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Cidades

Por que os homens matam as mulheres que dizem amar?

Aumento do conservadorismo, perda de controle da mulher e do papel de provedor são algumas das causas


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Imagem ilustrativa da imagem Por que os homens matam as mulheres que dizem amar?
|  Foto: Antônio Violla

Por que os homens matam as mulheres que dizem amar? A pergunta é levantada a cada nova notícia que passa nas mídias tradicionais e sociais sobre feminicídio, um crime que deixa marcas de sangue no chão, nos objetos, nas paredes, em todo lugar - sinais de uma morte violenta dentro de casa. Elas, nós, eu, todas sem uma resposta que faça sentido em pleno século 21.

A pena para feminicidas aumentou para 40 anos de prisão desde outubro, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas os homens não param de matar as mulheres que rompem seus relacionamentos tóxicos, aquelas que tentam se libertar dos dias de terror e opressão. Eles dizem amá-las. Pura mentira.

Em Pernambuco, 60 mulheres foram mortas por companheiros nos 10 primeiros meses do ano, segundo dados da Secretaria estadual de Defesa Social. Os números são menores, inclusive, em relação ao mesmo período do ano passado, que chegou a 66. Mas continuam assustando.

Segundo informações do Instituto Banco Vermelho, Pernambuco ainda é o estado do Nordeste que mais mata mulheres. Eles, os homens, continuam repetindo a frase: “se não é minha, não é de mais ninguém”.

Esta é a primeira reportagem da série “Que amor é esse?, que será publicada pelo site Tribuna Online, da TV Tribuna/Band, nas segundas-feiras, a partir de hoje (9) até o dia 23 de dezembro. A série terá o olhar de especialistas, das autoridades, das vítimas e de seus órfãos.

Quando os homens vão parar?

Imagem ilustrativa da imagem Por que os homens matam as mulheres que dizem amar?
A maioria das entrevistadas concorda com outro ponto: os homens não aceitam perder o controle |  Foto: Banco Vermelho/Divulgação

A reportagem do Tribuna Online buscou entender as raízes do feminicídio, ouvindo mulheres que refletiram sobre as motivações dos agressores, as falhas da sociedade em enxergar sinais de violência e o que precisa ser feito para promover mudanças reais. A pergunta que ecoa é: quando os homens vão parar de matar?

A reação sobre a última pergunta foi respondida em uma única voz por  mulheres que fazem parte da roda que busca interromper o ciclo de violência doméstica. “Eles não vão parar, mas os números podem ser reduzidos”.

A resposta redonda que se procura para entender porque os homens matam as mulheres que dizem amar não é única, as causas são múltiplas.

O ciclo da violência e a mentalidade de posse

A maioria das entrevistadas concorda com outro ponto: os homens não aceitam perder o controle. Quando eles não permitem que elas deixem o relacionamento, saiam de casa, estão legitimados de geração em geração pelo patriarcado e fortalecidos pela onda de conservadorismo que atinge o Brasil e o mundo. O feminicídio também faz parte da política, da política pública ou ausência dela.

“O sentimento de propriedade do corpo feminino e a crença de que podem exterminar o corpo que desafia seu poder e sua dominação é a causa das mortes”, respondeu, em poucas palavras, a juíza Ana Mota, da 1ª Vara de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher da Capital, criada em 2007. 

Natália Cordeiro, educadora no SOS Corpo - Instituto Feminista para a Democracia, falou sobre o assunto com maestria. “Agora, está mais espalhado na sociedade a ideia de que mulher é gente, pelo menos entre as próprias mulheres. Essa vontade de ser gente, essa vontade de não se submeter, de viver uma vida digna de autonomia, na minha visão, causou uma contra ofensiva conservadora”, afirmou.

Sem o papel de provedor, homens têm ainda mais dificuldade de perder as mulheres

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A avaliação de Natália Cordeiro faz uma perspectiva de gênero a partir da classe social |  Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação

A avaliação de Natália Cordeiro faz uma perspectiva de gênero a partir da classe social. Para ela, a matança de mulheres não diz respeito às medidas expedidas pelo Poder Judiciário, pelo contrário. Segundo ela, tentar enfraquecer as medidas protetivas é um discurso que só interessa aos agressores.

“Esses homens estão vendo o poder que detinham dentro de casa ameaçado. Inclusive os homens da classe trabalhadora, oprimidos no trabalho … O único lugar em que eles tinham algum poder era dentro de casa. Então, na hora que isso é colocado em questão, num momento em que o mundo do trabalho está cada vez mais precarizado, eles não têm mais o salário como poder, não tem mais essa coisa de ser o chefe de casa…Esses homens ficam se sentindo muito ameaçados e aí vem o recrudescimento da violência”, declarou Natália.

