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Polícia

Mãe de Alice: “Não vou ver Alice crescer, ficar moça, casar, ter filhos”


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Imagem ilustrativa da imagem Mãe de Alice: “Não vou ver Alice crescer, ficar moça, casar, ter filhos”
Alice tinha 3 anos e estava radiante com os primeiros dias de aula. |  Foto: Reprodução Facebook

Um mês sem a filha, um mês sem o sorriso de uma princesa. Assassinada a tiros no dia 9 de fevereiro, a pequena Alice da Silva Almeida, 3 anos, foi vítima de balas perdidas no meio de uma guerra do tráfico de drogas no bairro Dom João Batista, em Vila Velha.

A dor de não ter mais a filha por perto é imensa para a jovem Amanda Guedes, 23 anos. A vida virou do avesso e ela tem recorrido ainda mais à fé para passar por esse momento.

Em entrevista à reportagem de A Tribuna, Amanda contou que uma semana antes do assassinato teve uma revelação de que Alice iria morrer. Confira abaixo a entrevista completa:

A Tribuna: Você sempre quis ter uma menina?

Amanda Guedes: Quando fiquei grávida, foi um susto. A gravidez não foi planejada, mas sempre pedi que viesse com saúde. No meu coração, sempre quis que fosse uma menina.

Queira muito que tivesse olho azul. Minha mãe é a única que tem olho azul na família. Eu falava e orava: Alice vai ter olho azul. Por incrível que pareça, ela veio assim.

No início, eu não aceitava a gravidez. Depois que descobri que era menina, fiquei muito feliz. Ela passou a ser muito desejada. Montamos enxoval, jogo de quarto... No parto, eu quase morri. Tive hemorragia, perdi muito sangue, foi um parto muito difícil. Quando Alice nasceu, eu desmaiei e nem vi os olhos. Mas depois vi e fiquei encantada.

“Não vou ver Alice crescer, ficar moça, casar, ter filhos”

Como ela era?

Imagem ilustrativa da imagem Mãe de Alice: “Não vou ver Alice crescer, ficar moça, casar, ter filhos”
"Realmente um anjo", disse a mãe |  Foto: Reprodução Instagram @Amandaa.guedess
Ela sempre foi uma boneca. Não tinha ninguém que passava e não ficava encantado com a beleza dela. Na igreja, o culto parava. Ela chamava atenção de todo mundo. Eu sempre arrumava Alice como uma boneca. Ela chamava muita atenção.

Minha filha era tudo pra mim, como se Deus tivesse me dado uma companheira, uma amiga. Eu queria uma menina pra isso. Eu dormia com ela na minha cama, o pai até dormia no colchão no chão. Ela era meu deitar e levantar.

Eu vivia com medo constante de que algo acontecesse com ela. Era além do normal. Eu não deixava Alice descalça. Piscina, praia, tinha medo de alguma coisa ruim acontecer.

“Ela sempre foi uma boneca. Não tinha ninguém que passava e não ficava encantado com a beleza dela”

Eram pressentimentos?

Com um ano de vida, houve uma revelação de que Deus ia levar ela. No momento, eu repreendi e até tinha esquecido dessa revelação. Tive outros sinais: madrinha e avô sonharam com ela afogada na piscina.

Eu tinha pressentimentos constantes. Teve um dia até que eu não quis deixar Alice dormir porque achava que ela podia morrer. Na época, ela tinha uns 2 anos e meio.

Éramos de uma Assembleia de Deus do bairro. Houve uma revelação de que eu ia sofrer uma perda muito grande, antes do Natal.

Teve um dia que a Alice, com 3 anos, viu um anjo. Ela estava em casa e ficou falando para o pai olhar, dizendo que o anjo estava do lado do carro. Ele me contou e Alice confirmou. Eu nunca falei de anjos para ela. Alice disse: ele era branco. Eu me arrepiei toda e chorei. Ela completou: ‘Mãe, ele sarou meu dodói no joelho e queria brincar comigo’.

Aquilo me chocou, mas fiquei maravilhada porque ela viu um anjo mesmo sem eu nunca ter falado disso para ela. Só que nem pensei que podia ser um sinal.

“Com um ano de vida, houve uma revelação de que Deus ia levar ela”

Como era a relação dela com o pai?

Eu perguntava: você ama mais a mamãe ou o papai? Ela respondia ‘papai’ porque ele fazia as vontades dela. Alice até maquiava ele e tudo. Desde que ela nasceu, ele sempre foi um paizão. Se preocupava muito com ela.

Como era Alice como filha?

Como filha ela era perfeita. Ela nunca me deu trabalho, desde que nasceu. Nunca foi chorona, mimada, pirracenta. Ela encantava qualquer pessoa. Era uma criança muito inteligente e falava muito. Isso encantava.

Parecia que não era minha, que não era dessa terra. Parece que não era minha filha, de tão perfeita que era. Realmente um anjo. Quem eu mais amava no mundo era ela. Meu medo era Alice ir embora por eu amar demais.

