Israel faz maior ataque contra Líbano em 11 meses e mata alto membro do Hezbollah
Comandante Ibrahim Aqil, membro de alto escalão do Hezbollah, foi morto durante os ataques
Escute essa reportagem
Os mais intensos bombardeios de Israel contra o Líbano desde o início da mais recente onda de hostilidades entre os dois países, em outubro passado, mataram nesta sexta-feira (20) o comandante Ibrahim Aqil, membro de alto escalão do Hezbollah. A informação foi confirmada pelo Exército israelense e, mais tarde, pelo próprio grupo armado libanês.
"Os aviões de combate da Força Aérea de Israel realizaram um ataque seletivo na área de Beirute, eliminando Ibrahim Aqil, comandante da unidade Radwan", disse um porta-voz das forças militares em comunicado.
Segundo a nota, outras "figuras proeminentes da rede de operações e da cadeia de comando" dessa unidade, considerada de elite dentro da milícia extremista libanesa, também foram mortas na ação. O Hezbollah disse que Aqil, um de seus "grandes líderes", foi morto no ataque, sem dar mais detalhes.
O assassinato de Aqil adiciona mais uma camada de tensão no Oriente Médio, que vive o temor de uma guerra em larga escala —bombardeios entre as duas nações se tornaram constantes desde o começo do conflito na Faixa de Gaza, na qual o Hezbollah está ao lado do Hamas contra Tel Aviv.
Os confrontos deixaram dezenas de milhares de deslocados e centenas de mortos na fronteira entre os países, a maioria na parte libanesa. No início de junho, por exemplo, uma brasileira que morava em Saddikine foi ferida após explosões no sul do Líbano atingirem a casa de sua família.
O último ataque ocorre após uma semana de terror no país. Na terça (17), explosões quase simultâneas de pagers usados por membros do Hezbollah deixaram 12 mortos e quase 3.000 feridos, incluindo ao menos duas crianças. No dia seguinte, novas explosões, agora de walkie-talkies, mataram 25 e feriram 650. A ação foi atribuída por diversas fontes a Israel, que não comentou o caso.
Nesta sexta, o alto comissário da ONU (Organização das Nações Unidas) para Direitos Humanos, Volker Türk, reforçou em discurso no Conselho de Segurança que o direito internacional proíbe o uso de artefatos explosivos que pareçam objetos inofensivos. "É um crime de guerra cometer atos de violência destinados a semear o terror na população civil", disse.
Na mesma reunião do Conselho de Segurança, o ministro das Relações Exteriores do Líbano, Abdallah Habib, descreveu a explosão dos pagers como um ataque terrorista e um método de guerra "sem precedentes na sua brutalidade e terror".
Na quinta, o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, já havia dito que o objetivo do ataque havia sido "semear o terror no Líbano". "O método de ataque indiscriminado é inaceitável devido aos efeitos colaterais inevitáveis para toda a população, incluindo terror e o colapso de hospitais".
Na quinta (19), quando muitos dos mortos nas explosões eram velados em Beirute, Tel Aviv realizou ataques aéreos contra aproximadamente cem locais que seriam posições de lançamento do Hezbollah, em uma das maiores ofensivas contra o país vizinho em 11 meses de combates.
O grupo extremista lançou nesta sexta cerca de 140 foguetes, armamento normalmente com pouca precisão, contra o norte de Israel, pouco antes de Tel Aviv bombardear uma área residencial e densamente povoada do subúrbio da capital libanesa. Segundo o Exército, Aqil, o comandante morto, encontrava-se com membros de alto escalão da facção embaixo do prédio atingido.
De acordo com o Ministério da Saúde libanês, 12 pessoas foram mortas e dezenas ficaram feridas, incluindo crianças. A defesa civil do país procurava pessoas desaparecidas sob os escombros depois que dois prédios residenciais desabaram, em uma cena que locais descreveram como caótica.
É a segunda vez em menos de dois meses que Israel tem como alvo um comandante militar de alto escalão do Hezbollah em Beirute —em julho, um ataque aéreo israelense matou Fuad Shukr, o principal chefe militar do grupo.
O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, adiará por um dia a sua ida a Nova York, inicialmente prevista para terça-feira (24), devido à situação com o país vizinho. O premiê comparecerá à Assembleia-Geral da ONU. Seu retorno a Israel está previsto para o próximo sábado (28).
Oaumento dos bombardeios fez a Unifil, missão de paz da das Nações Unidas no Líbano, afirmar na manhã desta sexta que nas últimas 12 horas houve "uma intensificação pesada das hostilidades".
"Estamos preocupados com o aumento crescente da tensão ao longo da Linha Azul e instamos todos os atores a conter a situação imediatamente", disse o porta-voz da entidade, Andrea Tenenti, referindo-se à linha que delimita a fronteira entre o Líbano e Israel estabelecida em 2000 para marcar o limite da retirada de Tel Aviv, que havia invadido o vizinho em 1982 atrás de uma liderança palestina ali exilada.
O presidente dos EUA, Joe Biden, também insiste em uma saída diplomática. Nesta sexta, ele afirmou a jornalistas que Washington continuava a pressionar por um acordo de cessar-fogo em Gaza, apesar das tensões crescentes no Líbano. Quando questionado se um acordo era realista, ele respondeu que seria melhor ir embora, caso disse que não era realista.
"Muitas coisas não parecem realistas até que as façamos. Temos que continuar", afirmou.
Comentários