Associação repudia Nattan por pagar R$ 1 mil por beijo em mulher com nanismo
Cena foi registrada em show em São Lourenço da Mata e compartilhada por Nattan nas redes; Annabra classificou o ato como capacitista e ofensivo
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No palco, aplausos. Na plateia, gargalhadas. No vídeo, uma mulher com nanismo faz corações com as mãos, se pendura nos braços de um cinegrafista e sorri. Tudo acontece após o cantor Nattan oferecer R$ 1.000 para que alguém a beijasse.
A cena foi registrada durante um show em São Lourenço da Mata, na Região Metropolitana do Recife, e compartilhada pelo próprio artista nas redes sociais. O caso incomodou. A Associação Nanismo Brasil divulgou nota de repúdio nesta quarta-feira (6) nas redes sociais.
A mulher parece à vontade. Talvez esteja mesmo. Não há constrangimento visível. O público vibra, os envolvidos riem. Mas para alguns, que assistem de fora, a sensação é difícil de nomear. Um incômodo que começa no estômago e sobe feito nó para a garganta. Era preciso transformar aquele momento em piada?
O que parece leve, pesa
A Associação Nanismo Brasil não demorou a se pronunciar. “Não somos piada. Somos pessoas”, começa a nota de repúdio. Para a entidade, o que aconteceu não foi brincadeira nem entretenimento. Foi capacitismo — e isso é crime. O nome pode soar técnico, mas o sentido é direto: ridicularizar ou expor alguém por conta da deficiência reforça um sistema de exclusão.
Mesmo que a mulher tenha concordado com tudo, isso não elimina a violência simbólica. Não é sobre julgar sua reação, mas sobre reconhecer que o riso coletivo muitas vezes tem um alvo. E nesse caso, o alvo era ela — ou, pior, o corpo dela.
Transformá-la em “personagem” de um momento engraçado, apelidá-la de “bebê reborn saliente da gota”, como fez Nattan no vídeo, não é elogio nem afeto. É reduzir sua existência a uma caricatura. É reforçar a velha ideia de que pessoas com deficiência estão no mundo para divertir os outros, e não para serem respeitadas.
Entretenimento tem limite?
A legislação brasileira tem. A Lei Brasileira de Inclusão, no artigo 88, é clara: discriminar, induzir ou incitar o preconceito por motivo de deficiência é crime, com penas que podem chegar a cinco anos de reclusão quando a exposição é feita por meios de comunicação ou redes sociais.
Mas para além da lei, há algo que ela não alcança: a consciência coletiva. O desconforto que muitos sentiram ao assistir à cena revela que há algo errado, ainda que todos parecessem felizes no palco. E isso é revelador. O espetáculo pode ser aplaudido — e ainda assim ser cruel.
Consentimento individual não resolve a violência coletiva
Esse talvez seja o ponto mais difícil de compreender. A mulher não demonstrou incômodo. Mas quantas pessoas com nanismo assistiram à cena e se sentiram atingidas? Quantas já foram alvo de piadas em festas, vídeos virais, ou interações constrangedoras em público? Quantas já riram para não chorar?
É por elas — e não apenas por quem estava no palco — que a reação da Annabra importa. Como escreveu a entidade:
“A nossa luta é por dignidade, não por aceitação de humilhações disfarçadas de humor.”
O que fica?
Fica o vídeo, ainda no ar. Fica a discussão, necessária. Fica o convite ao incômodo. E a lembrança de que nem toda risada é leveza. Às vezes, é só mais um peso que os outros carregam.
Veja a nota na íntegra da Associação Nanismo Brasil

O texto continua na legenda do feed
“Não somos piada. Somos pessoas.
O que aconteceu no palco de um show em São Lourenço da Mata (PE) não foi “brincadeira”, nem “entretenimento”. Foi capacitismo — e isso é crime.
Durante a apresentação, o cantor Nattan ofereceu um pix para que uma mulher com nanismo fosse beijada por um cinegrafista, expondo publicamente sua condição e desrespeitando sua dignidade.
A ANNABRA REPUDIA VEEMENTEMENTE esse tipo de atitude, que naturaliza o preconceito e transforma corpos em espetáculo.
📣 O Art. 88 da Lei Brasileira de Inclusão é claro:
👉 Praticar, induzir ou incitar discriminação por deficiência é crime.
📲 Se for por meio de mídias, como vídeos ou postagens na internet, a pena pode chegar a 5 anos de reclusão e multa.
💬 A nossa luta é por dignidade, não por aceitação de humilhações disfarçadas de humor.
🧭 Siga firme conosco: o capacitismo não será normalizado”
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