Papa decide que mulheres poderão votar pela 1ª vez em reunião de bispos
A discussão sobre igualdade de gênero ganhou impulso especial na gestão de Francisco, que levou mulheres a ganharem protagonismo inédito no Vaticano
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O Vaticano anunciou nesta quarta-feira (26) que permitirá pela primeira vez que mulheres e leigos tenham direito a voto no próximo sínodo, marcado para outubro. A decisão representa mais um avanço do pontificado de Francisco em direção a uma igreja mais aberta e plural movimento contra o qual católicos conservadores têm marcado oposição de forma cada vez mais ferrenha.
O sínodo em andamento talvez seja o exemplo mais radical dessa busca. Instituído no Concílio Vaticano 2º, nos anos 1960, o evento funciona como uma espécie de consulta do líder sobre um assunto determinado. As discussões internas servem como base para que o papa redija uma exortação apostólica, documento que dá diretrizes sobre aquele tópico para o resto da instituição.
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A princípio, só bispos tinham direito a voto. Francisco inicialmente manteve a tradição, ainda que tenha ampliado o evento em direção à sociedade civil ao instalar etapas prévias de consulta em comunidades. Em outubro, porém, 70 "não bispos", incluindo padres, diáconos e leigos, também terão direito a voto.
Metade desses participantes deve ser, obrigatoriamente, formada por mulheres, e a presença de jovens também será valorizada. A ideia, segundo afirmaram os cardeais Mario Grech e Jean-Claude Hollerich respectivamente secretário-geral e relator-geral do sínodo ao portal de notícias Vatican News, é justamente reproduzir o mundo para além da igreja.
Além disso, cinco freiras se juntarão a cinco clérigos para representar as ordens religiosas, e os dez também têm direito a voto. Em 2021, Francisco já havia indicado pela primeira vez uma mulher para o cargo de subsecretária do sínodo, a freira francesa Nathalie Becquart.
Apesar das mudanças, Hollerich ressaltou que a grande maioria dos presentes no plenário ainda será de bispos e cardeais o evento, afinal, tem o nome oficial de Sínodo dos Bispos. "Não se trata de uma revolução, mas de um progresso", afirmaram ele e Grech. Mulheres também compareceram a sínodos anteriores, mas na condição de ouvintes, categoria agora extinta.
A discussão sobre igualdade de gênero ganhou impulso especial na gestão de Francisco, que levou mulheres a ganharem protagonismo inédito no Vaticano. Segundo dados da Santa Sé, a quantidade de mulheres que trabalham na Cúria Romana, isto é, a administração da igreja, quase quadruplicou desde a eleição de Francisco, em 2013, indo de 812 para 3.114. Sua presença em comparação com a de funcionários homens também aumentou em relação ao papado anterior e foi de 19,3% para 26,1%.
Mesmo assim, elas se queixam que o arcaísmo segue no catolicismo, seja na cúpula da igreja em Roma ou nas paróquias espalhadas pelo mundo. São as mulheres, geralmente irmãs consagradas, que servem padres, bispos e cardeais como empregadas domésticas, quase sempre sem nenhum direito reconhecido.
A possibilidade do diaconato feminino primeiro degrau na ordenação católica, seguido por padres e bispos tampouco avançou, embora o papa tenha criado uma comissão para discutir o tema em 2016. A igreja sustenta que apenas homens podem ser padres pois Jesus só escolheu homens como apóstolos.
Em 2018, durante o Sínodo dos Jovens, líderes de grupos dedicados a promover as mulheres em cargos de liderança protestaram contra o fato de que as representantes femininas na reunião não tinham direito de votar "como seus irmãos em Cristo". Uma petição com mais de 9.000 assinaturas foi entregue ao secretário do evento na época.
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