Mulheres em defesa da diversão sem assédio
A campanha “Não é Não!” contra o assédio no Carnaval vai chegar ao Espírito Santo para os festejos deste ano.
Um grupo de mulheres está à frente do movimento, que tem como objetivo criar uma rede de segurança coletiva através da distribuição de tatuagens temporárias com os dizeres “Não é Não!”.
Neste ano, o projeto estará presente no Carnaval de 15 estados brasileiros. Entre as mulheres que apoiam a vinda do movimento para o Espírito Santo durante o Carnaval de Vitória, estão Nayara Muriel, Lívia Garcia, Manuela Vieira Blanc, Adriana Pereira e Priscila Lugon, entre outras.
Embaixadora da campanha no Estado, Priscila Lugon diz que as tatuagens ajudam as mulheres a se sentirem mais empoderadas.
“O movimento funciona. Em outros estados, como no Rio de Janeiro, a experiência foi positiva. Se você está com a tatuagem e é assediada, as mulheres ao redor se impõem. A própria pessoa se sente mais empoderada para dizer 'não' às investidas indesejadas”, disse.
A campanha funciona por financiamento coletivo. No Espírito Santo, a meta é arrecadar R$ 3.500 para a confecção de duas mil tatuagens que serão distribuídas gratuitamente para mulheres nos eventos de pré-carnaval e Carnaval na região da Grande Vitória.
“Essa meta é tudo ou nada. Se não batermos a meta até domingo, o Estado não recebe as tatuagens. Aí todas que contribuíram recebem o dinheiro de volta”, salientou.
As contribuições podem ser feitas no site benfeitoria.com/naoenaoes2020, e todos os valores têm alguma contrapartida, como ecobags ou fantasias de Carnaval.
Para a sexóloga Flaviane Brandemberg, a campanha é de grande importância. “É necessária, para começar a mudar a educação social, a estruturação machista que nós temos. O homem precisa entender que a mulher não é um objeto”, afirmou.
CRIME
Importunação sexual é crime, como reforçou a delegada-chefe da Divisão Especializada de Atendimento à Mulher, Cláudia Dematté.
“O referido crime tem pena de reclusão, de um a cinco anos, se o ato não constitui crime mais grave. A importunação sexual, até 2018, era considerada contravenção, sendo cabível pena de multa. Hoje, a importunação sexual é crime. Neste Carnaval, curta a folia com respeito. Respeite o corpo, a liberdade, a dignidade sexual da mulher”, frisou a delegada.
Deputado diz que mulher gosta de ser assediada
O deputado estadual de Santa Catarina Jessé Lopes (PSL) fez críticas ao movimento “Não é Não!” em uma rede social no último sábado. Na publicação, o parlamentar afirmou que as mulheres gostam de ser assediadas e que o fato “massageia o ego”.
O coletivo de mulheres que promove a campanha “Não é Não!” em Santa Catarina divulgou uma nota de apoio às mulheres em relação à declaração do deputado.
“Para nós, que militamos pelo fim do assédio às mulheres nos espaços públicos em mais de 15 estados brasileiros, é incoerente que um homem alheio às questões que discutimos e combatemos utilize seu espaço de poder para propagar desinformação e argumentos confusos sobre a atuação do coletivo”, afirmou a nota.
O Conselho Estadual dos Direitos da Mulher (Cedim) de Santa Catarina manifestou indignação com relação às falas do deputado e informou que vai buscar vias legais para que sejam tomadas as “providências cabíveis”.
A bancada feminina da Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc), composta por cinco parlamentares, também está se mobilizando para responsabilizar o deputado por apologia ao crime.
A delegada-chefe da Divisão Especializada de Atendimento à Mulher, Cláudia Dematté, afirmou que a violência sexual ainda faz parte da realidade diária das mulheres brasileiras e no mundo.
“A violência contra a dignidade sexual da mulher, por exemplo, por meio de um crime de estupro ou importunação sexual, é uma das mais graves violências que se pode sofrer. A mulher tem sua dignidade, liberdade sexual e seu corpo violados. São crimes repugnantes, que devem ser punidos com todo rigor”, destacou.