Sobrecarga em navio causa naufrágio fatal: filho denuncia empresa
Segundo o filho de Marcos Antônio Viana, empresa responsável sobrecarregava o navio após fiscalizações da Marinha
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Marcos Antônio Viana, com 58 anos e assistente de máquinas com mais de 30 anos de experiência em rotas marítimas, foi uma das vítimas do recente naufrágio. Seu filho, Airton de Assis, revelou que o pai já havia sobrevivido a outros dois naufrágios durante sua carreira.
Segundo Airton, a empresa responsável pela embarcação, aumentava a carga a bordo após as fiscalizações da Marinha.
“Toda vez que a fiscalização da Marinha saía, eles colocavam mais carga para lucrar mais. O que vocês viram que chegou na praia foram os destroços que sobraram”, denunciou Airton, criticando a postura da empresa. Ele também relatou que, até o momento, a empresa não entrou em contato para oferecer qualquer explicação ou prestar apoio às famílias das vítimas. "Eles lamentaram a perda da carga para Noronha".
Airton desabafou sobre a dificuldade de ter que reconhecer o corpo do pai, enquanto a mãe e as irmãs estão emocionalmente devastadas. “O meu pai não deveria ter morrido assim”, lamentou, reforçando a indignação com a falta de responsabilidade da empresa.
A Marinha do Brasil continua, nesta terça-feira (17), as buscas pelo tripulante desaparecido após o naufrágio do navio cargueiro Concórdia, ocorrido no domingo (15), a aproximadamente 15 quilômetros da praia de Ponta de Pedras, em Goiana, no Litoral Norte de Pernambuco. Ponta de Pedras está localizada a cerca de 60 quilômetros do Recife.
Segundo a Marinha, quatro tripulantes perderam a vida e outros quatro foram resgatados em boas condições de saúde por um navio rebocador. Os nomes dos sobreviventes resgatados são Edvaldo Baracho da Silva, Marcelo Cláudio da Conceição Freitas, Mozart Gomes da Fonseca e Valcei Gomes da Costa.
Oficialmente, a embarcação Concórdia levava 180 toneladas de alimentos e materiais de construção para Fernando de Noronha. A rota tem 545 quilômetros e dura dois dias.
A versão dolorosa de um sobrevivente
O sobrevivente Mozart Gomes da Fonseca, com 25 anos de experiência profissional, esteve no IML para prestar apoio emocional às famílias das vítimas. Muito emocionado, ele apresentou uma outra versão do ocorrido.
Segundo Mozart, a carga molhou e triplicou de peso, além de a embarcação ter perdido o leme, o que agravou a situação.
"A virada é rápida, acontece num piscar de olhos. Estar aqui hoje é comovente. Eu vi corpos passando por mim e precisei voltar à embarcação para pegar um colete para um colega que já estava distante, correndo o risco de ser sugado." Ele se referiu ao momento em que, durante o naufrágio, a água ao redor é sugada para baixo.
O que diz a família do comandante?
Já Edriano Gomes de Miranda, de 48 anos, era o comandante do navio. Sua esposa, Bruna Silva, e o filho estiveram no IML para reconhecer o corpo. Bruna revelou que trocou mensagens com o marido em uma rede social pouco antes do naufrágio, e ele mencionou o risco que surgiu quando a carga se soltou.
“O que ele me contou foi isso, que a carga tinha se soltado. Por isso eles precisavam voltar para o porto de Recife. (...) Eu perguntei: você vem para Recife ou vai para Natal? Ele respondeu: ‘peraí’. Depois disso, não me respondeu mais”. “Ele sempre foi prestativo, só saia do porto quando a Marinha liberava, sempre averiguava tudo”, disse, emocionada.
Segundo Anderson Miranda, filho de Edriano, o pai detectou uma falha mecânica na embarcação e solicitou auxílio de um rebocador que estava passando próximo. No meio do caminho, já sendo rebocado, o barco afundou. O comandante ainda conseguiu distribuir alguns coletes. Naquele momento, estava escuro e chovia.
Os nomes dos falecidos e do tripulante desaparecido ainda não foram divulgados. As buscas continuam com o apoio da estrutura do Salvamar Nordeste e do navio-patrulha Macau. A empresa ainda não se pronunciou sobre a denúncia. O espaço está aberto.
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