Rússia diz que tensão na Venezuela pode ter 'consequências imprevisíveis'
Manifestação da Rússia ocorreu logo após Trump anunciar um bloqueio "total e completo" de todos os navios petroleiros venezuelanos sob sanção
A Rússia afirmou nesta quarta-feira (17) que as tensões em torno da Venezuela podem ter "consequências imprevisíveis para todo o Ocidente", em referência à escalada do conflito entre o país latino-americano e os EUA.
O Ministério das Relações Exteriores da Rússia disse esperar que se evite uma escalada ainda maior. Para Alexander Shchetinin, diretor do Departamento para a América Latina da pasta, a situação pode trazer riscos para todo o Hemisfério Ocidental e seria um erro crítico.
Ele acrescentou que o povo venezuelano atravessa "tempos difíceis". "Confirmamos nosso apoio às políticas do governo Nicolás Maduro, voltadas para a proteção dos interesses nacionais e da soberania da pátria", falou.
A manifestação da Rússia ocorreu logo após Donald Trump anunciar um bloqueio "total e completo" de todos os navios petroleiros venezuelanos sob sanção. Na rede Truth Social, o republicano disse que o governo venezuelano foi designado pelos EUA como "organização terrorista estrangeira" e justificou a decisão com acusações de terrorismo, tráfico de drogas, contrabando e tráfico de pessoas.
Há uma semana, o presidente russo Vladimir Putin já havia falado com Maduro ao telefone para reafirmar seu apoio. O presidente russo disse ao líder venezuelano que "os canais de comunicação direta entre as duas nações permanecem permanentemente abertos" e garantiu que a Rússia continuará apoiando a Venezuela.
Os dois líderes são aliados e anunciaram uma reaproximação em maio após um tratado de cooperação. Os países teriam assinado projetos russo-venezuelanos, especialmente nos setores econômico, energético e comercial -mas sem especificá-los.
ENTENDA O BLOQUEIO
Decisão foi anunciada uma semana após os EUA apreenderem um petroleiro na costa venezuelana. Isso, na prática, já vinha funcionando como um embargo informal. A partir de então, navios carregados com milhões de barris de petróleo permaneceram em águas venezuelanas para evitar o risco de apreensão.
Ontem a Venezuela havia denunciado ao Conselho de Segurança da ONU o "roubo" daquela embarcação. Os EUA apreenderam o petroleiro como parte de suas operações militares no Caribe, e Washington afirma que o navio era usado em uma "rede ilegal de envio de petróleo que apoia organizações terroristas estrangeiras". A Venezuela, por sua vez, chamou a ação de "ato de pirataria naval".
Ainda não está claro como o bloqueio será imposto na prática, nem se o governo americano usará a Guarda Costeira ou forças militares para interceptar embarcações. Nos últimos meses, os EUA deslocaram milhares de soldados e quase uma dúzia de navios de guerra para a região, incluindo um porta-aviões.
O país repudiou a decisão do republicano ainda ontem. A declaração foi dada pela vice-presidente, Delcy Rodríguez, em um comunicado à imprensa publicado na mídia estatal venezuelana.
Caracas argumenta que o bloqueio "revela as verdadeiras intenções" de Trump. "O presidente dos Estados Unidos pretende impor de maneira absolutamente irracional um suposto bloqueio militar naval à Venezuela com o objetivo de roubar as riquezas que pertencem à nossa Pátria", indicou.
ESCALADA RETÓRICA E MILITAR
Trump afirmou que a Venezuela está cercada por forças militares dos EUA. Segundo a CNN, o presidente disse que o país está rodeado pela "maior armada já reunida na história da América do Sul" e sugeriu que o contingente militar na região ainda pode aumentar.
O presidente dos EUA passou a classificar o governo Maduro como "regime ilegítimo" ao justificar o bloqueio. Ele acusou Caracas de usar receitas do petróleo para financiar tráfico de drogas, terrorismo, tráfico de pessoas, assassinatos e sequestros.
As autoridades de Washington afirmam travar um "conflito armado" contra os cartéis de drogas, mas não apresentaram evidências concretas do envolvimento das embarcações atacadas, o que levou a ONU, especialistas e ONGs a questionarem as operações. A campanha americana destruiu 26 lanchas e afeta especialmente a Venezuela. Trump insiste que o objetivo é combater o narcotráfico, enquanto seu homólogo da Venezuela afirma que a campanha é um pretexto para tentar derrubar o governo em Caracas.
Medida de ontem teve efeito imediato no mercado de petróleo. Os contratos futuros do petróleo bruto dos EUA subiram mais de 1% nas negociações asiáticas, para US$ 55,96 (R$ 308,30) o barril. No fechamento anterior, o preço havia atingido US$ 55,27 (R$ 304,50), o menor nível desde fevereiro de 2021.
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