Miopia avança em crianças e adolescentes e preocupa oftalmologistas
A doença aumenta 21 vezes o risco de descolamento da retina
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A miopia avança em crianças e adolescentes de 0 a 19 anos. O crescimento da patologia é explicado, em grande parte, pelo aumento no uso de telas e pela mudança na rotina decorrente da pandemia da Covid-19. Um estudo realizado pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) mostra que a doença avançou 67% entre pessoas desta faixa etária atendidas no País de 2020 até o ano passado.
Outros dados preocupantes também são o fato de que sete em cada dez oftalmologistas do CBO relataram aumento de incidência de miopia em pacientes infantis.
Estima-se que o número de prescrições de óculos dos oftalmologistas triplicou para crianças de 6 a 8 anos no Brasil, em comparação a cinco anos atrás. E os dados no país seguem uma tendência mundial.
"Nos últimos anos, percebemos um aumento dos casos de miopia, relacionado ao uso excessivo de dispositivos eletrônicos. Também há uma associação com outras consequências graves, como glaucoma, descolamento de retina e maculopatia”, explica a oftalmologista Mirella Maranhão, do HOPE.
Já segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2050 - em pouco mais de 25 anos - metade da população mundial sofrerá de miopia. Um levantamento realizado por cientistas de Hong Kong e China apontou que em 2020, o crescimento do diagnóstico de miopia entre crianças de 6 anos foi de 28,8% e, em 2021, de 36,2%.
Antes da pandemia, a taxa mais alta havia sido de 5,7%, entre os anos de 2015 e 2019. A miopia é um erro refracional que consiste na dificuldade em enxergar e distinguir imagens distantes.
As principais causas desse erro estão relacionadas ao tamanho maior do globo ocular e a alta de curvatura da córnea, fazendo com que os feixes de luz focalizem antes da retina.
“Uma alta miopia também traz vários prejuízos à saúde ocular. Aumenta 21 vezes o risco de descolamento da retina, por exemplo. Também favorece o aparecimento de problemas como glaucoma, catarata e perda da visão central”, alerta a oftalmologista Mirella Maranhão.
Lentes de contato usadas como solução
Apesar dos perigos do uso das telas e de outros equipamentos eletrônicos para a visão, a tecnologia também pode ser uma aliada no combate à miopia. Além dos óculos, que às vezes parecem desconfortáveis para crianças e adolescentes, as lentes de contato podem ser uma solução.
Algumas lentes de contato utilizadas reduzem em até 59% a progressão da miopia em crianças entre 8 e 12 anos.
"As lentes de contato, além de reduzirem a progressão da miopia também trazem uma qualidade de vida melhor para esses pacientes, inclusive na prática de esportes e atividades ao ar livre, onde os óculos eram um fator limitante”, aponta a oftalmologista Mirella Maranhão.
Para a oftalmologista, as lentes previnem não apenas o aumento do grau, mas outras consequências que podem surgir a partir da miopia, como doenças na retina.
“Com o uso da lente, espera-se prevenir não só o aumento do grau, mas as consequências potencialmente graves associadas a uma miopia alta”, diz Mirella Maranhão.
Antes do paciente iniciar o uso das lentes, deve ter a recomendação de um especialista. "Se você tem um filho já é portador de miopia, é importante fazer uma avaliação com o oftalmologista. Hoje, podemos evitar a progressão e tratar precocemente a doença”, orienta a oftalmologista Mirella Maranhão.
Cuidados diários são exigidos
O caminho para as lentes, contudo, nem sempre é fácil. Uma vez que utilize as lentes de contato, a criança e os pais também precisam tomar alguns cuidados para manter a lente limpa e evitar contaminação.
“É importante lavar bem as mãos antes de colocar as lentes, não utilizá-las em ambiente de praia ou piscina e nunca dormir com elas”, ensina a oftalmologista Mirella Maranhão.
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