência entre hospitais
Família de Maria José, 60, acusa o Hospital da Restauração de negligência e falta de informações; unidade confirmou a morte sem prestar solidariedade

Familiares de dona Maria José Damião da Silva, 60 anos, receberam a informação, nesta terça-feira (30), que ela faleceu no Hospital da Restauração, localizado no bairro do Derby, na região central do Recife. A notícia foi dada um dia depois de amigos e parentes passarem por desespero, sem informações de onde estava a paciente, tratada como um fantasma.
Ela havia sido transferida do HR para o Hospital Nossa Senhora de Lourdes, em Jaboatão. Mas, ao retornar, nesta segunda-feira (29), não constaram sua entrada. Era como se nunca estivesse estado lá. Foram momentos de desespero e sem informações sobre a paciente. Horas de medo e dúvidas.
Ela foi internada no HR, a princípio, porque precisava cortar o pé direito por causa de um quadro de isquemia - redução ou interrupção do fornecimento de sangue a um órgão ou tecido, o que resulta na falta de oxigênio e glicose necessários para a sua sobrevivência). O caso foi evoluindo e ela recebeu indicação de amputar a perna direita e o pé esquerdo.
Médicos em situação de guerra
Segundo o filho de Dona Maria, Alisson Silva, fizeram a transferência dela para o Nossa Senhora de Lourdes, alegando diabetes, mas, chegando lá, informaram que ela não tinha tal doença e a mandaram de volta para o HR. O mais grave: a unidade hospitalar na qual já tinha passado não confirmou sua reinternação. E os filhos passaram horas sem saber onde a mãe estava.
O drama de dona Maria começou no dia 13 de setembro por volta das 15h, quando ela foi internada no HR, onde o quadro de médicos também atende como se estivesse numa guerra, de tão sobrecarregado de pacientes.
“Quando ela chegou, era para fazer a amputação do pé. Disseram que era urgência, era para subir para a sala de cirurgia, mas a gente não tinha resultado nenhum, se tinha feito cirurgia ou não, se ela estava bem”, disse Alisson, em entrevista a repórter Simone Santos, no Brasil Urgente, apresentado por Moab Augusto.
Segundo Alisson, a mãe também passou por um cateterismo, mas o drama foi piorando. Passaram-se 10 dias, a isquemia foi piorando, segundo ele, e passou para o pé esquerdo depois de ela perder a direita.
O reinternamento fantasma
“Ela não conseguiu fazer o restante da cirurgia aqui porque não tinha enfermaria para ela. Ela foi transferida para outro hospital. E de lá, ela foi transferida novamente para cá”, declarou Alisson na noite desta segunda-feira (29), antes de sua mãe falecer.
“Entra e sai governante e essa bagunça no Restauração continua. A gente sabe que é um hospital de referência, mas está essa bagunça. Então, o quê? Negligenciaram o caso dela, negligenciaram”, contou a filha Caroline Silva, acrescentando que faltava respeito ao ser humano no hospital. “Eu estive aí dentro e vi coisas assim que você fica assustada”.
“Ela foi transferida para Jaboatão porque o hospital daqui mentiu, dizendo que ela tinha diabetes. Quando souberam que ela não tinha diabetes, mandaram de volta pra cá”, continuou.
“Várias pessoas, não só ela, estão passando por isso, por negligência, por falta de informações. Sem falar que um hospital de grande porte como esse trata os pacientes como fantasmas. Ela voltou do Nossa Senhora de Lourdes, mas era como se fosse uma paciente nova, como se nunca tivesse vindo para cá”.
Nota sem lamento ou solidariedade
Por meio de nota divulgada nesta terça-feira, sem prestar solidariedade ou lamento, o hospital confirmou a morte de dona Maria. A falta de transparência foi explicada desta forma:
“O Hospital da Restauração (HR) informa que os diversos setores de internamento da instituição possuem horários de visita diferentes, e que as orientações sobre as visitas são repassadas pelo Serviço Social. Em um dos horários, a família tem acesso à equipe médica, para saber o quadro de saúde do paciente. Em alguns casos, fora dos horários de visita, a pedido da equipe de assistência, o hospital pode convocar a família para dar alguma atualização”.
Segundo o HR, a paciente de 60 anos já deu entrada na Emergência Geral com um quadro de isquemia nas duas pernas, o que não foi dito claramente aos familiares. O hospital não explicou por qual motivo a mandaram para o Nossa Senhora de Lourdes.
“Durante o período de internamento, a mulher recebeu a assistência multiprofissional necessária, de acordo com o quadro clínico apresentado, tendo sido submetida a exames e procedimentos cirúrgicos, sem intercorrência, até ser transferida para outra unidade de saúde, onde completaria o tratamento. Na tarde desta última segunda-feira, a paciente deu entrada novamente na Emergência do HR, em estado grave, evoluindo para óbito no início da manhã desta terça”.
Antes de morrer, dona Maria passou pela UPA de Paulista, pelo Hospital Miguel Arraes, pelo Hospital da Restauração e pelo Hospital Nossa Senhora de Lourdes. Foram quatro unidades hospitalares que não conseguiram ajudar a senhora, nem prestar esclarecimentos claros aos filhos sobre a paciente.
Veja a nota na íntegra do hospital
O Hospital da Restauração (HR) informa que os diversos setores de internamento da instituição possuem horários de visita diferentes, e que as orientações sobre as visitas são repassadas pelo Serviço Social.
Em um dos horários, a família tem acesso à equipe médica, para saber o quadro de saúde do paciente. Em alguns casos, fora dos horários de visita, a pedido da equipe de assistência, o hospital pode convocar a família para dar alguma atualização.
Em relação à mulher transferida para o HR, a instituição esclarece que, quando a paciente de 60 anos deu entrada na Emergência Geral, já apresentava um quadro de isquemia nas duas pernas.
Durante o período de internamento, a mulher recebeu a assistência multiprofissional necessária, de acordo com o quadro clínico apresentado, tendo sido submetida a exames e procedimentos cirúrgicos, sem intercorrência, até ser transferida para outra unidade de saúde, onde completaria o tratamento.
Na tarde desta segunda-feira (29/09), a paciente deu entrada novamente na Emergência do HR, em estado grave, evoluindo para óbito no início da manhã desta terça (30/09).
Veja o drama dos familiares em matéria do Brasil Urgente, na TV Tribuna/Band, apresentado por Moab Augusto
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