Prefeitura de Olinda confirma consulta médica dois anos após morte de paciente
A consulta, agendada para 16 de setembro, foi confirmada apenas após o segundo aniversário da morte de Valdir Cândido Duarte
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Uma moradora de Olinda, Débora Pantaleão, recebeu da prefeitura, na última terça-feira (20), a confirmação de que uma consulta com um neurologista para seu pai, Valdir Cândido Duarte, estava agendada para o próximo dia 16 de setembro. No entanto, a mensagem chegou apenas um dia após o segundo aniversário da morte de Valdir.
Em entrevista ao G1 Pernambuco, Débora relatou que havia solicitado a consulta em 2021, após seu pai, então com 64 anos, sofrer um acidente vascular cerebral (AVC). Valdir foi inicialmente atendido por um geriatra, que o encaminhou a um neurologista.
Porém, Valdir faleceu em 19 de agosto de 2022, aos 65 anos, após sofrer um segundo AVC, sem ter recebido o atendimento necessário. Caso estivesse vivo, ele ainda teria que esperar mais um mês para ser atendido.
"Parecia um deboche", disse filha
"Parecia um deboche. No aniversário de morte dele, o cemitério me liga dizendo: 'Você tem interesse na ossada? Você tem até hoje [para dizer se vai buscar]'.
Na sequência, recebo o e-mail [da confirmação da consulta]. (...) Meu pai faleceu e, dois anos depois, a confirmação dessa consulta que ele tanto esperou em vida para ter um acompanhamento digno chegou", disse Débora.
Procurada, a Prefeitura de Olinda reconheceu falhas na integração dos sistemas do Sistema Único de Saúde (SUS) e afirmou estar "empenhada" em evitar que situações semelhantes se repitam.
Consulta com neurologista marcada 3 anos depois
Débora relatou que decidiu buscar atendimento para seu pai após perceber dificuldades que ele apresentava para falar e urinar.
Valdir foi levado ao posto de saúde de Rio Doce e, posteriormente, encaminhado para uma consulta com um geriatra na Policlínica São Benedito. A primeira consulta levou cerca de um mês e meio para ser marcada.
O geriatra solicitou exames e encaminhou Valdir para consultas com um neurologista e um cardiologista.
Segundo Débora, ela solicitou imediatamente as consultas para as duas especialidades, mas a confirmação com o neurologista só ocorreu três anos depois. Durante esse tempo, não houve resposta para a consulta com o cardiologista.
Antes da morte de Valdir, Débora procurou a policlínica em busca de informações sobre os agendamentos, mas foi informada de que "era sistema e tinha só que aguardar mesmo, porque não podiam fazer nada. Era tudo agendado pelo sistema".
Sem conseguir retorno do SUS, a família recorreu a um médico particular para dar continuidade ao tratamento. Os exames necessários, como a ressonância magnética e a eletroneuromiografia, foram realizados em clínicas privadas, com um custo total de cerca de R$ 3 mil.
"Só na ressonância [magnética], paguei R$ 2 mil. Da eletroneuromiografia, que era para descartar uma suspeita de ELA (esclerose lateral amiotrófica), paguei na faixa de R$ 1 mil. A gente usou o cartão de crédito, a família se reuniu e pagou. E nisso a gente ficou esperando o agendamento com o neuro do SUS e esse retorno nunca aconteceu", afirmou Débora.
Em agosto de 2022, Valdir sofreu o segundo AVC e foi levado para a UPA de Jardim Paulista, no Grande Recife. Posteriormente, ele foi transferido para o Hospital da Restauração, onde contraiu uma infecção e faleceu poucos dias depois.
"Graças a Deus a gente tem uma família grande que conseguiu pagar [pelo tratamento]. Mas, e uma família que não tem condições de pagar para fazer uma ressonância e uma eletroneuromiografia para saber o que tem?", questionou Débora.
Veja a resposta da Prefeitura de Olinda
A Prefeitura de Olinda, em resposta ao g1, lamentou profundamente a situação enfrentada pela família de Valdir Cândido Duarte e reconheceu a dificuldade que o atraso na consulta médica causou.
Em sua nota, a administração municipal explicou que a marcação de consultas é realizada com base nas informações registradas em um sistema de fila de espera, que prioriza o tempo de entrada do paciente e a gravidade clínica.
A Prefeitura admitiu que, em algumas especialidades, o tempo de espera pode ser excessivo devido à alta demanda, lacunas nas informações dos encaminhamentos ou problemas na comunicação com o usuário, como dados desatualizados.
Durante a pandemia, quando a solicitação pela família de Valdir foi feita, houve uma priorização de casos urgentes, o que resultou na postergação das consultas com especialistas.
A gestão municipal está empenhada em revisar e melhorar os critérios de comunicação e priorização para evitar situações semelhantes no futuro.
Além disso, o sistema de marcação de consultas do SUS deveria ser atualizado regularmente pelo DataSUS para refletir o estado dos pacientes, incluindo óbitos.
A Prefeitura reconheceu falhas na comunicação entre diferentes sistemas e bancos de dados, o que pode fazer com que pacientes falecidos permaneçam na fila de espera. Esforços estão sendo feitos para melhorar a integração dos sistemas e garantir uma atualização eficaz e em tempo real dos dados.
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