Em Pernambuco, médicos alertam: metanol pode causar cegueira irreversível
Na Fundação Altino Ventura, no Recife, paciente está sendo tratada por perda visual depois de consumir vodka possivelmente adulterada
A ingestão de bebidas adulteradas com metanol pode provocar perda súbita e, muitas vezes, irreversível da visão. O alerta é do médico oftalmologista Júlio França, da Fundação Altino Ventura (FAV), que acompanha um caso suspeito de intoxicação pelo produto químico no Recife.
Segundo o especialista, o metanol, ao ser ingerido, é metabolizado em compostos que alteram a acidez do sangue, comprometendo o metabolismo do organismo. “Pensando no contexto da visão, o nervo óptico é a principal estrutura afetada”, explicou.
Entre os sintomas visuais iniciais estão flashes luminosos, que podem evoluir para manchas escuras no campo visual, conhecidas como escotomas. França ressalta que, diante da ingestão de bebidas em locais não confiáveis, qualquer sinal incomum deve levar o paciente a buscar atendimento médico imediato.
Na Fundação Altino Ventura, uma paciente está sendo tratada após apresentar confusão mental, náusea, vômitos e perda visual depois de consumir uma vodka possivelmente adulterada. Exames complementares ainda estão sendo realizados para confirmar a intoxicação, mas as medidas de tratamento já foram iniciadas.
Como o metanol age no corpo
Dr. Alexandre Dantas, neuro-oftalmologista do Hospital Santa Luzia, a janela crítica de atendimento é de 6 a 8 horas após a ingestão. “O tratamento precoce, com etanol, fomepizol ou hemodiálise, pode impedir a formação dos metabólitos tóxicos. Após 12 a 24 horas, o risco de danos neurológicos e cegueira permanente aumenta muito”, destacou.
Sinais de intoxicação por metanol

De acordo com a Associação Brasileira de Neuro-oftalmologia (ABNO), filiada ao Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), entre os principais sintomas estão:
- Dor de cabeça intensa;
- Náuseas e vômitos;
- Dor abdominal;
- Confusão mental;
- Alterações visuais súbitas, como visão turva ou perda parcial do campo visual
De acordo com Alexandre, há formas de diferenciar clinicamente a intoxicação por metanol em relação ao consumo de álcool comum. No caso do metanol, alterações visuais como visão borrada, turvação ou sensibilidade excessiva à luz aparecem com frequência e podem evoluir para cegueira, enquanto no etanol esses efeitos são pouco usuais.
Outro ponto é que o metanol provoca uma acidose metabólica intensa, ao contrário do etanol, no qual a alteração é discreta ou inexistente. Muitas vezes o hálito alcoólico não se manifesta, e os sintomas avançam de maneira rápida, podendo resultar em coma, convulsões e falência de órgãos. Já a intoxicação por etanol tende a ser menos grave, exceto quando ocorre em doses extremamente altas.
“Sobreviventes da intoxicação podem apresentar ataxia (desequilíbrio), confusão mental crônica, convulsões, Parkinsonismo em casos raros, polineuropatia periférica e, em alguns casos, coma prolongado ou alterações cognitivas permanentes”, acrescentou Dantas.
Prevenção é a única defesa
Para Alexandre, a principal medida de segurança é não consumir bebidas de procedência incerta. Isso significa evitar produtos artesanais ou caseiros sem inspeção sanitária, além de desconfiar de preços muito baixos ou de alterações no sabor, cheiro ou aparência. Outro cuidado é não armazenar álcool em recipientes sem rótulo, que podem ser confundidos com água ou outras bebidas.
Se houver ingestão acidental ou mesmo suspeita, a orientação é procurar atendimento médico imediato, mesmo antes de qualquer sintoma. “Divulgue informações nas comunidades e redes locais, especialmente em áreas com acesso limitado a saúde”, reforçou o Dr. Alexandre.
A Associação Brasileira de Bebidas (ABRABE) também se pronunciou, expressando “profunda preocupação” com os casos registrados e informando que tem atuado em conjunto com o Governo Federal e Estadual para proteger a população.
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