Material de construção sobe e atrasa a reforma da casa
Os materiais de construção tiveram um aumento recorde nos preços durante os últimos 12 meses. De julho de 2020 a junho deste ano, a alta acumulada foi de 32,92%, praticamente quatro vezes a inflação, que está em 8,35%. A informação é do Índice Nacional de Custo da Construção, apurado pela Fundação Getulio Vargas.
Alguns produtos chegaram a praticamente dobrar de preço e, por isso, muitos consumidores estão preferindo atrasar o início da reforma da casa.
“Há clientes que dizem que vão adiar as obras por não poderem pagar. Quem desistiu de fazer a obra no ano passado e deixou para este ano se deu mal porque os preços ainda estão subindo, e a demanda também”, afirmou Bryan Bremenkamp, comprador em uma rede de lojas materiais de construção.
Há um ano, segundo ele, o metro quadrado do piso estava custando R$ 10,90. Hoje, custa R$ 21,90.
“O forro de PVC também está com o dobro do valor que tinha no ano passado. Todos os produtos de plástico tiveram aumentos consideráveis nos preços, como tubos de conexões e caixas d’água”.
Um dos principais motivos do aumento de preços é o recuo da produção industrial, como medida para conter a contaminação com o novo coronavírus. Além disso, a demanda pelos produtos cresceu.
“As pessoas pararam de gastar com viagens, pararam de comer fora, e resolveram reformar a casa. Quando a demanda é bem maior que a oferta, o preço cresce”, disse o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Material de Construção da Grande Vitória (Sindmat), Lésio Contarini Junior.
A pandemia também impulsionou a alta do dólar. Como diversos materiais são importados ou cotados na moeda estrangeira, eles acabaram sofrendo reajustes.
“Insumos como aço e cobre são cotados em dólar e tiveram grande aumento de preço, levando a atrasos nos contratos de obras, que tiveram que ser revistos”, relatou Paulo Baraona, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado do Espírito Santo (Sinduscon-ES).
No mercado imobiliário, ele acrescentou que empresas assumiram parte do custo extra, repassando o restante ao consumidor.
Vale até pintar para economizar
O professor de jiu-jítsu Lourenço Pimenta, de 35 anos, se planejou desde setembro do ano passado para reformar um espaço alugado e abrir sua academia.
As obras começaram em maio, e ele teve uma surpresa: o orçamento dobrou com o aumento dos materiais de construção.
“Com a ajuda de uma arquiteta, pesquisei bastante os valores. Priorizei comércios menores, que tinham preços mais baratos. E para economizar, eu mesmo vou pintar a fachada.”
Orientação é comprar os produtos no ano que vem
Para quem não tem urgência na reforma, especialistas recomendam que esperem até ano que vem, quando os preços dos materiais devem se normalizar.
“A expectativa é de que as indústrias voltem a produzir em peso em março do ano que vem. O ideal é adiar essa reforma para março, ou abril, quando os materiais não estiverem com o preço tão acima da inflação. Nesse meio tempo, vá juntando dinheiro”, sugeriu o economista Marcelo Loyola.
Bryan Bremenkamp, comprador em uma rede de lojas materiais de construção, também acredita que só então haverá uma redução dos preços. “Depois do Carnaval do ano que vem, a demanda deve diminuir um pouco e se equilibrar com a oferta de produtos, que vai começar a crescer”, disse.
Mas caso as obras sejam urgentes, a orientação é pesquisar muito bem os preços.
“Além da pesquisa, é importante ter o planejamento de todos os produtos que você vai precisar. É melhor comprar tudo de uma vez, porque daqui a um ou dois meses os preços já terão subido, e também é possível que o produto desejado esteja fora de estoque”, completou Bremenkamp.
Ele acrescentou ainda que o ideal é pagar à vista, para conseguir descontos.
Confira o que subiu de preço
Itens que ficaram mais caros
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Tubos e conexões de ferro e aço: alta de 91,66%
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Vergalhões e arames de aço ao carbono: 78,35%
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Condutores elétricos: 76,19%
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Tubos e conexões de PVC: 64,91%
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Eletroduto de PVC: 52,06%
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Esquadrias de alumínio: 35,21%
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Tijolo/telha cerâmica: 33,82%
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Compensados: 30,47%
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Cimento portland comum: 27,62%
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Produtos de fibrocimento: 26,96%.
Causas do aumento
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Recuo da produção industrial, por causa da pandemia da Covid-19.
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Maior demanda de consumidores.
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Alta cotação do dólar, moeda estrangeira que rege os preços de insumos como aço, cobre, plástico e resinas.
Fonte: INCC-DI da Fundação Getulio Vargas
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