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Polícia

Menores viram chefes do crime e ordenam mortes de dentro da cadeia


Engana-se quem pensa que menores infratores estão impedidos de cometer crimes enquanto permanecem apreendidos. Isso porque, durante o período em que estão internados, esses adolescentes acabam planejando ataques a grupos rivais e chegam a ordenar mortes, segundo o Sindicato dos Servidores do Atendimento Socioeducativo do Espírito Santo (Sinases).

As ordens de execução, de acordo com o presidente do sindicato, Bruno Menelli Delpiero, são dadas por menores de 15 a 21 anos, por meio de visitas de familiares e com o uso de aparelhos telefônicos.

“Muitos deles são gerentes ou até donos da boca de fumo do bairro onde eles residiam. Então, mesmo presos, ordenam execução de outros menores e, quando isso acontece, ficam se vangloriando”, disse Bruno.

A afirmação do presidente do sindicato é confirmada por um agente socioeducativo, que trabalha no sistema há quase 10 anos.

“Antes de acontecer o fato, eles ficam jogando indiretas e, depois, batem no peito e falam: 'Viu, só? Fui eu quem fiz'. É a coisa mais comum de acontecer”, disse o agente de 39 anos, que pediu para não ser identificado.

Além das ordens ao mundo externo, as rebeliões dentro das unidades também são constantes e provocadas por esses adolescentes, que muitas vezes brigam entre si.

“Todo dia tem uma briga entre eles. Dentro dos alojamentos, quando vão para escola e quando voltam. Sobre as rebeliões, eles as fazem por vários motivos: a comida que não está do jeito que eles querem ou o funk que eles gostam de ouvir em volume alto. Tudo é motivo de desordem e eles quebram tudo”, relata um outro agente, de 35 anos, que também não quis se identificar.

A comunicação com o mundo exterior é feita durante as visitas dos parentes, aos domingos, segundo os agentes. “Na maioria dos casos, são mães, pais, tios, irmãos e avós que transmitem as ordens. Alguns por serem obrigados por outros menores e outros, por acatarem as ordens”, conta um agente de 28 anos, que atua em Vila Velha.

Mesmo não tendo ciência de registros recentes, a coordenadora das Varas de Infância e Juventude do Tribunal de Justiça do Espírito Santo, Patrícia Neves, reconhece que as ordens são feitas e repassadas por familiares.

“Essas famílias cometem um 'crime' contra elas próprias, porque estão livres, mas seus filhos, sobrinhos ou netos continuam internados”.

Imagem ilustrativa da imagem Menores viram chefes do crime e ordenam mortes de dentro da cadeia
"Colocaram estilete no meu pescoço", disse funcionário do sistema socioeducativo. |  Foto: Kananda Natielly

“Colocaram estilete no meu pescoço”

Trabalhando no sistema socioeducativo do Estado há mais de 11 anos, um agente de 35 anos contou que pensou em desistir da carreira após passar por um momento de pânico, há alguns anos.
Ele foi feito refém e chegou a ficar 20 minutos sob o poder dos menores, durante uma das mais de 10 rebeliões que presenciou.

“Foi durante um banho de sol. Veio um grupo de adolescentes para cima de mim e colocou um estilete no meu pescoço. Depois, me algemaram e eu fiquei uns 20 minutos preso com eles. Foi quando o pessoal da intervenção chegou e eu consegui ser liberado”.

A vítima, que não quis se identificar, disse ainda que as rebeliões são rotineiras. “Tudo é motivo e acontece direto. No meu caso, se a intervenção não tivesse agido rápido, eles teriam me matado. É muito complicado trabalhar no sistema socioeducativo”.

Morto a garrafadas em unidade

Os casos de mortes dentro das unidades socioeducativas também são comuns, segundo os agentes.

Foi o que aconteceu com um menor na Unidade de Internação Provisória II (Unip II), situada em Cariacica-Sede.

Ele foi morto a golpes de garrafas, improvisadas por outros adolescentes.

“Foi uma guerra de facção. O menor chegou e caiu no alojamento do outro. Lá, pegaram ele“, relata um agente de 39 anos.

Uma ameaça por dia a agente

Os casos de ameaças a agentes socioeducativos no Estado acontecem todos os dias. A afirmação é do Sindicato dos Servidores do Atendimento Socioeducativo do Espírito Santo (Sinases).

“Não há um dia que eu não tenha um agente ameaçado. Desde a hora que acorda até quando vai dormir, o adolescente ameaça o servidor”, afirma o presidente do sindicato, Bruno Menelli Delpiero.
Ainda segundo o presidente do sindicato, as ameaças ocorrem por vários motivos.

“Desde o funk que eles querem ouvir em volume alto até as regras que eles são obrigados a cumprir e não cumprem. E ai de quem fale algo, porque, se falar, sofre ameaças”, relata.

Bruno Menelli contou também que já recebeu casos de agentes que precisaram mudar de casa por conta das ameaças.

“Tivemos um caso, no ano passado, de um servidor que foi obrigado a sair do local em que residia porque bandidos armados foram à casa dele e o ameaçaram a mando de outro menor, que estava interno. Isso é rotineiro”, revela.

Quando esses casos chegam para o sindicato, Menelli explica que o agente recebe todo apoio.
“Damos o apoio jurídico. Levamos à delegacia e até denunciamos na Assembleia Legislativa. Já até oficializamos uma denúncia junto aos órgãos de segurança pública, mas, infelizmente, isso anda acontecendo rotineiramente”, desabafa o presidente.

Perfil

Quem são os chefões do crime

  • Menores de 15 a 21 anos, que cumprem medidas socioeducativas dentro das 13 unidades espalhadas por todo o Estado.
  • A maioria deles é de comunidades carentes e entra para a vida no crime aos 12 anos. Muitas vezes, são influenciados por traficantes adultos.

Hierarquias dentro das unidades

Xerifes

  • Adolescentes que já são lideranças fora das unidades.

Correria

  • É o interno novato, que, até receber credibilidade dos demais menores, tem de fazer tudo que lhe obrigam, como lavar roupas, dar comidas ou doces ao xerife e até mesmo prestar favores sexuais.

Regras na cadeia

  1. É proibido xingar as mães de outros menores.
  2. Também é proibido olhar para familiares de internos durante as visitas.
  3. Não pode ficar sem camisa no dia de visitas.
  4. Os menores antigos escolhem as camas em que vão dormir.
  5. Caso goste, o xerife pode pegar a roupa levada pela mãe de um novato.
  6. É proibido masturbação aos domingos, devido às visitas de familiares às unidades. Quem tomar essa atitude leva uma surra de outros menores.
Fonte: Agentes socioeducativos entrevistados e Sinases.

Panelaço para comemorar ataques nas ruas de Vitória

Os ataques provocados por bandidos, que, segundo a polícia, seriam do Bairro da Penha, em Vitória, no último dia 14, foram comemorados por menores infratores que cumprem medidas socioeducativas na Unidade de Internação Provisória I (Unip I), em Cariacica-Sede. A informação é de agentes que atuam nesta unidade.

Os ataques teriam sido provocados devido à morte de Caio Matheus Silva Santos, de 17 anos, após uma troca de tiros com a polícia.

Ele seria um dos gerentes mais importantes do Complexo da Penha e sua morte teria sido sentida por traficantes de outros municípios, que, mesmo detidos, teriam ordenado os ataques não só em Vitória, mas também em Vila Velha e Cariacica.

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