Mais mulheres ficaram sem emprego na pandemia
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Durante a pandemia da Covid-19, menos da metade das mulheres está ocupada com alguma atividade formal no Espírito Santo. De acordo com dados do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), dos 1,7 milhão de capixabas empregados, 61,6% são homens e 44,7% são mulheres.
Isso significa que, enquanto 940 mil homens trabalham no Estado, apenas 760 mil mulheres estão ocupadas. As informações mais recentes equivalem ao terceiro trimestre de 2020.
No Brasil, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), do IBGE, 8,5 milhões de mulheres tinham deixado a força de trabalho no mesmo período, na comparação com o 3º trimestre de 2019.
Ainda em nível nacional, mais da metade da população feminina com 14 anos ou mais ficou de fora do mercado. A taxa de participação na força de trabalho no 3º trimestre de 2020 caiu 14% em relação a 2019, e ficou em 45,8%.
O emprego doméstico, que tem 93% da mão de obra feminina, teve um dos maiores índices de desligamentos desde o início da pandemia do novo coronavírus.
“Os dados mais recentes indicam perda de 1,7 milhão de postos de trabalho entre diaristas e empregadas domésticas que atuam com ou sem carteira assinada”, relatou Mário Avelino, presidente do Instituto Doméstica Legal.
“A grande maioria são mulheres, e 70% delas são negras ou pardas, quase todas com baixos níveis de escolaridade”, analisou Avelino. Segundo ele, nem todas essas profissionais conseguiram bons acordos com os patrões durante o tempo que estão sem trabalhar.
“Algumas conseguiram receber metade da diária, outras conseguiram se manter com o auxílio emergencial no ano passado, mas a maioria ainda passa dificuldades”.
Apesar desse cenário, o Estado fechou o ano de 2020 com saldo positivo de empregos, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério da Economia.
“Tivemos 6.812 novos postos de trabalho criados em 2020 no Estado, e a expectativa para este ano é positiva. Diante do retorno às aulas presenciais, muitas mulheres devem se reinserir no mercado de trabalho nos próximos meses”, estimou o Diretor de Integração do IJSN, Pablo Lira.
Pausa na procura de trabalho
Algumas mulheres que já estavam desempregadas no início da pandemia de Covid-19 desistiram de procurar trabalho por um tempo. Esse é o caso da cabeleireira Simone Dória, de 36 anos.
“Engravidei no início do ano passado e, desde então, acabei parando de buscar uma vaga para ficar com a bebê (Sara) e meu filho mais velho, de 12 anos (Caio), que está tendo aulas online”, relatou.
“Enquanto isso, meu marido (Thales) está trabalhando, e eu cheguei a receber o auxílio emergencial. Assim que estivermos seguros para mandar nosso filho para a escola, e quando a caçula estiver um pouco maior, planejo voltar a trabalhar”, afirmou Simone.
Cuidado com filhos atrasa retorno
O principal motivo do aumento da desocupação profissional entre as mulheres são os cuidados com a casa e os filhos, segundo especialistas.
“Não é nenhuma novidade, mas foi uma dificuldade que se intensificou com a pandemia”, explicou a economista Arilda Teixeira.
“A parte mais frágil da sociedade, quando se vê diante de um problema, sempre paga mais caro. A correção desse desequilíbrio vem aos poucos, com políticas públicas”, completou Arilda.
O diretor de Integração do Instituto Jones dos Santos Neves, Pablo Lira, ressalta que os cuidados com os filhos caem sobre as mulheres, mesmo quando elas e os maridos trabalham fora de casa.
“Na maioria dos arranjos familiares, a mulher é a principal responsável por cuidar dos filhos e dar uma atenção maior à educação deles durante o ensino remoto”, analisou.
“Nem todas as famílias têm parentes com quem deixar os filhos, ou conseguem arcar com o custo de ter uma babá. Com o recebimento do auxílio emergencial, muitas mulheres pararam de procurar trabalho, especialmente as mães solteiras e chefes de família”, completou Lira.
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