Guerra pressiona petróleo, mas Petrobras ainda não vê alta de preços
Em relatório divulgado nesta segunda, analistas dizem ver pouca probabilidade, neste momento, de impactos no balanço de oferta e demanda
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O conflito entre o grupo extremista islâmico Hamas e Israel pressiona as cotações internacionais do petróleo nesta segunda-feira (9), mas Petrobras e analistas dizem que ainda é cedo para avaliar o real impacto sobre o mercado e suas consequências sobre os preços dos combustíveis no país.
"É mais um evento de volatilidade [sobre os preços]", afirmou o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, em entrevista durante após organizado pelo Consulado Geral da Noruega no Rio de Janeiro.
"Vamos acompanhar, tentando mitigar a volatilidade para manter os preços mais ou menos estáveis."
A cotação do petróleo Brent, referência internacional negociada em Londres, chegou a subir quase 4% no pregão desta segunda, mas o mercado ainda vê forte componente especulativo, já que a região do conflito não tem produção relevante de petróleo.
Em relatório divulgado nesta segunda, analistas do banco Goldman Sachs dizem ver pouca probabilidade, neste momento, de impactos significativos no balanço de oferta e demanda e nos estoques de petróleo, que são os principais direcionadores do mercado.
A grande preocupação, porém, é com a escalada do conflito para outras regiões, principalmente, o Irã, um dos maiores produtores da região. O país vinha ampliando sua produção, lembram os analistas do Goldman Sachs, que estimam alta de US$ 1 por barril a cada 100 mil barris de petróleo iraniano a menos.
"As coisas podem piorar dependendo de um maior envolvimento do Irã que parece ter sido o principal apoiador do Hamas", diz o CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura).
"O receio no mercado de petróleo é o Irã fechar o Estreito de Ormuz e, nesse caso, teremos uma crise sem precedentes.
O CBIE avalia que as cotações internacionais do petróleo seguirão pressionadas durante a semana, revertendo tendência de recuo observada na semana passada, que trouxe alívio ao mercado depois que o Brent chegou a tocar os US$ 95 por barril.
A Petrobras decidiu não seguir a escalada do final de setembro e operou semanas com elevadas defasagens em relação às cotações internacionais. Nesta segunda, Prates afirmou que a política comercial da estatal tem condições de suportar cenários de grande volatilidade.
Ele não descartou, porém, aumentos nos preços internos caso as cotações do petróleo permaneçam muito tempo em elevados patamares. "Se tiver que ter ajuste, a gente vai fazer ajuste", afirmou, lembrando que gasolina e diesel vivem hoje situações diferentes no mercado global.
Enquanto o mercado de gasolina convive com excesso de estoques e margens comprimidas, o diesel enfrenta cortes de produção, estoques em queda e margens elevadas.
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Na abertura do mercado desta segunda, o preço médio do diesel nas refinarias da estatal estava R$ 0,44 por litro abaixo da paridade de importação calculada pela Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis). Na média nacional, a diferença era de R$ 0,32 por litro.
Já na gasolina, praticamente não há defasagem entre o preço médio praticado pela Petrobras e a paridade calculada pela Abicom. Na semana passada, o produto nacional chegou a passar dias mais caro do que os preços internacionais.
A Petrobras não mexe nos preços da gasolina e do diesel desde 16 de agosto. Nesse período, as cotações do petróleo dispararam para acima dos US$ 90 e o mercado de diesel foi pressionado pelo corte das exportações russas, já revisto.
Prates defendeu, porém, que a estabilidade dos preços internos dos combustíveis é um sinal de que a nova política comercial da Petrobras é bem-sucedida, ao combinar componentes nacionais de custos e eficiências logísticas da empresa para absorver parte da alta.
Embora não relevante na produção de petróleo, Israel tem participação no mercado global de gás natural, o que levou os preços futuros do combustível a dispararem nesta segunda, depois que o país pediu à Chevron que suspendesse operações em um campo por razões de segurança.
Segundo o Goldman Sachs, a parada do campo de retira do mercado cerca de 1,5% da oferta global de gás natural liquefeito, o que pode ampliar os riscos ao consumidor europeu, dependendo da duração do conflito.
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