Israel amplia ofensiva em Rafah, no sul de Gaza, e Netanyahu diz que a 'invasão é inevitável'
Escute essa reportagem
Ataques aéreos israelenses mataram pelo menos 28 palestinos em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, na madrugada de sábado, horas depois de o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, pedir aos militares a retirada de centenas de milhares de pessoas da cidade antes de uma invasão terrestre.
Netanyahu não forneceu detalhes ou um cronograma, mas o anúncio provocou pânico generalizado. Mais da metade dos 2,3 milhões de habitantes de Gaza estão em Rafah, que faz fronteira com o Egito. Muitos deles depois de terem sido desalojados repetidamente pelas ordens de retirada israelenses, que agora cobrem dois terços do território de Gaza. Não está claro para onde eles poderão fugir em seguida - com o norte e o centro de Gaza ocupados, só restaria atravessar a fronteira para o Egito, que não permite a entrada de palestinos, a não ser em casos excepcionais.
Israel diz que Rafah é o último reduto do Hamas em Gaza depois de mais de quatro meses de guerra. "É impossível atingir o objetivo da guerra de eliminar o Hamas deixando quatro batalhões do Hamas em Rafah", disse o gabinete de Netanyahu na sexta-feira. "Pelo contrário, está claro que a intensa atividade em Rafah exige que os civis saiam das áreas de combate."
Ele disse que havia ordenado que os militares e as autoridades de segurança apresentassem um "plano combinado" que incluísse a evacuação em massa de civis e a destruição das forças do Hamas na cidade.
Ainda não está claro para onde os civis podem ir. A ofensiva israelense causou uma destruição generalizada, especialmente no norte de Gaza, e centenas de milhares de pessoas não têm casas para onde voltar.
Além disso, o Egito advertiu que qualquer movimento de palestinos através da fronteira com o Egito ameaçaria o tratado de paz de quatro décadas entre Israel e o Egito. A passagem de fronteira entre Gaza e o Egito, que está praticamente fechada, serve como o principal ponto de entrada para a ajuda humanitária.
Rafah tinha uma população pré-guerra de cerca de 280.000 pessoas e, de acordo com as Nações Unidas, agora abriga cerca de 1,4 milhão de outras pessoas que vivem com parentes, em abrigos ou em acampamentos de barracas, depois de fugirem dos combates em outras partes de Gaza.
Israel declarou guerra depois que milhares de militantes do Hamas atravessaram a fronteira com o sul de Israel em 7 de outubro, matando 1.200 pessoas e fazendo 250 outras reféns.
Uma ofensiva aérea e terrestre israelense matou cerca de 28.000 palestinos, a maioria deles mulheres e menores de idade, de acordo com autoridades de saúde locais. Cerca de 80% dos 2,3 milhões de habitantes de Gaza foram deslocados, e o território mergulhou em uma crise humanitária com escassez de alimentos e serviços médicos.
Crise em Rafah
O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, ordenou na sexta-feira, 9, que o Exército de Israel conduza operações na cidade superlotada de Rafah, no sul da Faixa de Gaza e fronteira com o Egito, com o "objetivo de derrotar o Hamas". O premiê pediu aos militares que elaborem um plano de retirada dos civis da cidade.
Rafah é considerada o último refúgio de cerca de 1,5 milhão de pessoas - quase toda a população da Faixa de Gaza - que, desde o início da guerra entre Israel e o Hamas, deixaram o norte, o centro e outras cidades do sul do território palestino por causa de bombardeios e incursões por terra do Exército de Israel.
"Há um sentimento crescente de ansiedade e pânico em Rafah, porque basicamente as pessoas não têm ideia para onde ir", disse Philippe Lazzarini, chefe da UNRWA -- agência da ONU que dá assistência a refugiados palestinos. O Egito não autoriza a entrada de palestinos em seu território, a não ser em casos excepcionais.
O porta-voz da ONU, Stephane Dujarric, afirmou na sexta, 9, que os civis palestinos em Rafah, na Faixa de Gaza, precisam ser protegidos, mas é contra um deslocamento forçado em massa de pessoas. "Estamos extremamente preocupados com o destino dos civis em Rafah. As pessoas precisam ser protegidas, mas também não queremos ver nenhum deslocamento forçado em massa de pessoas, o que é, por definição, contra a vontade delas. Não apoiaríamos de forma alguma o deslocamento forçado, que vai contra o direito internacional", disse Dujarric.
O Secretário-Geral do Conselho Norueguês para Refugiados, Jan Egeland, alertou para um "banho de sangue" caso as operações israelenses se expandam em Rafah. "Não se pode permitir uma guerra em um campo de refugiados gigantesco," disse Egeland.
O aumento constante do número de mortos palestinos - agora em quase 28.000 após quatro meses de guerra, de acordo com as autoridades de saúde de Gaza - contribuiu para o atrito entre Netanyahu e Washington.
Israel considera o Hamas responsável pelas mortes de civis na guerra, porque o grupo luta dentro de áreas civis e se abriga em áreas ocupadas por civis. Mas as autoridades dos EUA têm recuado, pedindo mais ataques cirúrgicos. O presidente Joe Biden disse esta semana que a resposta de Israel é "exagerada".
A notícia dos planos de invasão encerrou uma semana de atritos cada vez maiores entre Netanyahu e o governo de Joe Biden. Autoridades dos EUA disseram que uma invasão de Rafah sem um plano para a população civil levaria a um desastre.
Israel tem realizado ataques aéreos em Rafah quase diariamente, mesmo depois de ter dito aos civis nas últimas semanas que procurassem abrigo na cidade de Khan Younis, ao norte.
Entre sexta e sábado, três ataques aéreos a casas na área de Rafah mataram 28 pessoas, de acordo com uma autoridade de saúde e jornalistas da Associated Press que viram os corpos chegando aos hospitais. Cada ataque matou vários membros de três famílias, incluindo um total de 10 crianças, a mais nova com três meses de idade.
Em Khan Younis, o foco do atual combate terrestre, as forças israelenses abriram fogo contra o Hospital Nasser, o maior da área, matando pelo menos uma pessoa e ferindo várias, disse Ashraf al-Qidra, porta-voz do Ministério da Saúde de Gaza, administrado pelo braço político do grupo terrorista Hamas./ Fonte AP, AFP e NYT
Comentários