Jornalista Luiz Trevisan lança virtualmente livro de crônicas na próxima sexta
Uma seleção de crônicas e de impressões que vão de celibato a conversas de botequim é retratada no livro de estreia do jornalista, colunista do jornal A Tribuna, compositor e músico Luiz Trevisan.
Em “Resumo da Balada”, o autor capixaba, de 70 anos, relata experiência, curiosidades e traços de personalidades marcantes. No total, são 74 crônicas que o escritor selecionou em meio a 200 textos publicados entre 2016 e 2019, em jornais, revistas, livros, blogs e sites. Algumas inéditas.
Com 40 anos de jornalismo diário, Trevisan transita por diferentes temas nas crônicas – diversidade de gênero, delírios de uma vida numa ilha remota, conversas triviais nos elevadores, impessoalidade na bolha das redes digitais, relações virtuais, urbanização das cidades e seus impactos, novos costumes, memórias de viagens, futebol, música, literatura, cenas de cinema, bastidores da política e da cultura capixaba.
Entre as personalidades que ilustram alguns desses textos estão Gerson Camata, Roberto Carlos, Sérgio Sampaio, Danuza Leão, Rubem Braga, Chico Buarque, Garrincha, Tom Jobim, Guimarães Rosa, Van Gogh, Stephen Hawking e Jane Fonda.
O lançamento da versão digital será de forma virtual pelo site da Amazon (amazon.com.br) na próxima sexta-feira (10). Já o livro impresso estará disponível para venda no mesmo dia pelo site da editora Maré (editoramare.com).
“Quando houver condições, espero que a gente possa fazer um lançamento presencial. Com direito a abraços, música e ambiente mais respirável”, diz Trevisan.
"Sou um observador do cotidiano"
AT2 - “Resumo da Balada” reúne de conversa no elevador a bastidores da política. Como é transitar por temas tão diversos?
Luiz Trevisan - Sou um observador do cotidiano, do comportamento das pessoas. Já a política é um terreno pelo qual transito há muito tempo. Fui redator da coluna “Plenário”, de A Tribuna, por mais de 10 anos, até 2015, o que ampliou meus contatos. E sempre observei os bastidores da política, mesmo atuando em outras áreas, como economia e cultura.
O livro é dedicado a algum tipo específico de público?
À minha geração, pois falo de fatos e pessoas, famosas e anônimas, que fizeram a cena capixaba nas últimas décadas. E às novas gerações, pelo interesse histórico.
Tem muitos artigos conhecidos do público, outros inéditos.
Mesmo o que já foi publicado passou por releitura, com ajustes e atualizações. Escrever é também cortar, enxugar, resumir a balada.
Dos textos inéditos, uns inserem o ambiente trazido pela pandemia, outros abordam temas que não se encaixam muito na leitura diária de jornal e site. Por exemplo, “A ilha remota” narra prós e contras da vida no coração do mar, longe da fantasia clichê de dois amores numa cabana, entre coqueiros, ao lado da lagoa azul.
Várias personalidades são retratadas no livro. Das nacionais, qual despertou mais seu interesse?
Escrever sobre Rubem Braga, João Gilberto e Tom Jobim, por exemplo, é sempre muito fértil. O desafio é mostrar uma faceta diferente de cada um e de modo que motive o leitor. Flaubert dizia que seu sonho era escrever um romance sobre o “nada”. Ou seja, a forma de narrar pode ser mais importante do que o conteúdo.
E, das capixabas, são muitas experiências memoráveis?
Várias. De Gerson Camata, famoso também por seus “causos”, de Pedro Maia, repórter policial e cronista com quem fiz memorável viagem ao Pará ilustrada em um dos textos.
Não poderia faltar a turma da “capital secreta” (Cachoeiro), com seu bairrismo criativo e figuras como Roberto Carlos e Sérgio Sampaio.
O livro chega em momento crucial: pandemia e crise. Quando começou a escrevê-lo, tinha ideia dessas angústias mundiais?
O chamado “novo normal” é esquisito. Não gosto do termo, pois o mundo de antes não era “normal”, o do futuro também não será.
Vivemos, há tempos, em meio a grandes desigualdades sociais, corrupção, violência, exclusões raciais e de gênero, extremistas políticos e religiosos, desequilíbrio ambiental, robôs disseminando ódio. Tudo muito desafiador. A pandemia já mudou e vai modificar muitos hábitos. Porém, receio que a humanidade não dará o esperado salto evolutivo.
É o momento mais desafiador?
Além do coronavírus, estamos sendo contaminados por notícias falsas, nas redes sociais. E há um discurso de ódio pulsando, que impressiona pela amplitude.
Recentemente, o escritor francês Helios Molina disse que desconhecia a palavra “ódio” no vocabulário do brasileiro. Com tamanha intensidade, eu também desconhecia.
Qual o papel da cultura, da literatura, neste contexto?
A cultura sempre teve e terá o papel de decifrar contextos e apontar caminhos. Creio que a literatura precisa tão somente continuar seguindo aquela máxima do Tolstói, que dizia: “Cante a sua aldeia e você resumirá o universo”.
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