Natália Cordeiro, no entanto, acredita que homens de classe social mais elevada são exceções. "Quando a gente vai ver quem são os homens presos pela Lei Maria da Penha são homens negros, homens pobres. Na sua imensa maioria, os homens brancos, ricos, de famílias tradicionais não têm medo de nada, muito menos das medidas cautelares. Eles acham que estão acima de tudo, de todas as leis, de todos os poderes”.

De aproximadamente 21 mil medidas protetivas, apenas três mulheres morreram

Dados da 1ª Vara de Violência Contra a Mulher, criada em Pernambuco há 17 anos, revelam a efetividade das medidas protetivas.

De aproximadamente 21 mil Medidas Protetivas de Urgência expedidas (MPU), apenas três mulheres morreram em 17 anos, sendo apenas uma vítima a partir de 2016, quando a juíza Ana Mota assumiu a vara. É um número forte. Ou seja, a maioria dos homens têm medo das medidas cautelares, porque podem ser punidos e presos.

O receito das medidas se deve ao fato de que esse é o tipo de acusado mais fácil de encontrar, porque eles têm residência fixa, familiares e amigos que o conhecem. “A maioria absoluta respeita. Os que não respeitam sofrem sanções mais gravosas e até prisão”, disse uma assistente social que trabalha no combante à violência contra a mulher, que preferiu não se identificar.

O aumento do conservadorismo no mundo é um risco para as mulheres

Segundo a psicóloga Roberta Alves, especialista em Psicologia Clínica e mestra em Psicologia pela UFPE com pesquisa em teorias de gênero e consumo, cita o fortalecimento do feminismo que gerou uma reação. “O aumento do conservadorismo”.

“Ninguém antes de cometer um crime pensa se vai pegar 10 ou 20 anos de cadeia. Mas uma das variáveis no aumento do feminicídio é o aumento do conservadorismo, do movimento conservador e do fácil acesso a armas”, declarou.

Para Roberta Alves, as redes sociais, impulsionadas por algoritmos que priorizam a personalização e o engajamento, têm sido apontadas como elementos que reforçam estereótipos e pensamentos simplistas. Ela destaca que esses mecanismos podem amplificar comportamentos e ideias que, em casos extremos, culminam na violência contra mulheres, incluindo o feminicídio.

“A questão das redes sociais, eu acho que sim, pode ser um reforçador, porque geralmente você vai cair numa bolha. Uma bolha que reforça os seus próprios pensamentos. As redes sociais também trabalham com pensamento muito dicotômico, né? Ou é bom, ou é ruim, ou é mau, e pensamentos simplistas”, explicou Roberta.

Essas bolhas de pensamento criadas pelos algoritmos tendem a reforçar preconceitos e atitudes já existentes - o patriarcalismo. “Eles vão reforçar estereótipos, vão reforçar o que você quer ver. Você vai encontrar outros homens pensando nas mesmas coisas que você”, alertou a psicóloga.

O medo das medidas protetivas: uma barreira contra o feminicídio?

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Para Débora Andrade, coordenadora da Defensoria Pública da Mulher, a sociedade permanece com a lógica patriarcal como principal causa para a morte de mulheres |  Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação

Para Débora Andrade, coordenadora da Defensoria Pública da Mulher, a sociedade permanece com a lógica patriarcal como principal causa para a morte de mulheres por seus companheiros:

“A sociedade foi estruturada em uma lógica patriarcal, que impôs papéis de gênero para mulheres e homens. O ‘controle’ histórico de homens sobre as mulheres, agora perdido, passa a ser externalizado pelo uso da força, pela aniquilação da liberdade e da vida daquela mulher”, afirmou.

Em sua análise sobre a eficácia das medidas protetivas, Débora Andrade, acrescentou um dado alarmante do anuário brasileiro de segurança pública de 2023: apenas 12,7% dos feminicídios registrados naquele ano ocorreram com mulheres que possuíam medidas protetivas. Isso implica que, de maneira geral, 87,3% das mulheres assassinadas nunca haviam solicitado auxílio judicial ou estavam vivendo em silêncio frente à violência.

Débora ainda explicou: "Penso que o discurso de que homens não obedecem as medidas protetivas traz uma descrença na sua eficácia que não é confirmada pelos dados. A mulher está muito mais protegida e a chance do homem respeitar a ordem judicial é muito maior do que de descumpri-la. Havendo descumprimento, desde que informado no processo, o juízo adotará medidas mais graves para paralisar daquele agressor, como a prisão preventiva."

A posição da Secretaria de Defesa Social

De acordo com a Secretaria de Defesa Social, desde o início da atual gestão, as ações da Patrulha Maria da Penha, da PMPE, foram intensificadas e o seu atendimento aprimorado. “São 6.413 Medidas Protetivas de Urgência (MPUs) monitoradas pela Patrulha e, dentro desse universo de mulheres com MPU, não há registro de crime de feminicídio”.

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