Paixão de Cristo do Recife confirmada no Marco Zero. Veja as datas
Encenação gratuita e a céu aberto está completando 26 anos de apresentações
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Confirmando uma tradição cênica que este ano completa 26 edições, a “Paixão de Cristo do Recife: Jesus, a Luz do Mundo” acontecerá mais uma vez no Marco Zero do Bairro do Recife, nos próximos dias 29, 30 e 31 de março, sempre às 18h, para contar, num grandioso espetáculo gratuito e a céu aberto, a história mais antiga, evocada e celebrada da humanidade.
A realização é da Associação dos Produtores de Artes Cênicas de Pernambuco (Apacepe), com roteiro e direção de Carlos Carvalho. A montagem, que conta com 50 atores e atrizes no elenco, além de 80 figurantes, promete reafirmar seu compromisso com temas e questões contemporâneos e urgentes, que levam a sociedade refletir sobre preconceitos e valores.
ATORES E ATRIZES NEGROS
Segundo os produtores, o texto costura célebres passagens bíblicas a referências e geopolítica mundial da atualidade, e tem, pelo segundo ano consecutivo, como protagonistas, ator negro e atriz negra nos papéis de Jesus e Maria. Os personagens serão vividos por Asaías Rodrigues (Zaza) e Brenda Lígia, que estavam juntos na 25ª edição.
Uma novidade deste ano é que a personagem Madalena será defendida pela pernambucana Claus Barros, que já participou de várias edições do espetáculo, dando vida a diferentes papeis. “Está sendo um presente bonito dialogar com essa personagem dentro de uma história que nos ensina tanto. Madalena é a força das mulheres silenciadas nas passagens bíblicas e também ao longo da história da humanidade. Dar voz a ela e representá-la com meu corpo negro é um resgate e um avanço: inaugura um olhar de equidade para lembrar que já fizemos muito, mas ainda há um caminho longo a percorrer”, diz Clau.
Para a atriz Brenda Lígia, a Maria, o lugar assegurado às mulheres nesta encenação da Paixão de Cristo do Recife é dos mais importantes e eloquentes recados do espetáculo. “O protagonismo assegurado à personagem nesse texto de Carlos Carvalho é, para mim, um esforço de reparação histórica”, diz Brenda, que garante ser impossível se acomodar no papel de uma das mais importantes mulheres da humanidade. “Não importa quantas vezes eu venha a interpretar esse papel, a emoção não muda. Nem diminui. Ninguém passa impune por essa experiência.
Encarnar a mãe de todos nós é uma celebração ao sagrado. Nessa Paixão, eu represento também – e talvez principalmente – todas as mães que choram seus filhos mortos nas ruas do Brasil, quase sempre pretas. Para mim e para todos que compõem o elenco, é mais que um trabalho. É um chamado. Não estamos só contando: estamos fazendo história”, diz Brenda, premiada atriz, apresentadora e diretora, que já atuou em séries de TV como “Assédio” e “Sob Pressão”, soma muitos espetáculos teatrais no currículo, além de ter estrelado filmes, entre curtas e longas, como “As Melhores Coisas do Mundo” (Laís Bodanzky), “Sangue Azul” (Lírio Ferreira) e “Bruna Surfistinha” (Marcus Baldini).
No papel de Jesus pelo terceiro ano consecutivo, o ator Asaías Rodrigues (Zaza) celebra a oportunidade de contar essa história tão importante, sempre incorporando novas camadas de emoção e sentido. “É sempre novo e muito forte vestir esse personagem, que deixou para a humanidade recados tão importantes sobre amor, respeito, fé e esperança, mas que até hoje não demos conta de compreender”, diz o ator, performer, diretor/encenador, figurinista e treinador teatral, fundador da companhia Coletivo Grão Comum. “Foi esse sentimento avassalador de afeto, justiça e compaixão que mudou o rumo que a humanidade estava levando. Esse espetáculo é como repetir um ritual cíclico desses ensinamentos deixados por Cristo. É um relembrar."
GRANDE PRODUÇÃO
Esse diálogo com a atualidade, assegura o diretor Carlos Carvalho, potencializa e ressignifica as lições da história mais contada da humanidade. “Trata-se de um espetáculo que oferece a palavra de Jesus falada na língua de hoje, retratando um Jesus que está ao lado do povo trabalhador das periferias do agora”, diz. Esses recados sobre o contemporâneo não estão só no texto. São reforçados também em toda a cenografia. Com uma hora e quarenta minutos de duração, a montagem apostará em cenários modernos e não realistas, com alicerces à mostra, feitos com estruturas metálicas de até cinco metros de altura. E em figurinos repletos de referências contemporâneas, como o uso de jeans, e também de surpresas e novidades. “Na cena do batismo, o figurino será um dos protagonistas. As vestimentas dos batizados mudarão de cor, para reforçar a mensagem de Jesus colorindo o mundo.”
A história da Paixão, que celebra o amor como liturgia e revolução desde os tempos mais remotos, será contada ainda por Albemar Araújo, no papel de Herodes; Douglas Duan, como Caifás; Flávio Renovatto, como João Batista; Júnior Aguiar, no papel de Judas; além de Normando Roberto e Carlos Lira, que viverão Pilatos e Anás. Também subirão ao palco da Paixão recifense alunos de cursos de teatro da cidade e 20 bailarinos do grupo Bacnaré. O elenco começou a ensaiar a peça no último mês de janeiro.
SERVIÇO
Paixão de Cristo do Recife: Jesus, A Luz do Mundo
Marco Zero, no Recife Antigo
Dias 29, 30 e 31 de março, às 18h
Classificação livre
Acesso gratuito
Duração: 1h40
*Dias 29 e 30, às 18h, apresentações musicais, com duração de 45 minutos, abrem a programação. Dia 29, show de Kelly Rosa. Dia 30, Geraldo Maia.
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