Trump corta o fornecimento de inteligência militar à Ucrânia
Ataques de precisão a alvos na Rússia, por exemplo, ficam prejudicados de forma quase irremediável
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Os Estados Unidos aumentaram a pressão sobre a Ucrânia e cortaram o fornecimento de informações de inteligência para o país europeu empregar na resistência à invasão russa de seu território, iniciada por Vladimir Putin há três anos.
Com isso, o governo de Donald Trump pode colocar sob risco boa parte dos esforços de Kiev no campo de batalha, que dependem em grande parte de dados coletados por satélites, drones e aviões de reconhecimento que operam na região sobre e em torno da Ucrânia.
Ataques de precisão a alvos na Rússia, por exemplo, ficam prejudicados de forma quase irremediável, mas não só: movimentos de tropas e linhas de suprimento russas ficam mais difíceis de serem monitorados.
A medida foi confirmada, após relatos em veículos como o jornal britânico Financial Times, pelo diretor da CIA (Agência de Inteligência Central, na sigla inglesa), John Ratcliffe, em uma entrevista nesta quarta (5) à Fox Business Network.
"Eu acho que na frente militar e na de inteligência, a pausa segue", afirmou ele, ao ser questionado se a mensagem do presidente Volodimir Zelenski pedindo desculpas pelo incidente no qual foi humilhado pelo americano na Casa Branca mudava a decisão dos EUA de suspender a ajuda militar a Kiev.
Na véspera, Trump havia dito ter recebido uma "importante carta" do ucraniano, mas segundo a embaixadora da Ucrânia nos EUA, Oksana Makarova, ele apenas havia lido uma postagem no X com o mesmo teor.
Até aqui, isso afetava o envio de cerca de US$ 1 bilhão em armamentos já contratados no governo de Joe Biden, mas não havia informações sobre a sensível área de compartilhamento de informações de inteligência. O escopo da ação também é desconhecido, e a agência Reuters diz que pode ser parcial.
O vaivém também explicita o jogo de pressão de Trump para subjugar Zelenski a um acordo de paz que vai se desenhando como favorável a Putin, com quem o americano se alinhou ao iniciar negociações bilaterais sem a presença de ucranianos ou europeus.
Em seu discurso na noite de terça (4) ao Congresso, o presidente americano havia citado a carta de Zelenski e adotado um tom um pouco aparentemente mais conciliador: "Estou trabalhando sem medir esforços para acabar com o conflito terrível na Ucrânia", disse.
Já nesta quarta, a Casa Branca informou que a ajuda aos ucranianos pode voltar caso haja avanços nas negociações de paz, sem detalhar. Trump gosta de dizer que os EUA já enviaram US$ 350 bilhões em apoio militar e financeiro aos ucranianos, mas o Pentágono coloca o número em US$ 180 bilhões.
O mais conservador Instituto para Economia Mundial de Kiel, na Alemanha, fala que foram rastreados US$ 120 bilhões em ajuda até 31 de dezembro de 2024, 56% disso em armamentos e logística militar.
É um pouco menos do que países da Europa e a União Europeia deram, mas aí o grosso é assistência financeira —no campo militar, a segunda colocada do ranking, a Alemanha, enviou um quinto do montante americano.
Agora, os europeus correm para se rearmar e, assim, tentar ajudar Kiev. Não é um processo fácil, nem rápido, e nesta terça a Alemanha anunciou que chegou ao limite do que poderia fornecer aos ucranianos.
O plano anunciado pela Comissão Europeia é ambicioso, prometendo até € 800 bilhões em investimentos por meio de injeção de dinheiro e isenções fiscais na área de defesa, um valor que é o dobro do orçamento militar dos países da Otan exceto os EUA.
Mas, a esta altura, ele parece apenas um número. O impacto das ações deverá tomar tempo, de olho em ameaças futuras, e não há como a Europa substituir os EUA caso a guerra continue.
Um ponto que deve progredir é o do acordo de exploração mineral da Ucrânia, que Zelenski iria assinar com Trump na sexta. Embora sem nenhuma garantia de segurança futura após uma eventual trégua, o arranjo era visto em Kiev como uma forma de manter os EUA comprometidos com o país.
Nesta quarta, o assessor de Segurança Nacional de Trump, Mike Waltz, disse que deve haver avanço no tema "bem rapidamente". Ele voltou a dizer que, por ora, todos os aspectos da "relação de inteligência com a Ucrânia estão sendo revisados".
O Kremlin reagiu bem à carta de Zelenski, dizendo que é "algo positivo". E confirmou o que vinha sendo especulado: que as negociações diretas com os americanos incluem a espinhosa questão do acordo nuclear do Irã, com Moscou agindo de intermediário entre Washington e Teerã.
Em campo, a guerra segue: os russos anunciaram a tomada de mais uma cidade no leste ucraniano, e houve troca de ataques de drones na madrugada desta quarta.
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