Como você está agora?

Hoje eu vejo o mundo com outros olhos. Não tenho vontade de me arrumar. Pergunto de que vale casa, carro, dinheiro, profissão se você não tem quem mais você ama do seu lado. Esse é o ensinamento que tenho tirado. As pessoas do mundo inteiro só olham para isso. Eu era rancorosa, tudo isso eu vejo com outros olhos agora.

Como foi o dia do crime?

Imagem ilustrativa da imagem Mãe de Alice: “Não vou ver Alice crescer, ficar moça, casar, ter filhos”
Amanda disse que lembra da filha em tudo |  Foto: Reprodução Instagram @Amandaa.guedess
Eu estava dentro de casa. Morava no terceiro andar e minha mãe no primeiro. Passamos o dia na casa da minha tia, numa festa. Estava meu cunhado, minha irmã, minha mãe e meu sobrinho na casa e o pai estava vendo TV. Subi, dei banho nela e coloquei a roupa de dormir. Ela pediu para descer. Alice perguntou se podia descer descalça e pela primeira vez eu disse que podia. Ela até ficou olhando para mim desconfiada. Ela desceu as escadas e eu tinha que arrumar umas coisas.

Depois ia pegar Alice para dormir. Virei as costas, vi que ela estava brincando com o pai na varanda e que minha mãe estava ali também.

Ele (rapaz que era alvo dos disparos) gritou no portão e chamou Geovani para vender um celular. Quando meu marido abriu, eu ouvi a voz do menino e soube quem era, então olhei na janela. Geovani olhou o celular e devolveu para ele. Minha mãe entrou e falou: ‘Alice, vem’. Ela já estava entrando na varanda e Geovani ia fechar o portão quando aconteceu.

Eu virei as costas e ouvi os disparos. Era muito tiro. Foi um milagre Geovani não ter sido pego, porque foi tiro para todo lado.

Já voltei com Geovani gritando que Alice tinha sido baleada. Coloquei um vestido, desci correndo e não conseguia olhar pra ela. Clamava pra Jesus não permitir que ela fosse embora. Só quando colocaram na maca do hospital que eu vi o tiro nas costas.

O tio, que é padrinho, foi quem levou para o PA. Eu fui encolhida no meio do carro porque a porta de trás nem abria. Foi desesperador quando recebi a notícia. Estou tomando remédios psiquiátricos.

“Clamava pra Jesus não permitir que ela fosse embora. Só quando colocaram na maca do hospital que eu vi o tiro nas costas”

Você conhecia o alvo dos tiros?

Esse menino traficava ali na rua. Ele via minha família constantemente. Brincava com a Alice, conhecia ela. Ele mora perto da casa da mãe do Geovani, que conhece ele há muitos anos.

Depois do crime, ele me manda mensagem constantemente pedindo perdão. Diz que na hora não pensou, mas que fez o que qualquer pessoa faria: correr para dentro da minha casa. Sei que preciso perdoar, mas ele está lá na rua eu ainda não consegui.

Como você está hoje, um mês após o assassinato?

Se não fosse Deus para me levantar, eu não sei nem como estaria viva. Tem dia que acordo de um jeito e outros que acordo desmoronada. Quando acordo, não vejo ela do meu lado. São as piores partes pra mim, saber que nunca mais vou ver minha filha comigo.

No enterro, foi muito difícil pra mim, desmaiei várias vezes. Só imaginei ela gelada no escuro e sozinha. As pessoas falavam que ela estava no céu, mas essas coisas não vinham na minha cabeça. Fiquei revoltada com Deus. Mas Ele foi me dando respostas. Tenho certeza que não veria o mundo hoje como vejo se não tivesse acontecido isso.

“Tivemos que abandonar nossa casa. Estamos morando em outro bairro”

O que você sabe da investigação?

Sobre os assassinos, a Divisão de Homicídios está correndo atrás, mas não sei por que não expôs o rosto dos presos. Foram presas três pessoas, mas uma não tem envolvimento na morte. Nós sabemos, mas a polícia não fala. Dois têm envolvimento, faltam mais dois. Tinham quatro no carro. Conseguimos essas informações por nós mesmos.

Meu pai, que é sargento, não pode fazer nada. A DHPP não dá informações. Ela era o xodó dele, de dois netos homens, ela era a única menina.

O que você espera?

Espero justiça. Quero que todos eles paguem pelo que fizeram. Meu maior medo é que peguem os dois que faltam e não tenham provas, aí liberem eles. Não tenho sede de vingança, mas tenho raiva. Se algum deles é pai, ou será, a consciência deles vai falar por si. Quantas crianças estão perdendo a vida com bala perdida por causa desses traficantes que não têm consideração em quem está em volta?

Vocês saíram da casa onde moravam?

Tivemos que abandonar nossa casa. Estamos morando em outro bairro, eu, Geovani e minha mãe. Não consigo morar com meu marido sozinha porque era acostumada com Alice também, sempre nós três. Então preciso de outra pessoa para completar.

