Queimada pelo ex-marido: "Perdoei, perdoei e olha como estou hoje?”
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Um exemplo de vida e superação. Marciane dos Santos teve 40% do corpo queimado pelo ex-marido durante uma discussão, na Serra. Hoje, ela ajuda outras mulheres vítimas de relacionamentos abusivos.
Já são quase dois anos depois do dia em que quase perdeu a vida. A diarista concordou em conversar com a reportagem de A Tribuna e relatar como é viver com as marcas da violência doméstica.
Com um sorriso contagiante e sempre bem-humorada, Marciane contou que por conta da violência que sofreu e pela maneira que tem encarado tantas mudanças, devido às sequelas da agressão, ela vem sendo procurada por várias mulheres e universidades para compartilhar sua história.
“Uso muito as redes sociais. As mulheres me pedem conselhos. Tem gente que relata desde as agressões até as coisas mais simples da vida como o fato da pessoa não poder sair de casa por conta da pandemia. E eu dou conselhos.”
A resposta de Marciane para o último caso relatado é objetiva, mas cheia de humor. “Eu disse: e eu que não tenho uma perna, perdi os cinco dedos da mão direita, deformei o meu lindo rosto de princesa? Acha que isso me coloca para baixo? Jamais!”
No dia 8 de setembro de 2018, Marciane teve o corpo queimado pelo ex-marido ao subir as escadas do prédio onde moravam, em Jardim Tropical, Serra. Ela ficou cinco meses internada e teve várias paradas cardíacas, além de bactérias resistentes. Perdeu uma perna, as orelhas, parte do nariz, cabelos. Mas apesar de tudo, o sorriso se tornou sua marca registrada.
“Eu já fui chamada para palestrar sobre o meu caso e é algo que eu sempre falo: nós não podemos deixar de agradecer pela vida da gente. É claro que é um pouco difícil viver com as limitações que eu tenho, mas para tudo dai graças.”
Hoje, Marciane não consegue mais trabalhar e vive com o salário mínimo que recebe do governo. Com o dinheiro paga o aluguel e conta com a ajuda de amigas para se alimentar e tomar banho.
O ex-marido, André Luis dos Santos, que é cadeirante, foi preso em setembro de 2018 e continua no Centro de Detenção Provisória de Viana, segundo a Justiça.
“Perdoei, perdoei e olha como estou hoje?”
A Tribuna – O que você lembra do dia 8 de setembro?
Marciane dos Santos – Lembro que estava muito feliz. Tinha acabado de chegar do parquinho com meus dois filhos quando ele fez o que fez.
Qual a pior lembrança ?
Os xingamentos e o momento que vi as chamas no meu corpo.
Teve algum momento bom no período de recuperação?
O dia que eu acordei do coma e vi minha filha pela primeira vez.
Qual foi a reação dela?
Como eu estava toda enfaixada, ela dizia: cadê minha mamãe? Depois se acostumou.
Como está sua vida hoje?
Dependo das pessoas até para tomar banho e comer. Uso cadeira de rodas, mas isso não me impede de sair pulando pela casa (risos).
Do que sente falta?
Tenho um filho de 4 anos e não posso nem limpar ele. Tem mãe que reclama por fazer isso, mas eu amava esse lado da maternidade. Não posso mais brincar com meus filhos…
Qual recado você deixa para as mulheres que vivem relacionamentos abusivos?
Se ele já te agrediu uma vez, não o perdoe. Eu perdoei, perdoei e olha como estou?
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