“Powered by”
Uso de expressões em inglês por órgãos públicos contraria a Constituição e apaga o valor da língua portuguesa
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O Pix é uma extraordinária criação do nosso povo. Foi feito por brasileiros para brasileiros. Uma excepcional obra da administração pública brasileira. No entanto, segundo divulgado de forma oficial, é “powered by Banco Central”. Por que “powered by”?
O nosso Poder Judiciário é brasileiro. Suas decisões devem ser em português – e redigidas da forma mais clara possível. Dia desses fiquei a pensar nisso ao ler a expressão “distinguishing” no bojo de dada sentença, indicando ser necessário fazer-se uma “distinção”. Por que “distinguishing”?
Nossa administração pública serve ao Brasil – seja em nível municipal, estadual ou federal. Há algum tempo recebi um convite para participar de dado evento oficial. Nele indicava-se o horário de abertura, e esclarecia-se que, lá pela metade da manhã, haveria um “coffee break”. Por que não “intervalo”? Por que não “hora do lanche”? Por que “coffee break”?
Diante de condutas que tais fui buscar orientação na Constituição da República. Na Lei Maior. Na Carta Magna. Na Constituição Cidadã. Está lá, no artigo 13, uma determinação clara: “a língua portuguesa é o idioma oficial da República Federativa do Brasil”. Simples assim.
Diante de determinação tão clara é de se perguntar por qual motivo o Pix é “powered by”. Por conta de qual fator alguns juízes fazem “distinguishing”. Por que nossos eventos oficiais têm “coffee break”.
Em cada um desses casos há expressão equivalente em português – que já estava em uso, registro. Foi substituída por outra, de origem inglesa. Por que isso? Seria essa agressão à Constituição um desatino? Uma improbidade? Ou não? Afinal, a praticá-la estão alguns dos nossos mais graduados agentes públicos.
Não estou a tratar, aqui, da provinciana e medíocre utilização de expressões inglesas no cotidiano dos brasileiros. Falo, antes, da administração pública deste país, que deveria guardar e defender nosso idioma e nossa cultura. E daquele ditado espanhol, segundo o qual “os vazamentos começam no telhado” – vale dizer, dos exemplos que não deveriam existir.
Não mencionarei aqui, de forma mais extensa, a total falta de reciprocidade que nos humilha dentro e fora de nossas fronteiras. Sequer tratarei dos motivos que conduzem a tal estado de coisas – seria alguma vaidade tosca, afinal? Ou aquele famoso “complexo de vira-latas”? Não sei!
Aqui trato, ao fim do cabo, apenas da legalidade. Do cumprimento do artigo 13 da Constituição Federal pela Administração Pública. Só disso.
Não prego – fique isto muito claro – o isolamento. Temos muito a aprender com outros povos. Reconheço existirem situações nas quais inviável o não-uso de expressões estrangeiras. O que não se pode aceitar, porém, são atitudes provincianas de repulsa à cultura e aos fundamentos deste país. Isto está errado. Muito errado.
Li, pelos jornais, que os Estados Unidos da América estariam afrontando a soberania brasileira – inclusive quanto ao Pix, aquele que é “powered by”. Deve ser verdade. Afinal, como reza a sabedoria popular, “quem muito se abaixa o fundo aparece”.
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