Isolamento social é teste emocional para as famílias
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Jornada dupla de trabalho, atividades domésticas e a educação dos filhos são algumas das ocupações que a maior parte dos pais tem durante o isolamento social. Neste período, as tarefas ficaram ainda mais intensas, já que muitas famílias estão sem rede de apoio.
Em função do excesso de atividades, alguns pais podem não dar a atenção devida ao ensino dos filhos. A neuropsicóloga Vanessa Bizzo Lobo, professora de Psicologia da São Judas, enfatiza que “a família que acompanha o ensino de perto terá bem menos queixas sobre o processo de aprendizagem”.
Para a neuropsicóloga, os pais devem aproveitar o atual momento para estarem mais envolvidos na educação escolar dos filhos.
“Alguns problemas de aprendizagem eram apontados pelos pais como incompetência dos educadores, mas, eles mesmos nunca tinham lido um livro com os filhos, nunca tinham falado sobre seu jeito de fazer a conta de multiplicação e nem compartilhado seu ponto de vista sobre um determinado assunto do capítulo de história”.
Vanessa destacou que, em casa, as crianças têm questionado o porquê de aprenderem certos assuntos, estimulando os responsáveis a irem atrás de respostas.
“Os pais foram atrás da informação para explicar que os processos formais de escrever, ler e falar auxiliam não apenas no domínio da língua culta, mas ajudam o filho a se fazer mais bem compreendido pelas outras pessoas”.
A pedagoga e coordenadora do curso de Pedagogia da Estácio, Sandra Raimundo, ressalta que a pandemia fez com que as famílias entendessem o papel delas na educação das crianças.
“A família deve resgatar aquilo que é dever dela, que é acompanhar o processo de ensino e aprendizagem dos filhos. Apesar de não ocupar o lugar do professor, ela tem um papel nesse processo”.
Sandra lembra ainda que a pandemia tem sido um teste emocional nos lares.
“A família tem entendido a importância de participar ativamente de estudos dos filhos. Acredito que ela compreende melhor o papel da escola, principalmente do trabalho do professor, na formação dos seus filhos”.
A mestre em Educação e escritora Tania Zagury afirma que, para acompanhar a educação dos filhos, é preciso que os pais tenham planejamento e organização. Ela também pontua que a melhor maneira de evitar conflitos é conversando.
Diálogo reduz insegurança
Dúvida recorrente entre as famílias é sobre como conversar sobre a volta às aulas presenciais com os filhos. Como o cenário ainda é incerto, alguns pais têm receio dessa conversa causar ainda mais ansiedade nas crianças.
Mas, segundo especialistas, falar sobre o assunto de forma honesta, explicando os processos como o porquê das aulas ainda não terem voltado, pode diminuir a insegurança das crianças. A educadora infantil Camila Queres recomenda que os pais tenham um diálogo honesto com as crianças.
“O importante é que esse diálogo aconteça, até porque as crianças estão vendo seus pais retornando ao trabalho, mais pessoas na rua, mais gente circulando. Não podemos deixá-las no escuro, isso sim geraria ainda mais ansiedade”.
Camila, que também é autora do livro “O guia da mãe moderna”, destacou que as incertezas fazem parte do aprendizado. “Negar isso seria mentir para a criança”.
“Controlar a ansiedade não significa negar a ansiedade. As crianças precisam aprender a lidar com sentimentos negativos. Precisamos equipá-las para lidar com o medo, a insegurança e a ansiedade. Situações como esta que estamos vivendo podem ser fontes de aprendizados para toda a vida da criança”, completou.
Já para a psicóloga e coordenadora do curso de pedagogia da Faculdade Multivix, Marcella Lellis, é preferível ter essa conserva somente quando as aulas forem começar. “Falar de uma possível volta e ela não acontecer, pode causar uma insegurança. As crianças e adolescentes têm os seus medos. Os pais devem ter a certeza, para aí, sim, conversar com seus filhos”.
Parceria entre pais e escola deverá ser mais intensa
Uma das mudanças mais intensas que a pandemia causou na vida das famílias, com filhos na idade escolar, foi os pais terem de auxiliar ainda mais as crianças com as atividades do colégio.
Para os especialistas, essa parceria entre família e escola deverá ser ainda mais intensa, quando as aulas presenciais voltarem.
“É interessante que se aproveite essa parceria na volta às aulas presenciais. Agora que os pais foram levados a acompanhar de perto o trabalho dos alunos, a ideia é conseguir levar isso adiante e fazer com que eles sigam participando mais do dia a dia da escola”, afirma Ana Ligia Scachetti, gerente pedagógica da Nova Escola.
Sonia Dias, coordenadora de implementação municipal do Itaú Social, observa que a relação entre família e escola se estreitou nos últimos meses e deve permanecer para que a transição das rotinas não seja difícil para a criança.
A psicóloga e assessora pedagógica do Laboratório Inteligência de Vida, Maira Maia, destaca que escolas e famílias deverão ter um intenso diálogo.
“Acredito que toda a comunidade escolar precisará adotar uma atitude mais acolhedora e aberta ao diálogo no cenário pós-pandemia. É fundamental compreender que será um momento sensível, carregado de diferentes emoções advindas de distintas experiências”.
“Assim como a escola precisará estar atenta às realidades das famílias, dos professores e demais colaboradores, o mesmo deverá acontecer das outras partes para com a escola”, ressalta Maira.
A doutora em Educação Edna Tavares salienta que o papel do professor será ainda mais importante. “Ele será peça chave para mediar esse novo ‘normal’’, pensando que o aluno trará ‘dentro da mochila’’, uma série de questionamentos, muita ansiedade e em alguns casos pouca motivação para estudos e novos projetos de vida”.
Para a mestre em Educação e escritora Tania Zagury é importante que a comunidade escolar entenda que todas as mudanças que têm acontecido servem como aprendizagem. “Será preciso mais compreensão e flexibilidade quando as aulas presenciais voltarem”.
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