Lá eram três aluguéis e minha mãe morava embaixo. Das duas pessoas que moravam lá, uma saiu e a outra, grávida, também não quis ficar. Eu saí. Agora lá são três casas vazias. Mas quem vai alugar depois de uma tragédia dessa? Estamos numa situação horrível.

Meu marido está sem trabalhar como pedreiro porque quebrou a mão no dia após dar um soco na parede. Ele continua com o gesso. Vai ter que operar ou fazer cirurgia. Eu estava trabalhando como autônoma, vendendo roupas, até que o teto caiu sobre a minha cabeça.

A gente alugou uma casa e saiu de lá. Nossos familiares estão ajudando porque a gente não tem nada: minha mãe sem alugueis e Geovani sem trabalhar.

Todos os vizinhos estão revoltados em ter que conviver com o tráfico lá ainda. É um absurdo. As mães estão pensando que os filhos delas podem ser as próximas vítimas. Lá onde eu morava está tendo uma guerra terrível.

“Espero justiça. Quero que todos eles paguem pelo que fizeram. Não tenho sede de vingança, mas tenho raiva”

Como está a saudade?

Imagem ilustrativa da imagem Mãe de Alice: “Não vou ver Alice crescer, ficar moça, casar, ter filhos”
|  Foto: Acervo da família
Quando saio para a rua, qualquer menina que vejo eu lembro dela. Tivemos que ir no mercado um dia, olhei para o leite dela, fruta, biscoito… Falei: ‘meu Deus, não vou poder comprar mais, não vou ver Alice crescer, ficar moça, casar, ter filhos’. Eu olho para os meus sobrinhos e penso: cadê a minha? Ela era a mais carinhosa, amorosa, era demais.

Uma semana antes dela ir, a gente brincou muito e dançou duas músicas. Eu peguei Alice no colo e tocou a nossa música: “O que será que meu Deus pensava quando criou você? Acho que Ele estava pensando em mim porque me deu mais do que sonhei”. Eu chorei tanto abraçando ela, amo tanto Alice que chegou doer meu peito.

Logo em seguida Deus tocou no meu coração para colocar uma outra música e eu pensei “Deus vai levar ela” porque a música dizia assim: “Vou viajar pelo ar com você, vou te mostrar um lindo lugar. Não haverá mais a dor ao sofrer”. Eu chorei tanto e pensei: estou ficando louca.

O que mais me revoltou foi a forma que aconteceu porque ela não merecia. Tem tantas mães que abandonam o filho, mas por que eu, que cuidava com tanto amor e carinho, que sempre arrumava tanto? Ela era sempre perfeita.

Morte da criança completa um mês na 2ª feira

A morte da menina Alice da Silva Almeida, que tinha 3 anos, completa um mês na próxima segunda-feira. Até agora, dois suspeitos foram presos, mas o autor dos disparos ainda não foi identificado. Alice foi assassinada com balas perdidas, enquanto brincava no quintal de casa, no bairro Dom João Batista, no dia 9 de fevereiro.

Segundo a Polícia Civil, não há novidades sobre o caso que possam ser divulgadas no momento.

Os dois suspeitos foram presos no dia 20 de fevereiro, o primeiro em Vila Velha e o segundo em Cariacica. Contra os dois havia mandados de prisão em aberto. A polícia não divulgou as identidades dos detidos e as investigações seguem sob segredo de Justiça.

O primeiro suspeito foi preso durante uma ação da polícia que tinha como objetivo cumprir mandados de prisão e de busca e apreensão em diversos bairros de Vila Velha.

O secretário de Segurança Pública do Espírito Santo, Roberto Sá, informou, na época, que havia conseguido provas de envolvimento de alguns criminosos e com um mandado de prisão temporária, com isso tiveram êxito em encontrar um dos suspeitos no homicídio da pequena Alice.

O segundo criminoso, de 27 anos, foi preso no mesmo dia, em Cariacica, horas depois, através de uma denúncia anônima feita para o serviço de inteligência da polícia, sobre onde ele estava.

Ele foi encontrado em uma casa, no bairro Jardim de Alah, e tentou fuga pulando vários muros, mas os policiais conseguiram prendê-lo.

O crime

A menina Alice da Silva Almeida, 3 anos, foi atingida quando brincava no quintal de casa, por volta das 21 horas. A polícia disse que um adolescente de 17 anos estava sendo perseguido por atiradores.

Durante a fuga ele pulou o muro da casa, onde morava a criança, na tentativa de fugir dos tiros. Os atiradores continuaram a perseguição, entraram no quintal da casa e acabaram acertando a menina.

Porém, segundo depoimento dos familiares, o pai de Alice estava conversando no portão de casa com o menor que era o alvo, e foi quando os criminosos chegaram e começaram atirar.

Imagem ilustrativa da imagem Mãe de Alice: “Não vou ver Alice crescer, ficar moça, casar, ter filhos”
Adolescente levado para depor |  Foto: Kananda Natielly

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